Antigamente os contratos de
jogadores de futebol eram na base de luvas e salários. Um tanto na mão e tanto
por mês.
Tem o famoso contrato de
Leônidas da Silva no qual havia uns ternos como luvas. Até o tecido da
confecção estava explicitado. O Diamante Negro era chegado na elegância e tinha
o salutar hábito de papar umas brancas. Ambas as coisas lhe traziam a antipatia
da invejosa crônica.
Outro contrato que foi muito
falado, foi o da transferência de Gerson do Botafogo para o São Paulo. Dizia-se
na época que as luvas recebidas por Gerson davam pra comprar um apartamento na
Vieira Souto. Eu, garoto, vivia imaginando o Canhota com vista pro mar e
cercado de mulher gostosa por todo o lado.
Daqueles tempos para cá, uma
coisa mantém-se igual: os dirigentes continuam sendo uns empresários cheios da
grana. Mas a modernidade trouxe para cena o empresário espertinho e outro tipo
de empresa para o futebol. Com isso os contratos versam sobre direitos de
imagem, participação publicitária e o escambau.
O próprio clube estimula a
superexposição do atleta tomando-lhe o tempo dos treinamentos e de dedicação à
sua atividade principal.
Mas falo muito e não chego aonde
queria chegar. Queria falar do Ganso e do impasse de seu contrato com o Santos.
Ganso recusou, algum tempo
atrás, um desses contratos com mais cláusulas que a constituição e ficou
chupando o dedo. Ele e seus empresários espertinhos, sabem que rasgaram
dinheiro e hoje, devido às contusões e conseqüente queda de rendimento, ele já
não tem mercado nos grandes centros futebolísticos da Europa. Criou-se o
impasse. A diretoria do Santos, formada por esses neo-empresários, aplica
contra o rapaz as regras do mercado que não levam em conta o ser humano, e
vira-lhe as costas.
No último jogo do Santos em que
atuou, Ganso foi chamado pela torcida de mercenário. À saída do campo, ainda de
chuteiras e calções, Ganso demonstrou calma, alegou que recebia um dos salários
mais baixos no time mas disse que era assim mesmo, que a cultura de nosso país
era essa.
Ora bolas, seu Ganso, que eu
saiba, a única cultura que o senhor conhece, alem da brasileira, é a do
Vice-Reino do Grão Pará. Em todos os lugares se dá o mesmo. Quando O Figo se
transferiu do Barcelona para o Real Madrid, o Galego foi tratado como
mercenário e em seu primeiro jogo no estádio catalão ele não podia bater
escanteio tamanho o número de objetos jogados nele.
Há poucas semanas, aconteceu com
o Van Pierce que teve camisas com seu nome queimadas quando se transferiu para
o Manchester e ano passado com o Torres que deixou o Liverpool pelo Chelsea.
Então, seu Ganso, quando estiver
na bronca com seu time, com seus empresários espertinhos ou com a diretoria
inumana e boçal, não meta o Brasil no meio, não queira enxovalhar nossa
cultura, não fale do que não conhece e vá logo esquecendo esse negócio da
superioridade cultural européia pois por lá o senhor já não tem chance. Vá
pensando em aprender chinês ou árabe. Se oriente rapaz.
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