terça-feira, 18 de setembro de 2012

Ganso







Antigamente os contratos de jogadores de futebol eram na base de luvas e salários. Um tanto na mão e tanto por mês.
Tem o famoso contrato de Leônidas da Silva no qual havia uns ternos como luvas. Até o tecido da confecção estava explicitado. O Diamante Negro era chegado na elegância e tinha o salutar hábito de papar umas brancas. Ambas as coisas lhe traziam a antipatia da invejosa crônica.
Outro contrato que foi muito falado, foi o da transferência de Gerson do Botafogo para o São Paulo. Dizia-se na época que as luvas recebidas por Gerson davam pra comprar um apartamento na Vieira Souto. Eu, garoto, vivia imaginando o Canhota com vista pro mar e cercado de mulher gostosa por todo o lado.
Daqueles tempos para cá, uma coisa mantém-se igual: os dirigentes continuam sendo uns empresários cheios da grana. Mas a modernidade trouxe para cena o empresário espertinho e outro tipo de empresa para o futebol. Com isso os contratos versam sobre direitos de imagem, participação publicitária e o escambau.
O próprio clube estimula a superexposição do atleta tomando-lhe o tempo dos treinamentos e de dedicação à sua atividade principal.
Mas falo muito e não chego aonde queria chegar. Queria falar do Ganso e do impasse de seu contrato com o Santos.
Ganso recusou, algum tempo atrás, um desses contratos com mais cláusulas que a constituição e ficou chupando o dedo. Ele e seus empresários espertinhos, sabem que rasgaram dinheiro e hoje, devido às contusões e conseqüente queda de rendimento, ele já não tem mercado nos grandes centros futebolísticos da Europa. Criou-se o impasse. A diretoria do Santos, formada por esses neo-empresários, aplica contra o rapaz as regras do mercado que não levam em conta o ser humano, e vira-lhe as costas.
No último jogo do Santos em que atuou, Ganso foi chamado pela torcida de mercenário. À saída do campo, ainda de chuteiras e calções, Ganso demonstrou calma, alegou que recebia um dos salários mais baixos no time mas disse que era assim mesmo, que a cultura de nosso país era essa.
Ora bolas, seu Ganso, que eu saiba, a única cultura que o senhor conhece, alem da brasileira, é a do Vice-Reino do Grão Pará. Em todos os lugares se dá o mesmo. Quando O Figo se transferiu do Barcelona para o Real Madrid, o Galego foi tratado como mercenário e em seu primeiro jogo no estádio catalão ele não podia bater escanteio tamanho o número de objetos jogados nele.
Há poucas semanas, aconteceu com o Van Pierce que teve camisas com seu nome queimadas quando se transferiu para o Manchester e ano passado com o Torres que deixou o Liverpool pelo Chelsea.
Então, seu Ganso, quando estiver na bronca com seu time, com seus empresários espertinhos ou com a diretoria inumana e boçal, não meta o Brasil no meio, não queira enxovalhar nossa cultura, não fale do que não conhece e vá logo esquecendo esse negócio da superioridade cultural européia pois por lá o senhor já não tem chance. Vá pensando em aprender chinês ou árabe. Se oriente rapaz.  


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