sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Diabetes


                Não sei jogar xadrez. Quando a morte (aquela, do filme do Bergman) chegar, eu vou pedir é pra jogar porrinha.  Valendo a cerveja. E sou marraio. Acho que ela vem de lona, afinal, é a morte do filme do Bergman e deve ter o comportamento estereotipado do símbolo. Ela, em si, é o nada. Na certa, vem de lona.
                Vou montando minhas estratégias, pois a tenho visto por perto. (A morte do filme do Bergman) Fui diagnosticado com diabetes há uns meses e quando começaram os sintomas clássicos da doença, eles chegaram com tudo. Achei que ia empacotar. Felizmente, pelo menos para mim, melhorei com o tratamento. Mas meu pâncreas faliu e tenho de tomar insulina. Só uma picadinha na barriga duas vezes por dia. Até que é agradável, comparada com dor de dente e jeito na coluna.
                Foi minha mulher que, pesquisando na internet, diagnosticou minha doença. Desde então ela vive buscando dietas e tratamentos.
                Há muitos sítios com variada informação sobre o diabetes que, segundo dados do Ministério da Saúde, já atinge quase 6 milhões de brasileiros. A parte divertida fica por conta dos sítios que prescrevem dietas. Num deles, o médico dá sugestões de refeições com menos  calorias que as servidas em Auschwitz. Você morre de inanição antes do diabetes fazer o serviço.
                Na dieta desse doutor, há espaço para porções de frutas, mas com asterisco. Quando vamos ao pé do texto conferir a indicação, nos deparamos com seu conceito de porção de frutas. Diz o preclaro galeno:  _”Entenda-se por porção de frutas, a porção que você serviria, cerimoniosamente, para uma visita”. O que quis dizer o doutor, com isso? Quantos bagos de jaca eu deveria servir a uma visita? Quantas bananas? A pitanga vai com caroço? Sei lá. Fiquei com a impressão que o doutor recebe poucas visitas.
                Tem também os sítios naturebas que prescrevem coisas naturais e caseiras para melhorar a vida dos diabéticos. Em alguns deles, minha mulher encontrou receitas do leite de alpiste. O problema é que eles divergem entre si sobre a ordenha da herbácea.
                Muita coisa é sugerida para a saúde do diabético, com óbvio prazer sádico. Por exemplo: água de berinjela. A quem lhe ocorre amargar ainda mais a vida de um doente com tal sugestão?  Nesse caso, a receita manda deixar fatias de berinjela dentro d’água durante a noite e de manhã, em jejum, beber o líquido resultante. Só pode ser sacanagem. Se uma berinjela já é horrível mesmo disfarçada com nome francês e queijo por cima, imagina xixi de berinjela!
                Agora, entenda minha situação. Eu, um sujeito macho, espada, pernambucano honorário, tendo de falar de índice glicêmico, dietas e leite de alpiste. É triste. Mas tem pior.
                Acontece que ademais dos estragos no pâncreas, o diabético ganha de brinde unas cuantas cositas más. No meu caso, foi uma complicação no pênis. O urologista foi logo dizendo que, na maioria dos casos como o meu, era questão de cirurgia. Uma pequena cirurgia. Não sei se ele queria me tranqüilizar ou estava me sacaneando com esse negócio de ”pequena”. De qualquer modo, não guardei mágoa do doutor. Há que se entender que um cara que passa sua vida manipulando pintos enfermos tem de sacanear alguém de vez em quando. Mas não foi preciso a “pequena” cirurgia. Tudo se resolveu com uma pomadinha à moda antiga.
                Outra alegria que me trouxe a doença foi saber que anteontem ela fazia aniversário. Pois é, 14 de novembro é o Dia mundial do Diabetes. Não do diabético, do diabetes. Disso fiquei sabendo através do sítio da APAD, Associação Paranaense do Diabético Juvenil. Aliás, o que não falta são associações para defender meus direitos e interesses. Se eu morasse em Belo Horizonte poderia contar com a ASSODIBELO. Em Ouro Preto, com a ASSODIOP. Em Barbacena, além do hospício, tem a ASSODIBAR e por aí vai. Existe até mesmo uma Federação das Associações de Diabéticos do Estado de Minas Gerais, a FEADEMG.
                Como se vê, além de matar, o diabetes também gera siglas monstruosas. Efeito colateral.








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