Não sei jogar xadrez. Quando a morte (aquela, do filme do Bergman)
chegar, eu vou pedir é pra jogar porrinha.
Valendo a cerveja. E sou marraio. Acho que ela vem de lona, afinal, é a
morte do filme do Bergman e deve ter o comportamento estereotipado do símbolo.
Ela, em si, é o nada. Na certa, vem de lona.
Vou montando minhas estratégias, pois a tenho visto por
perto. (A morte do filme do Bergman) Fui diagnosticado com diabetes há uns
meses e quando começaram os sintomas clássicos da doença, eles chegaram com
tudo. Achei que ia empacotar. Felizmente, pelo menos para mim, melhorei com o
tratamento. Mas meu pâncreas faliu e tenho de tomar insulina. Só uma picadinha
na barriga duas vezes por dia. Até que é agradável, comparada com dor de dente
e jeito na coluna.
Foi minha mulher que, pesquisando na internet, diagnosticou minha
doença. Desde então ela vive buscando dietas e tratamentos.
Há muitos sítios com variada informação sobre o diabetes
que, segundo dados do Ministério da Saúde, já atinge quase 6 milhões de
brasileiros. A parte divertida fica por conta dos sítios que prescrevem dietas.
Num deles, o médico dá sugestões de refeições com menos calorias que as servidas em Auschwitz. Você morre
de inanição antes do diabetes fazer o serviço.
Na dieta desse doutor, há espaço para porções de frutas, mas com asterisco. Quando vamos ao pé do texto conferir a indicação, nos deparamos com seu conceito de porção de frutas. Diz o preclaro galeno: _”Entenda-se por porção de frutas, a porção que você serviria, cerimoniosamente, para uma visita”. O que quis dizer o doutor, com isso? Quantos bagos de jaca eu deveria servir a uma visita? Quantas bananas? A pitanga vai com caroço? Sei lá. Fiquei com a impressão que o doutor recebe poucas visitas.
Na dieta desse doutor, há espaço para porções de frutas, mas com asterisco. Quando vamos ao pé do texto conferir a indicação, nos deparamos com seu conceito de porção de frutas. Diz o preclaro galeno: _”Entenda-se por porção de frutas, a porção que você serviria, cerimoniosamente, para uma visita”. O que quis dizer o doutor, com isso? Quantos bagos de jaca eu deveria servir a uma visita? Quantas bananas? A pitanga vai com caroço? Sei lá. Fiquei com a impressão que o doutor recebe poucas visitas.
Tem também os sítios naturebas que prescrevem coisas naturais
e caseiras para melhorar a vida dos diabéticos. Em alguns deles, minha mulher
encontrou receitas do leite de alpiste. O problema é que eles divergem entre si
sobre a ordenha da herbácea.
Muita coisa é sugerida para a saúde do diabético, com óbvio
prazer sádico. Por exemplo: água de berinjela. A quem lhe ocorre amargar ainda
mais a vida de um doente com tal sugestão?
Nesse caso, a receita manda deixar fatias de berinjela dentro d’água
durante a noite e de manhã, em jejum, beber o líquido resultante. Só pode ser
sacanagem. Se uma berinjela já é horrível mesmo disfarçada com nome francês e
queijo por cima, imagina xixi de berinjela!
Agora, entenda minha situação. Eu, um sujeito macho, espada,
pernambucano honorário, tendo de falar de índice glicêmico, dietas e leite de
alpiste. É triste. Mas tem pior.
Acontece que ademais dos estragos no pâncreas, o diabético
ganha de brinde unas cuantas cositas más. No meu caso, foi uma complicação no
pênis. O urologista foi logo dizendo que, na maioria dos casos como o meu, era
questão de cirurgia. Uma pequena cirurgia. Não sei se ele queria me
tranqüilizar ou estava me sacaneando com esse negócio de ”pequena”. De qualquer
modo, não guardei mágoa do doutor. Há que se entender que um cara que passa sua
vida manipulando pintos enfermos tem de sacanear alguém de vez em quando. Mas
não foi preciso a “pequena” cirurgia. Tudo se resolveu com uma pomadinha à moda
antiga.
Outra alegria que me trouxe a doença foi saber que anteontem
ela fazia aniversário. Pois é, 14 de novembro é o Dia mundial do Diabetes. Não
do diabético, do diabetes. Disso fiquei sabendo através do sítio da APAD, Associação
Paranaense do Diabético Juvenil. Aliás, o que não falta são associações para
defender meus direitos e interesses. Se eu morasse em Belo Horizonte poderia
contar com a ASSODIBELO. Em Ouro Preto, com a ASSODIOP. Em Barbacena, além do
hospício, tem a ASSODIBAR e por aí vai. Existe até mesmo uma Federação das
Associações de Diabéticos do Estado de Minas Gerais, a FEADEMG.
Como se vê, além de matar, o diabetes também gera siglas monstruosas.
Efeito colateral.
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