domingo, 29 de dezembro de 2013

450 quilos de farinha


Há mais ou menos dois meses, na edição digital d’O dia, chamou-me à atenção uma foto de um cachorro encimada pela legenda: “Cão encontra drogas”. Fui ler a matéria e me dei conta de que o cachorro era um desses cães farejadores da polícia e que havia encontrado certa quantidade de drogas numa operação não sei em que morro do Rio. Estanquei. Afinal os cães farejadores não são treinados para isso mesmo? E encontrar drogas no morro é assim  tão raro que mereça uma reportagem com foto do animal e tudo mais?
Fiquei na dúvida se aquilo se tratava de total falta de assunto ou era uma dessas notícias plantadas para desviar a atenção dos desmandos policiais tão freqüentes na Cidade Maravilhosa. Deixei pra lá, mas fiquei pensando no quão distante do mundo real vive a imprensa brasileira.
Hoje, está quase impossível ler tudo o que se passa no mundo ou mesmo no país devido à rede de computadores. Basta entrar num sítio informativo de Belém, Quito, Montevideo ou Cochabamba para nos perdermos nas notícias mais curiosas, nas realidades mais interessantes. Sem embargo, nossos jornais, digitais ou não, são de uma pobreza franciscana quando de espelhar o mundo se trata.
Minha desilusão com a imprensa do país não é de agora, mas nosso jornalismo nunca deixa de involuir.
Veja se não é para surpreender-se: um helicóptero carregando 450 quilos de cocaina é apreendido pela PF. O dono da aeronave, um deputado filho de um senador parceiro de um candidato à presidência. E o que contam nossos jornais? Nada. No dia seguinte à apreensão da branca não encontrei nada além de umas notinhas com papo furado de advogados. Notinhas de seis, sete linhas.
Passado mais de um mês do achado, a notícia sumiu. Ninguém na imprensa fala mais no assunto, como se fosse algo que acontecesse todo dia. Mas não é. Mesmo com a estirpe de políticos que temos, não é todo dia que o helicóptero de um deles ( e muitos têm aeronaves) é apreendido portando 450 quilos de farinha.

 Mesmo que o helicóptero não fosse de um deputado, mesmo que esse deputado não fosse filho de um senador, mesmo que o voador fosse abastecido com recursos do dono, mesmo que o piloto fosse pago com dinheiro de seu patrão, ainda assim o fato mereceria mais destaque na imprensa. Porra, são 450 quilos de farinha!

Nenhum comentário:

Postar um comentário