domingo, 13 de novembro de 2016

Preconceito llinguístico





            Eu tinha um amigo cearense que dizia que ia verter água em vez de dizer que ia mijar. Em Belo Horizonte a gente dizia que a água do copo entornou e não que derramou. Com meu pai, que era carioca, aprendi a dizer que uma coisa estava escangalhada quando queria dizer que estava quebrada ou avariada. Aqui, no litoral de Santa Catarina, ninguém vai depressa, vai ligeiro. São formas de falar. Todas elas corretas. Debochar dessas formas ou desqualificá-las é preconceito linguístico. Creio que foi a muriçoca dos baianos, a água vertida dos cearenses, a ligeireza dos catarinas e outras expressões regionais, fora do linguajar predominante, que fizeram surgir o conceito de preconceito linguístico.
Mas agora, tem gente fazendo confusão. Já escutei e li que se um aluno chega na sala de aula dizendo "nós vai", isto deve ser aceito como expressão advinda de seu meio social e não deve ser corrigido. Se alguém diz "brusinha" devemos aceitar e pronto.
Esquecem os defensores do direito de falar errado que são geralmente os mais pobres que cometem esses erros. E os cometem não por gosto, mas por virem de lares e comunidades onde o letramento não chegou pela marginalização e pelo descaso de quem teria por obrigação a formação escolar do povo. E é essa gente pobre que mais precisa trabalhar para ganhar o pão. Será que algum desses que advogam pelo vale-tudo linguístico daria trabalho na sua loja para uma pessoa que dissesse que "as brusinha custa cem real"? Será que comandando algum órgão público aprovaria a promoção de um funcionário que costumasse falar "aqui a gente somos em dez" para um posto que tivesse contato com a imprensa? Creio que não. A mocinha não conseguiria o emprego na boutique e teria que ir trabalhar no botequim onde dizer que "a cerveja e os pastel é 20 real" não faz diferença e o funcionário público iria terminar seus dias numa sala dos fundos arquivando inutilidades.
Não penso que haja má fé nem mesmo má vontade naqueles que preconizam a aceitação dos erros mais grosseiros como expressões válidas da língua, mas me parece claro que há aí preconceito quanto à capacidade de assimilação e aprendizagem dos mais pobres. Preconceito inconsciente, talvez, mas preconceito.
A prevalecer esse tipo de visão teremos certamente no futuro mais gente discriminada pelo seu modo de falar do que temos hoje. Negar que se deve corrigir é negar o direito do outro aprender.


PS: Se você, minha amiga, que me honra com a leitura desse texto fizer a gentileza de corrigir meus desacertos com a gramática e minhas vírgulas mal postas, eu agradeço.

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