Em Copacabana, na Hilário de
Gouveia esquina de Nossa Senhora de Copacabana há uma igreja. Eu nunca soube
que santo a patrocina, sempre a chamei de Igreja de Nossa Senhora do Peg Pag. Isso porque estava ao lado de um
supermercado com esse nome. Não propriamente ao lado. Parecia que ambos, igreja
e supermercado, faziam parte da mesma estrutura arquitetônica. Mas não sou de
ir a igrejas. Vou a supermercados.
Costumava ir a esse Peg Pag da
igreja no final dos anos setenta. Ficava no caminho do trabalho para casa. Alem
do mais havia duas coisas lá que eu gostava; uns biscoitinhos de araruta que
desmanchavam na boca e uma máquina expedidora de café.
O engenho moia e empacotava o
café mediante a inserção de uma ficha que era adquirida de uma funcionária que
estava ao pé da máquina. Havia três fichas equivalentes ao peso desejado, 250,
500 ou 1000 gramas .
O cliente inseria a ficha, colocava o saquinho em posição e apertava o botão
correspondente ao valor pago. Havia um rolo de fita adesiva para selar o pacote.
Nunca mais vi dessas máquinas. Claro, é muito mais prático para o dono do
supermercado vender o café já empacotado. Economiza o espaço que a máquina
ocupa e o salário da vendedora de ficha. A tecnologia disponível naqueles
tempos não dava para mais. Hoje porém,
máquinas expedidoras fariam todo o sentido.
Imagine se você pudesse levar
sua embalagem vazia e enche-la com o produto idêntico que estaria armazenado
numa dessas máquinas. Produtos de higiene e limpeza, por exemplo. O pagamento
seria feito com cartão de crédito e ao passar pelo caixa o código de barra
apontaria “zero”, por já estar paga antecipadamente. Para quem não tivesse
cartão, o código de barra indicaria o preço. A economia em embalagens seria
enorme, o que poderia baratear o produto, alem de ser ecologicamente bom. A mão
de obra que ficasse ociosa pela diminuição do uso de embalagens, poderia ser
absorvida, mediante qualificação profissional, pela indústria de máquinas
expedidoras que deveriam ter tecnologia e fabricação nacionais.
Claro que isso não interessaria
nem aos supermercados nem aos fabricantes. Com a diminuição do preço dos
produtos, diminuiria também o fluxo financeiro ainda que o lucro gerado pudesse
ser idêntico e até maior. Mas já faz muito tempo que comércio varejista é muito
mais do que comprar no atacado e vender no varejo com a margem de lucro devida
e uso do prazo de pagamento como fator de ganho. Não é interessante para o
comércio movimentar volume igual de produtos com menor movimentação de
dinheiro. Isso dependeria de leis que obrigassem comerciantes e industriais a
trabalharem para o bem comum.
A tecnologia disponível poucas
vezes é usada em proveito do cidadão. Postos de gasolina economizam em mão de
obra usando bombas que são operadas pelo próprio cliente. Os bancos obrigam
seus correntistas a usarem os caixas eletrônicos diminuindo a necessidade de
bancários. Restaurantes populares usam e abusam do auto-atendimento em
detrimento dos garçons. Nada disso tem impacto positivo no preço ao consumidor.
O fato é que há tecnologia que pode melhorar
as relações de consumo e contribuir para o ambiente. Mas isso não é usado.
Preferem, ambientalistas e donos de supermercados, acusarem as sacolinhas
plásticas de vilãs da poluição ambiental. Ao lado dos fumantes, são os grandes
inimigos a serem combatidos.
Algum tempo atrás escutei num programa de
televisão que uma grande rede de supermercado gastava 5 milhões de reais por
ano com as sacolas.. Não avalizo o número, afinal já escutei todo tipo de
aberração numérica em nossos telejornais. Diria apenas que os varejistas gastam
uma nota preta para cumprir a lei que os obriga a entregar o que vendem,
embalado. Ou seja, ninguém tem mais interesse na extinção dessa obrigatoriedade
do que eles. Os ambientalistas vão atrás.
A maneira de levar rapidamente
as vilãs para reciclagem é tão óbvia que temo estar desperdiçando seu tempo com
a explanação. Mas vá lá. Bastaria um simples sistema de troca. 100 sacolinhas
valeriam um quilo de sal, 150, um quilo de feijão, 200, um quilo de arroz ,
250, uma lata de óleo e assim por diante. Isto valeria apenas para produtos da
cesta básica e em quantidades compatíveis com o consumo familiar. Os governos
estaduais criariam centros de recepção dessas embalagens. Centros fixos onde
fosse possível e centros móveis que funcionariam nos fins de semana em
estacionamentos de repartições públicas, escolas e outros espaços ociosos. O
importante é que houvesse um grande número deles. Os clientes que levassem as
sacolas usadas receberiam um comprovante que poderia ser usado como moeda em
qualquer supermercado. Como teriam um código de barra só poderiam ser trocados
pela mercadoria correspondente. Aposto que não veríamos mais sacolinhas voando
por aí e devido à situação econômica de grande parcela de brasileiros, até mesmo
os lixões se veriam livres delas. Os custos poderiam ser divididos entre o
governo federal e os próprios supermercados. Os governos estaduais e
prefeituras entrariam com local de coleta e mão de obra respectivamente.
Sistemas assim foram usados até
bem pouco tempo. Para combater a sonegação de impostos, governos estaduais
trocavam notas fiscais por ingressos nos estádios de futebol ou faziam sorteios
de automóveis dos quais participava quem houvesse trocado suas notas fiscais
por um bilhete numerado.
Em algumas cidades brasileiras
já está proibida a entrega de mercadorias em sacolas plásticas. Claro, proibir
é sempre mais fácil. Principalmente quando o paciente da proibição está de
acordo. Resta rezar para Nossa Senhora do Peg
Pag para que mais esta bobagem proibicionista não ganhe força e que o
ministério público atue, fazendo valer a lei que obriga comerciantes a
entregarem o que vendem devidamente embalado.Que eu saiba, esta lei continua
vigorando.
Eu conheci o Peg-Pag e acha va o maior barato. Voltando aos anos 70, excluindo os anos de chumbo, td. era mais fácil.
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