segunda-feira, 24 de março de 2014

A direita juvenil: naftalina e esteroides


Sei que os mais jovens vão descrer do vou dizer, mas posso garantir: _Houve um tempo em que a revista Veja trazia matérias jornalísticas. Lembro de uma em especial. Foi no tempo da redemocratização e tratava do grupo de esquerda de linha trostkista que se chamava Liberdade e luta (Libelu). O título da matéria que, se não me engano, foi capa do periódico, era: “O discreto charme da esquerda adolescente”.
Oriunda do movimento estudantil, a Libelu marcou época na reconstrução da UNE e da UBES. Vários de seus quadros estão hoje no PT. Outros, como Demétrio Magnoli, Mirian Leitão e Reinaldo Azevedo, militam nos meios de desinformação. Como se vê, onde a Libelu plantou suas rosas juvenis, nasceu chuchu, jiló e abobrinha.
Hoje, pouco ou nada resta daqueles sonhos da esquerda adolescente. O que mais se aproxima é o movimento Black Bloc, muito mais movido pela desilusão do que pela esperança.
E tem a direita juvenil. Claro, não se pode falar de seu discreto charme, pois ela não tem. Nem discreto nem espalhafatoso. Seu ideário recende a naftalina, seus líderes, ainda desconhecidos, admiram Bolsonaro, Caiado e os policiais que massacram favelados.
 Na direita adolescente encontramos de tudo, desde papa-hóstias saídos da facção carismática da igreja católica até ateus nerds e aprendizes de psicopatas. Há também os seguidores de Malafaia, os fãs de Rachel Sherazade, neonazistas de cabeça raspada e linchadores movidos a esteroides. Sem esquecer, é claro, dos sertanejos universitários e dos evangélicos de todas as seitas. Entre os politizados, há os que pregam o golpe militar e os que querem refundar a Arena.
Mas se há o que os separa, há o que os une. O racismo, expresso nas diatribes contra o sistema de cotas nas universidades, é um desses elos. Os recentes casos de racismo em estádios de futebol, estão ligados, pode estar certa, à ascensão dessa nova e juvenil direita.  E não só de sua ala neonazista.
Outro ponto que une as várias facetas da direita imberbe é o anticomunismo, a luta contra o inimigo vermelho. A meninada que trilha pelos caminhos sombrios de Plínio Salgado e Diogo Mainardi, assim como a grande maioria da meninada em geral, está mais ocupada com os joguinhos eletrônicos, o corpo sarado e com as séries de TV, portanto não lê. Qualquer texto com mais de 200 palavras é ignorado ou incompreendido pelos neo direitistas. Ainda que os bancos estejam faturando como nunca, que os latifundiários concentrem mais e mais terras e o parque industrial do país funcione a pleno vapor, a direitinha pensa que o país está a caminho do comunismo. Não há dados, informações ou fatos que os convença do contrário.
A homofobia, antes só explicitada por cabeças raspadas e fundamentalistas pentecostais, agora faz parte da caracterização da direita imberbe. A igualdade de direitos dos homossexuais é chamada de ditadura gay pelos defensores da ditadura militar.
Também as políticas sociais do governo, especialmente o Bolsa Família, deixam indignados a todos que compõem a direita coca cola. E ver gente de origem humilde comprando carros ou viajando de avião os tira do sério. Para os discípulos de Lobão e Olavo de Carvalho (de quem não conhecem nenhum escrito), a nova classe média é a culpada pelo trânsito caótico das grandes cidades e pelas filas nos aeroportos.

E ontem, lá estavam eles ao lado de outros malucos de mais idade na marcha da família com Deus pela liberdade. Eram poucos, é verdade, afinal nos dias interessantes que vivemos e em se tratando de jovens, a direita adolescente vive preferencialmente atrás do computador vociferando através das redes sociais contra Che Guevara, a guerrilheira Dilma e o sindicalista Lula. Para eles a internet é a máquina do tempo e a rua, o território hostil dos demônios comunistas defensores dos direitos humanos.

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