segunda-feira, 24 de março de 2014

Gol contra


Segundo ouvi da imprensa especializada, no jogo contra o Botafogo de Ribeirão Preto, o time do Santos marcou o gol número 12.000 de sua história. Esse feito dá à equipe praiana a primazia em número de tentos marcados em todo o mundo.
Há inclusive quem diga que o gol 12.000 já havia sido convertido há mais tempo. Questão de estatística. Não importa. O fato é que o Santos, um clube fundado em 1912 está à frente de outros, fundados décadas antes, no quesito artilharia.
Não sou de fiar-me na nossa imprensa, tampouco esse negócio de “é o maior” me interessa. Do Oscar ao Prêmio Nobel, não me interessa.
Mas temos nesse número redondo e grosso, um feito a ser elogiado: 12 mil vezes o goleiro adversário foi ao fundo das redes colher uma bola enquanto uns caras de branco saltavam e se abraçavam. Desses 12 mil gols, mais de 1000 foram de Pelé ou seja, foram gols do Brasil, ou melhor ainda, foram gols dos brasileiros.
Mas como disse, não me interessa tanto assim a primazia do Santos e sim um fato: o autor do gol 12.000 foi o Gabriel, um menino formado nas divisões de base do Santos. Mais uma vez o Santos revela um jogador promissor. Foram muitos os jogadores formados na Vila Belmiro. Nem todos se tornaram craques, mas o clube deu a vários jovens uma profissão digna. Muitos outros clubes fizeram e fazem o mesmo.
Em outro jogo do campeonato paulista, eu vi atuando o Rodrigo Tiui, formado nas Laranjeiras. Tiui, que despertou muitas expectativas quando foi lançado, não se tornou um milionário do futebol, não foi para a Europa encher os bolsos. Joga num time do interior paulista, mas joga, tem um salário, tem uma profissão.
Fora das duas principais divisões do futebol brasileiro a vida de boleiro é dura, os salários baixos, a irresponsabilidade de cartolas, o calendário que deixa os atletas desempregados grande parte do ano e outras mazelas, fazem dessa profissão uma profissão de risco. No entanto sempre há o sonho e algumas oportunidades.
O movimento Bom Senso Futebol Clube tem em sua pauta de reivindicações, a racionalização do calendário e o fair play financeiro para que os jogadores que trabalham em times de menor expressão possam ter mais garantias de emprego.
Mas se temos clubes que ainda trabalham na formação de atletas e esse movimento de jogadores que promete ser um divisor de águas no futebol brasileiro, temos também nossos dirigentes politiqueiros e interesseiros. Temos na CBF uma estrutura arcaica de poder voltada apenas para negócios quase sempre escusos.
Quando atua a entidade máxima do futebol é para privilegiar algum desses negócios. E o grande negócio das transferências internacionais deixa sempre um cascalho aqui e ali.
A última da CBF foi permitir que os times coloquem em campo até cinco jogadores estrangeiros. Com o futebol de nossos vizinhos em petição de miséria, fica fácil imaginar que qualquer clube brasileiro vai visar o mercado sul-americano em busca de pé de obra barato deixando de investir nas categorias de base. Agentes e empresários estão eufóricos. E a nova leva de estrangeiros, de qualidade futebolística duvidosa, já começou a desembarcar no país fechando a porta da oportunidade para os meninos daqui que sonham em ganhar a vida chutando uma bola.

Não li nem ouvi nenhum órgão da imprensa criticar a iniciativa nefasta da CBF. Pelo contrário, o silêncio sobre o tema, que nem de longe é desprezível, mostra bem que a imprensa esportiva se importa com tudo que se refere ao futebol, menos com o jogador.

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