sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Nelson Rodrigues e o futebol.







A relação de Nelson Rodrigues com o futebol é profunda. Não só pelas crônicas que escrevia, como pelo fato de ser realmente torcedor. Ao contrário do que acontece hoje,com os cronistas e comentaristas esportivos que preferem ostentar uma irritante e suíça neutralidade, Nelson fazia de seu amor pelo Fluminense o próprio motivo da crônica.
Nelson escreveu sobre futebol durante uma de nossas épocas de ouro, entre os anos 50 e 70. Quando apareceu a seleção húngara, pouco depois de nosso fracasso em 50, Nelson foi um dos poucos que não se deixou levar pelo oba oba em torno dos magiares. Referia-se ao time de Puskas e companhia como a seleção húngara do Armando Nogueira, este sim, apologista da superioridade gringa.
Além de seu amor pelo Fluminense, Nelson cultivava outra paixão esportiva; a Seleção Brasileira. Sua crônica após a vitória na Suécia, é das mais belas páginas do gênero. Nelson amava a Seleção porque admirava o jogador brasileiro, o homem brasileiro, com todos os defeitos e contradições.
Mas o que mais me fascina na relação de Nelson Rodrigues com o futebol é mesmo a paixão clubística. Se na crônica jornalística essa paixão desafia os fatos, em suas peças e romances ganha ares de deboche.
Em “A falecida”, Tuninho, o marido a quem a protagonista trai no banheiro de uma lanchonete enquanto ele espera na mesa, é vascaíno fanático e a peça tem seu final num jogo Vasco e Fluminense com ele soltando um “casaca” enquanto a mulher é enterrada.
O Zózimo de “Engraçadinha”, que casou-se com a protagonista em circunstâncias mais que humilhantes e é traído por ela, é flamenguista roxo.
Nenhum dos dois personagens tem um mínimo de grandeza. São criaturas levadas pelas circunstâncias, encarnam o lado obscuro da alma brasileira com seu fracasso e infelicidade conjugal. Portanto não poderiam ser tricolores. Nelson sacaneia, no melhor estilo carioca, os adversários.
Nelson Rodrigues não enxergava bem, muito pelo contrário. Conta-se que ao final de cada jogo que assistia no ex-Maracanã, ele perguntava a quem o acompanhava:_”O que nós achamos do jogo?” Nelson torcia com o coração mais que com os olhos e aquele “nós” da pergunta, no dia seguinte se transformava numa visão única e pessoalíssima em sua coluna.

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