sábado, 18 de agosto de 2012

Nelson Rodrigues







A proximidade do centenário de Nelson Rodrigues inunda os meios de comunicação com esse autor e personagem que é um dos mais ricos de nossa literatura.
Livros que analisam sua obra são lançados. Na televisão,  programas especiais são exibidos. Nelson está sendo lembrado como merece. Ou não.
Acontece que muito do que se diz sobre Nelson Rodrigues omite o principal. A culpa é da fragmentação das análises. Não se pode falar da obra teatral de Nelson Rodrigues sem lembrar de sua imensa contribuição como cronista, pois se no seu teatro “seus personagens pecam para que nós não pequemos” como definiu o próprio autor, na crônica, Nelson se expõe como o moralista que sempre foi. Moralista no mais amplo e melhor sentido.
É na crônica rodrigueana que encontramos o homem que irá modelar os personagens teatrais, romanescos, folhetinescos que durante mais de meio século vêm mexendo com o cérebro e as tripas dos brasileiros. Nelson talvez tenha sido o autor que mais se mostrou ao público como ser humano. Longe da torre de marfim, ele foi um homem que escrevia.
Quem se perde nos aspectos formais de sua obra, perde o que há de melhor em Nelson Rodrigues.
Num desses programas de TV que tentaram homenageá-lo, umas pessoas que pareciam muito entendidas davam suas opiniões sobre o teatro de Nelson Rodrigues. Mesmo com o estilo fragmentário do programa, com muitos cortes desnecessários, deu para entender a opinião que uma senhora tinha sobre o autor. Dizia ela que, se vivesse, Nelson teria a faca e o queijo na mão com tantos assassinatos mostrados ao vivo, estupros e outras coisas mais. “Ele nadaria de braçada” concluiu. Ora, essa senhora estava confundindo Nelson Rodrigues com Datena. Estava repisando a opinião do público burguês e da censura que viam em Nelson Rodrigues um tarado, um pervertido, um lúbrico. 
Se esta “especialista” tivesse se debruçado sobre a crônica de Nelson Rodrigues, fonte fundamental para entender sua obra teatral, ela saberia que o autor de “Vestido de noiva”, longe de estar nadando de braçada, estaria sofrendo. Não que ele fosse um otimista que acreditasse na redenção do ser humano nem nada parecido, mas Nelson via os monstros que nos habitam com terror. Conviver com tais monstros não significa absolve-los ou redimi-los. Significa apenas reconhece-los.
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