quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O bom ladrão


Dois ou três meses atrás, eu li que um de nossos políticos havia afanado uma grana dos cofres públicos. Não lembro qual era o esquema nem qual a formação de sua pequena quadrilha. Mas era afano. Esqueci se o sujeito era da situação ou da oposição. Sei que roubou e foi pego numa operação de não sei que polícia.
 Nesse ponto você deve estar pensando que assim não pode, que assim não dá. Que já que está perdendo seu tempo para ler o que escrevo, o mínimo que eu poderia fazer era ser um pouco mais preciso ao relatar um episódio, ao contar um caso. Você quer nomes, datas, endereços. Que assim como escrevo parece fuxico.
Mas, por favor, minha amiga, não se irrite, deixe que me explique. Acontece que o afanâncio a que me refiro levou do erário apenas 8 milhões. E ainda teve de dividir, pagar umas propinas, dar um cala boca aqui, outro ali. Molhar umas mãos. Convenhamos, para os padrões nacionais, é quase um pobre coitado, um ladrão de galinhas digno de pena e até mesmo de perdão. Sua história repercute pouco, foge à memória. Daqui a pouco ninguém há de lembrar-se da merreca levada clandestinamente.
Não sei o que o levou a roubar tão pouco; se a oportunidade escassa devido à grande concorrência ou o senso de honestidade, sim, de honestidade e parcimônia digna de um puritano.
                 Podemos pensar que, neófito, esqueceu-se de calçar o surrupio com notas fiscais frias ou algum contrato registrado em cartório. Daí, o terem descoberto no ato da pequena rapinagem.
                Quem sabe não foi alguma necessidade premente que o levou à subtração e ao descuido? Talvez uma filha estudando fora em alguma universidade cara, ou um filho precisando de uma caranga importada, os peitos novos da mulher ou a enfermidade do cachorrinho da família a exigir-lhe um desembolso não programado. Não sei. O certo é que o homem roubou pouco, quase nada.
Diferentemente fez a quadrilha que atuava junto à prefeituras, governos estaduais e se ramificava no Ministério do Trabalho. Essa gente fez um serviço profissional, estima-se o rombo em mais 400 milhões. A operação deflagrada pela Polícia Federal, que pôs fim ao esquema, apreendeu carros de luxo, um helicóptero e muita grana, parte, é claro, em moeda estrangeira.
O esquema não trás novidades; Uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), que é uma espécie de ONG turbinada, convênios com órgãos públicos, licitações fraudadas, superfaturamento, serviços que sequer eram prestados etc. Gente graúda metida. Gente do Ministério do Trabalho, gente próxima ao ministro. Tem até quem já foi ministro interino no negócio.
 Bem, era aqui que eu queria chegar.
Como sabemos, a única coisa que se aprende com a lição da história é que não se aprende nada com a lição da história. Esse caso repete aquele que deu origem às denuncias do mensalão. Lá eram os Correios entregues de porteira fechada ao PTB de Roberto Jefferson e seus blue caps, no caso atual é o Ministério do Trabalho dado nas mesmas condições ao PDT.
É o segundo ministro da pasta no Governo Dilma que se vê em meio à denúncias de irregularidades (desculpe o eufemismo), ambos do mesmo partido. As medidas de praxe foram tomadas: alguns funcionários denunciados foram exonerados. Funcionários comissionados, há que ressaltar. Funcionários escolhidos, supostamente, pelo próprio ministro. Aliás, foi  Manoel Dias quem nos brindou com a versão infantil do caso. Disse o ministro que seu ministério não tem condições de fiscalizar os convênios firmados e que apenas repassa as verbas para os governos estaduais e prefeituras que são, segundo ele, quem paga pelos serviços prestados pela entidade conveniada.
Ora bolas, se o papel do ministério é tão secundário, por que seus funcionários estão sendo investigados? Como que um ministro pode alegar que não sabe o que assina ou assina sem saber o que é feito de repasses milionários de recursos?
Esse é um típico caso para demissão do titular do ministério. Na melhor das hipóteses o Ministro Manoel Dias escolhe mal pra burro quem o assessora. A substituição do ministro talvez se dê, mas só depois de muitas negociações que não levarão em conta os interesses do país nem o histórico recente do PDT e sim o apoio que o partido dá ao governo em troca de um ministério para acomodar suas nulidades e profissionais da fraude. É quase certo que o Ministério do Trabalho permanecerá nas mãos do partido que permitiu, para se dizer o mínimo, a fraude gigantesca.
Como vê, minha amiga, aquele pobre homem que há uns meses atrás precisou levar uns míseros 8 milhões de algum órgão público, era apenas uma vítima das circunstâncias, um pai de família cioso, um cidadão que merece nossa compreensão e o perdão da justiça.





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