sábado, 7 de setembro de 2013

Ô sorte!


Quando apareceram os CDs no Brasil, eu me lembro de ter ouvido a entrevista de um músico dizendo que após escutar as gravações naquela nova tecnologia, tivera vontade de quebrar tudo que ele havia gravado em vinil. Me pareceu um daqueles ataques de frescura incorrigíveis. O cara gostava, e gosta, de dar uma de perfeccionista. O pior é que teve gente que não resistiu ao deslumbramento e quebrou mesmo seus vinis, seus toca-discos. Imagino que hoje roam um arrependimento mais duro que uma rapadura.
No início da indústria fonográfica o primeiro grande vendedor de discos foi Caruso, o tenor italiano. Gente que freqüentava teatros e salas de concertos comprava seus discos e não reclamava do som dos 78 rotações que giravam nos gramofones. Mas com o advento dos CDs nosso músico teve o ataque e queria quebrar tudo.
 Os discos de vinil eram uma maravilha. Não só pelo som com aquele ligeiro chiado, como  também por seu formato, mais difícil de armazenar, é verdade, mas que proporcionava espaço para lindas capas e, nas produções mais cuidadas, para os encartes que traziam as letras das canções e a ficha técnica.
Foi lendo os encartes que fiquei conhecendo os nomes dos grandes músicos que acompanhavam os nossos maiores cantores e cantoras. Um desses nomes guardei desde sempre: Wilson das Neves. Gosto desse tipo de sobrenome que faz menção às coisas da natureza. Minha avó paterna se chamava Amélia das Rosas Gomes. O nome de Wilson entrou para as minhas preferências e jamais o esqueci.
Meses atrás o vi num programa de TV, o Samba na Gamboa. Falava sobre seu disco e cantava seus sambas. Eu não o tinha como cantor e fiquei maravilhado com sua voz, seu balanço e os sambas que gravou. Claro que quando o “descobri” como cantor seu disco já havia ganhado vários prêmios e ele já estava gravando outro. Eu tenho esse costume de descobrir coisas e pessoas já conhecidas de todos há muito tempo.
Entre os sambas de Wilson das Neves, que passei a escutar quase todos os dias, está uma parceria dele e Paulo César Pinheiro: “O dia que o morro descer e não for carnaval”.  Este samba é um eloqüente exemplo da verve cronista de nossa música popular. Nele o poeta alerta, propõe, informa, critica. Tudo dentro do ritmo que move os pés e as cadeiras. A letra é contundente, o balanço irresistível.
Virei fã do Wilson das Neves cantor que em outro de seus belíssimos sambas afirma:_ “O samba é meu dom”.  Bota dom nisso.


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