Quando
apareceram os CDs no Brasil, eu me lembro de ter ouvido a entrevista de um
músico dizendo que após escutar as gravações naquela nova tecnologia, tivera
vontade de quebrar tudo que ele havia gravado em vinil. Me pareceu um daqueles
ataques de frescura incorrigíveis. O cara gostava, e gosta, de dar uma de
perfeccionista. O pior é que teve gente que não resistiu ao deslumbramento e
quebrou mesmo seus vinis, seus toca-discos. Imagino que hoje roam um arrependimento mais duro que uma rapadura.
No início da indústria fonográfica
o primeiro grande vendedor de discos foi Caruso, o tenor italiano. Gente que
freqüentava teatros e salas de concertos comprava seus discos e não reclamava
do som dos 78 rotações que giravam nos gramofones. Mas com o advento dos CDs
nosso músico teve o ataque e queria quebrar tudo.
Os discos de vinil eram uma maravilha. Não só
pelo som com aquele ligeiro chiado, como também por seu formato, mais difícil de
armazenar, é verdade, mas que proporcionava espaço para lindas capas e, nas
produções mais cuidadas, para os encartes que traziam as letras das canções e a
ficha técnica.
Foi lendo os encartes que fiquei
conhecendo os nomes dos grandes músicos que acompanhavam os nossos maiores
cantores e cantoras. Um desses nomes guardei desde sempre: Wilson das Neves.
Gosto desse tipo de sobrenome que faz menção às coisas da natureza. Minha avó paterna
se chamava Amélia das Rosas Gomes. O nome de Wilson entrou para as minhas
preferências e jamais o esqueci.
Meses atrás o vi num programa de
TV, o Samba na Gamboa. Falava sobre seu disco e cantava seus sambas. Eu não o
tinha como cantor e fiquei maravilhado com sua voz, seu balanço e os sambas que
gravou. Claro que quando o “descobri” como cantor seu disco já havia ganhado
vários prêmios e ele já estava gravando outro. Eu tenho esse costume de
descobrir coisas e pessoas já conhecidas de todos há muito tempo.
Entre os sambas de Wilson das
Neves, que passei a escutar quase todos os dias, está uma parceria dele e Paulo
César Pinheiro: “O dia que o morro descer e não for carnaval”. Este samba é um eloqüente exemplo da verve
cronista de nossa música popular. Nele o poeta alerta, propõe, informa,
critica. Tudo dentro do ritmo que move os pés e as cadeiras. A letra é
contundente, o balanço irresistível.
Virei fã do Wilson das Neves
cantor que em outro de seus belíssimos sambas afirma:_ “O samba é meu
dom”. Bota dom nisso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário