segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O Rei do Brasil


Eu andava aí pelos meus 15, 16 anos e um amigo me disse que o grande mal do país eram os Diários Associados. Nessa pouco produtiva idade eu nem sabia o que eram os Diários Associados, portanto apenas assenti com o veredicto do amigo que, por ser uns anos mais velho que eu, devia saber o que estava dizendo.
Anos mais tarde, li um artigo que espinafrava Assis Chateaubriand, o todo poderoso dono daquele império de comunicação, e lembrei-me do amigo.
No artigo se dizia que Chateaubriand era tão canalha que quando um jornalista empregado seu vinha lhe falar de salário ele retrucava dizendo:_ Já lhe dei a carteirinha de jornalista e você ainda quer salário? Segundo quem assinava o texto era essa a concepção de Chateaubriand: Jornalismo era para extorquir, para se arrumar à custa de algum rabo preso.
Na época dessa leitura, Chateaubriand já havia morrido e seu império estava em ruínas. Há mais de uma década fora suplantado pelo conglomerado dos Marinho e eu já sabia que muita saúva e pouca saúde, e não os Diários Associados, os males do Brasil são.
Nos anos 90, Fernando Morais lançou a biografia de Chateaubriand, "Chatô, o Rei do Brasil", que eu não li. Apenas vi uma entrevista do escritor no programa do Jô. Ambos, apresentador e biógrafo, fizeram coro para defender a lisura jornalística do velho magnata. Morais desmentiu a estória da carteirinha.
Pois bem, em sua última entrevista, pouco antes de morrer, o jornalista Joel Silveira contou a Geneton Morais Neto sua impressão sobre Chatô. Disse o velho repórter que Chateaubriand sempre o tratara muito bem e foi quem o mandou, como correspondente, cobrir a 2ª guerra mundial. Claro que essa é uma visão do bom jornalista, que agradece a quem o manda pra guerra. Sem embargo disse que Chatô fazia tudo por dinheiro e usou o termo “gangster” para qualificá-lo. Acho que Morais não entrevistou Silveira quando escreveu a biografia de Chateaubriand.

Assim como o Charles Foster Kane, de Orson Welles, parece um contínuo se comparado aos donos dos impérios de comunicação do Brasil de hoje, o “gangster” Chateaubriand seria visto quase como um romântico se cotejado com os que produzem notícias nesses dias interessantes que vivemos.



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