Como todo mundo, eu sempre faço
aquilo que odeio que os outros façam. Quer ver um exemplo? _ Essa mania de citar
uma frase e não se lembrar do autor do dito. Isso é o tipo de coisa que não
perdôo. Nos outros.
Ora, uma frase só faz sentido
com autoria, endereço e data. Uma afirmação que causa furor ou espanto numa
determinada época pode ser uma banalidade uns anos depois. Um depoimento de um
general tem sua validade de acordo com o lado em que ele esteve na guerra. O
que disse acertadamente uma mulher pode ser uma grosseria na boca de um homem e
o que é um achado vindo de um menino será, quase sempre, o sinal de
retardamento mental num adulto. Portanto o nome do autor é imprescindível para
a compreensão e avaliação de uma assertiva. Se soubermos o nome, saberemos a
época, a circunstância e, principalmente, o lado do balcão em que estava o sujeito
que proferiu a locução. Mas vamos lá, perpetrar mais essa desfaçatez.
Um escritor bahiano, do qual não
lembro o nome, falava anos atrás numa emissora de rádio de sua ligação com São
Paulo e arrematou com uma frase que me ficou dentro. Dizia ele que “ninguém
passa seus vinte anos num lugar, impunemente”. Eu sempre soubera disso muito
embora nunca tivesse pensado no assunto. Para mim essa amarra sentimental, que
é mais forte que o cordão umbilical que nos liga à terra natal, me prende ao
Rio. Mais especificamente à Copacabana.
Se for contar bem, meus anos no
bairro foram poucos. Na cidade maravilhosa eu morei no Méier, Todos os Santos,
Benfica, Catumbi, Botafogo, Bairro de Fátima, Santa Teresa, Lapa, Glória e em
alguns desses bairros, em mais de um endereço. De todos esses lugares trago boas
recordações e pedaços de saudade. No entanto, foi em Copacabana que mais o Rio
viveu em mim.
O bairro, que semana passada
completou 120 anos, ainda estava longe dos 90 quando me deu seus botequins e
sua praia. Suas meninas e suas noites. Suas tardes de sábado, suas manhãs de
domingo.
Trabalhei, estudei, morei e bebi
em
Copacabana. Principalmente , vivi meus 20 anos em Copacabana. Sonhei
muito, sofri pra burro. Freqüentei a Galeria Alasca e a Prado Júnior. O Beco da
Fome e a 12ª D.P. A Biblioteca Regional e os cinemas.
O primeiro Chaplin foi no Cinema
2. O amor, conheci na Santa Clara.
Já caminhei Copacabana inteira,
pela praia, pelos morros, pelos túneis, pelas ruazinhas pouco transitadas e até
por cima dos edifícios. Antes eu sabia todos os nomes de ruas que vão dar na
Avenida Atlântica, do Leme ao Posto 6. Conhecia os botequins que ficavam
abertos até mais tarde e os que abriam mais cedo.
E tinha os cantinhos. O Bairro
Peixoto, uma vila na Pompeu Loureiro, o alto da Gastão Bahiana e o Chapéu
Mangueira, a favela mais bonita do mundo.
Mas sobretudo, para mim, Copacabana
tinha as mulheres. De todas as cores, formas, idades e condição social. Acho que vi as mulheres mais lindas do planeta
em Copacabana, desfilando por suas belas calçadas de pedras portuguesas.
De tudo que vivi no bairro
carioca, tenho hoje uma saudade quente. Boa de sentir. Saudade dos vinte anos,
a melhor época da vida. Saudade dos amores, os únicos fatos importantes da
vida.
No seu aniversário, velho bairro
querido, me veio essa saudade, e uma certeza: Só a ti Copacabana eu hei de
amar.
Quando voce desembarcou em Copacabana, ja havia sido aterrada ?
ResponderExcluirNão João, mas isso foi na minha infância. Já adolescente, eu vi as obras de alargamento da Av. Atlântica.
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