segunda-feira, 30 de julho de 2012

Português, adeus







Essa aconteceu no STF. Como você já deve ter notado, eu sou fascinado pelo Supremo, não pelo poder judiciário ou pela justiça, meu fetiche é o Supremo, a corte maior. Talvez sejam as togas, quem sabe a ritualística ou o cabedal jurídico de alguns de seus membros. Sei lá. Mas o fato é que essa aconteceu no Supremo.
Tratava-se de julgar se o partido de Kassab teria ou não direito ao tempo de televisão e verbas do fundo partidário de acordo com o tamanho de sua bancada. A lei fala em último pleito para aferir tais direitos, mas o PSD não disputou as últimas eleições, é virgem nas urnas. Ainda assim congrega sob sua sigla votadíssimos senhores deputados e senadores que para lá migraram por motivos diversos; amor à Pátria, divergência ideológica profunda com o ex-partido ou quem sabe, o deslumbramento de pertencer a um partido que não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro. Enfim, coisas insondáveis da alma.
O relator do caso era o Ministro Dias Toffoli, que mesmo antes de iniciar seu longo, longuíssimo parecer, falou em “portabilidade do voto”. Para o Ministro Joaquim  Barbosa foi demais. De pé, tendo a alta cadeira como apoio para sua coluna avariada, o Ministro soltou uma exclamação que saiu-lhe de dentro:_Mas o que é isso!?  Referia-se, é claro, ao termo usado por Toffoli. Com seu riso de tímido, o Presidente Ayres Brito falou que era culpa dos celulares. O Ministro Barbosa não se conformou e seguiu resmungando algo que os microfones da TV Senado não captaram bem.
O Ministro Toffoli, creio, não se abalou, e  começou a ler seu relatório que tentava ensinar padre a rezar missa. Para mim, leigo em leis e em tudo, teria sido útil ouvir o Ministro que tratou da história do Tribunal Eleitoral, dos princípios do direito e da criação da terra. Mas eu não suporto a voz do Ministro Toffoli e enquanto o ouço não deixo de pensar na sua assunção à mais alta esfera da magistratura por via tão transversa. Como sabemos, o Excelentíssimo Ministro Toffoli foi por duas vezes reprovado no concurso para juiz, não tem obra jurídica publicada, nem sequer passado ilibado. Mas lá está, roçando sua toga com as de luminares da justiça brasileira.
A “portabilidade” de Toffoli conta bem de seu escasso saber. Das ruas, do mundo real, da sociedade, o Ministro não leva ao Supremo a voz rouca do povo, seu sentido de justiça, sua indignação. Não, o Ministro cata do mundo o linguajar tolo e vazio, o neologismo sem graça e pretensioso e o leva àquela colenda corte.
Se fosse só o Ministro Toffoli a perpetrar essas bobagens tudo estaria bem, colocaríamos mais uma no seu perfil de cara-de-pau. O pior é que esse linguajar que faz verbo de qualquer substantivo e substantivo de qualquer verbo, está se tornando uma praga lingüística. O técnico do Corinthians, Tite, que foi alçado ao panteão dos deuses por ter ganhado a libertadores, fala em “treinabilidade” e outros bichos. Aqui, na minha pequena cidade um cidadão está indignado pelo fato dos carros da prefeitura não terem adesivos indicando que são carros do serviço público e através de um grupo de eleitores do face book, faz campanha pela sua “adesivação” roga que os carros sejam “adesivados”. "Adesivagem" já, conclama
Antes que você diga que é assim mesmo e que esses modismos logo passam, devo lembrar que quem entrou na escola no “a nível de” já está se formando na  "portabilidade”.
Por falar em formando, outro dia eu estava vendo um pedacinho de um festival sertanejo na televisão. Claro que o festival não se chamava Festival Popular Sertanejo e sim Sertanejo Pop Festival. Nos bastidores (agora chamado nos jornais, rádios e TVs de back stage) uma repórter entrevistava um dos “artistas” e para se assegurar que o cidadão era mesmo um sertanejo universitário, a moça do microfone lhe perguntou que faculdade fazia ou fizera. Agronomia, foi a resposta do moço de chapéu. Respondendo a  outra pergunta e creio que tentando explicar a bobagem que era sua música, o rapaz disse:_ “Se eu fazer uma música...” Meu neto, de vez em quando, comete esse mesmo erro, mas ele tem 6 anos e freqüenta o 1º ano primário. Ele não é sertanejo e não sei se será universitário, mas sertanejo universitário, eu não deixo.


Um comentário:

  1. Como sempre, agudo e promocionando o deleite dos que aprecian a qualidade. Oxala houvesse uma Manuelisacao das letras no Brasil...

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