domingo, 2 de dezembro de 2012

O ENEM segundo Mercadante


                Semana passada, saiu o resultado do ENEM. Deu o que todos já esperavam: apenas 10 escolas públicas estão entre as 100 com melhores notas. Apenas 1 entre as 10 primeiras. Também, como era de se esperar, veio uma desculpa esfarrapada do Ministério da Educação.  Mas dessa vez, Aluísio Mercadante resolveu inovar.
                Como todos sabem, Mercadante, que é economista, dormiu ciência e tecnologia e, depois de uma reparadora noite de sono, acordou educação.  Numa de suas primeiras falas, já empossado na nova pasta, Mercadante fez uma apologia dos “tablets” que, segundo sua visão, substituirão os livros de papel nas nossas escolas públicas com grande ganho e economia de verbas. Claro, o homem ainda estava de ressaca da ciência e tecnologia. Passou o tempo, e nossos meninos nada viram de “tablets”. Paciência. Um dia eles estarão em todas as escolas públicas do país para gáudio de seus fabricantes, e Mercadante entrará para a história como inventor da modernidade.  
                Mas como ia dizendo, Mercadante resolveu inovar nas desculpas que sempre são dadas depois da constatação anual que nosso ensino público anda entregue às traças. Disse o Ministro que a superioridade de resultados no Exame Nacional do Ensino Médio, das escolas privadas sobre as públicas, está no fato das escolas particulares selecionarem seus alunos e as públicas serem escolas de portas abertas, escola para todos.
                Confesso que tive de esperar o jornal da noite para corroborar o que pensava haver escutado. Batata. O Ministro dissera aquilo mesmo.  Temi estar totalmente desatualizado sobre os fatos da educação do Brasil. Teriam acabado os exames de seleção para entrar no Pedro II do Rio, no Colégio Estadual de Belo Horizonte, nos colégios de aplicação das universidades federais e estaduais?  Esses centros de educação, antes tão disputados, estariam hoje com as portas abertas para todos?  E as escolas técnicas? Também disporiam de tantas vagas excedentes? 
                Assim como o Ministro, essa noite fui dormir pensando na educação. Mas não acordei ministro da ciência e tecnologia ou da pesca, nem sequer secretário de parques e jardins. A manhã, que não me transformara em conhecedor das coisas da administração, me trouxe apenas uma convicção: o Ministro mentira. Sim, pois todas as escolas públicas do ensino médio que antes eram referência de qualidade na educação, continuam selecionando seus alunos. Há sim exames de ingresso. Não há vagas para todos. Entram os melhores. Mas ainda assim seus estudantes não conseguem competir com os alunos das escolas privadas num teste de conhecimento. Uma exceção aqui, outra ali. Dessa vez foi o Colégio de Aplicação da Universidade de Viçosa, que conseguiu intrometer-se entre os 10 de melhor desempenho.
                Numa outra parte de sua fala, Mercadante, para não mentir mais e ser apenas incoerente, disse que os alunos que pertencem a essas escolas públicas que selecionam seus estudantes, têm média superior aos alunos do ensino privado. Então, por que não há nenhuma outra entre as 10 melhores? Como economista, nosso Ministro da Educação prefere falar de médias e percentuais e, é claro, também vai promover um seminário sobre educação.
                O ENEM, assim como seu congênere para o ensino universitário, deveria servir para que o governo conhecesse suas falhas e apontasse soluções para o problema, cada vez mais grave, da educação no Brasil. Mas não é isso o que vemos. Após cada ano, após cada constatação que o ensino público brasileiro vai de mal a pior, vemos as autoridades dando as mais deslavadas desculpas ou, como é o caso de agora, mentindo.
                Fosse um aluno que desse uma resposta tão absurda sobre uma questão, estaria reprovado. Com Mercadante, o máximo que pode acontecer é, um dia desses, dormir educação e acordar presidente da Petrobrás.


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