Quando acreditamos que já vimos e ouvimos de
tudo de nossos políticos, vem mais uma. Dessa vez quem nos surpreendeu foi o
Czar José Dirceu. Bem, surpreendeu alguns de nós.
Zé Dirceu sempre me
pareceu um cínico profissional. Em seus comentários sobre o processo do
mensalão, isso ficou mais que evidente. Jurou de pé junto que nada sabia dos
repasses milionários feitos pelo PT aos partidos de aluguel, muito embora sendo
Ministro da Casa Civil, uma de suas atribuições fosse a articulação política do
governo. Ele quis nos fazer crer que desde o momento em que entrou para a Casa
Civil, se desligou das atividades partidárias e que o acaso foi o responsável
pelo emprego que sua ex-mulher conseguiu no BMG, um dos bancos envolvidos no
escândalo. O mesmo se passou quanto ao papagaio que a ex levantou no Banco Rural.
Tudo fruto do acaso. Inclusive a venda de seu apartamento para Rogério
Tolentino, advogado e sócio de Marcus Valério, foi obra da divina providência.
Dirceu não sabia de nada. Sua ex-senhora mudou o depoimento que dera no início
das investigações, e passou a corroborar a versão de que o ex-ministro e ex-marido fora
o último a saber.
Com tudo isso constando nos autos da Ação Penal 470, Dirceu e muitos petistas
continuam dizendo que nada foi provado no curso do processo. No caso do
ex-ministro, se entende, afinal é do direito negar para defender-se, até que
não seja esgotada a última apelação. Quanto aos filiados e simpatizantes do PT,
que não vêem o óbvio, não me ocorre nenhuma explicação.
Mas agora José Dirceu passou dos limites. Ao falar sobre a
eleição de Renan Calheiros, disse o ex-ministro, que o Senador alagoano é
vítima de “campanha moralista e udenista” e que as manifestações de repúdio à
Renan são uma “intervenção de grupos organizados” cuja intenção é “dividir a
base de apoio ao governo”. Assim como em seu próprio caso, Dirceu tenta nos
provar que o que vimos, nunca existiu.
Cada vez mais, o discurso dos petistas vai se tornando
idêntico ao daqueles que o Partido dos Trabalhadores combatia no passado. Se a
TV mostra uma imagem comprometedora, acusa-se a imprensa pela divulgação disso
e não daquilo. Se alguém é filmado recebendo propina, questiona-se a ação do
araponga. Se o tribunal condena, deveria antes ter condenado outros. Quando todos os expedientes da embromação
estão esgotados, diz-se que nada foi provado. E se foi provado, ainda cabe
recurso.
Apoiado por esmagadora maioria na Câmara, e com certa folga no Senado, o governo e
líderes do PT, como José Dirceu, acham que já podem tudo. Até agora conseguiram
lidar com os escândalos dentro do governo, com a chantagem dos partidos de
aluguel e com o fisiologismo de seus apoiadores. Daí, não fazerem como faz a
imprensa que os apóia e silenciar sobre a eleição dessa excrescência política
que é Renan Calheiros. Não. José Dirceu sai em sua defesa e diz que o homem das
Alagoas está sendo perseguido por “campanha midiática”.
Não creio que esse episódio venha causar prejuízos
eleitorais ao PT. Se Lula se reelegeu quando o mensalão estava ainda fresco e
os depoimentos, na CPI dos Correios, de gente como Silvinho “Land Rover”
Pereira ainda ecoavam, não será o apoio dado à Renan que irá prejudicar o
Partido dos Trabalhadores nas urnas.
O maior problema que o partido da Presidenta Dilma deverá enfrentar,
é o que hoje faz o governo e suas lideranças tão soberbos: a base de
sustentação.
Numerosa, heterogênea, volúvel e ligada a interesses
regionais, a base aliada é o ovo da serpente que mora no seio do governo. Gente
como Renan, Collor, Jucá, Sarney e outros que tais, não troca nem a camisa para
passar da bajulação para o xingamento. Basta um tropeço da política econômica
ou um pleito não atendido, para mudar tudo. Isso já aconteceu quando se votou o
fim da CPMF. A trairagem comeu solta.
Renan, que hoje tem a solidariedade de José Dirceu e o
silêncio cúmplice da imprensa governista, tem prática. Já traiu Collor e o PSDB. Além da mulher,
claro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário