segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Plantão de polícia



                 Assistia um programa sobre polícia. Dois policiais, um homem e uma mulher, falavam sobre sua profissão. A jovem delegada dizia-se privilegiada por exercer tal ofício e o investigador apontava para o novo conceito que desfrutava a polícia. Dizia ele:_“O policial não é mais visto como um sujeito arrogante e truculento. Hoje se exige o curso superior para os que querem ingressar na polícia civil.”
                 Nas singelas palavras do investigador, estava todo o preconceito que desde sempre norteou o trabalho policial no Brasil. Para a polícia alguém que tenha curso superior é digno do maior respeito. É incorruptível e jamais será um bandido. Sem contar que no Brasil qualquer um que seja dotado de uma gorda conta bancária, também é chamado de doutor. Para negros, pobres e iletrados o tratamento é outro, bem outro.
                Outro dia, apareceu, em papel timbrado, uma ordem de serviço da polícia paulista sediada em Campinas, que mandava os comandados revistarem carros que fossem dirigidos por negros e mulatos. Imediatamente um oficial explicou que isso se dera por reclamações dos moradores. Daí, podemos inferir que se um morador reclamar da atitude suspeita dos dinamarqueses, a polícia irá buscá-los pelas ruas. Basta reclamar dos malditos dinamarqueses.
                Na mesma semana, enquanto fazia uma perseguição a um carro, supostamente roubado, um policial matou um homem que falava ao telefone na janela de um sobrado. Em seu socorro veio outro oficial que, embora não houvesse presenciado o fato, garantiu diante das câmaras de TV, que o policial apenas revidara os disparos efetuados pelo suposto ladrão. Esqueceu-se, o repórter que entrevistou o oficial, de perguntar qual era a marca do disco voador que fora roubado. Afinal, o cidadão baleado e morto estava na janela de um sobrado Os vizinhos da vítima contam outra história. Disseram que o disparo que matou o rapaz fora dado para cima, para intimidar o suposto ladrão. Quase me esquecia de dizer, que isso aconteceu na periferia.
                Também em São Paulo, na tentativa de resgatar uma mulher que fora seqüestrada pelo ex-marido, um policial atingiu a vítima com um disparo no quadril e matou o seqüestrador. No hospital o policial, cuja voz foi captada pelos indiscretos microfones da reportagem, contou que efetuou os disparos porque o agressor havia ferido à faca a ex-mulher. Os médicos que atenderam a vítima disseram que o único ferimento que ela tinha, era de bala.
                 Essa mistura de preconceito contra pobres e iletrados, racismo, incapacidade técnica e truculência, tem sido a marca registrada da atuação policial em nosso país. Atuação essa que é, não só aceita como estimulada por grande parcela da população branca e “instruída” de classe média.

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