Toda vez que alguém fala das conquistas da Revolução Cubana
nas áreas da educação, da saúde ou da ciência, vem sempre algum idiota com a
frase feita, na ponta da língua:_ Por que então, não vai morar lá? Antes que
alguém venha com esse papo, deixo claro que nutro grande simpatia pela
Revolução Cubana e que não vou morar lá por vários motivos.
Primeiro porque não tenho o dinheiro da passagem. Segundo
porque estou velho e meu nível de educação formal é muito inferior ao do cubano
médio, eu seria um fardo para o povo de lá. Terceiro porque amo meu país, não
saberia viver sem samba, sem os jogos do Galo, sem as referências que me fazem
ser brasileiro. Por último, eu poderia dizer que não quero melhorar Cuba e sim
o Brasil. Cuba é problema dos cubanos. Ou, pelo menos, deveria ser.
Pois bem, dos idiotas que fazem do anticomunismo seu único
discurso político e odeiam a altivez cubana, eu já sei há muito tempo, o que me
surpreendeu foi ouvir esse mesmo tipo de discurso na boca de quem defende a
Revolução Cubana e suas conquistas sociais. Refiro-me ao Senador Randolfe
Rodrigues do Psol.
O Senador pelo Amapá é dos mais atuantes parlamentares do
país. Inteligente, combativo e probo, Randolfe Rodrigues, já no seu primeiro
mandato, se notabilizou por travar o bom combate contra a corrupção endêmica do
Brasil e pela defesa de um sistema de governo mais justo. Até agora, seu único deslize foi o discurso que proferiu
desde a tribuna do Senado no último dia 22.
Disse o Senador que Yaoni Sánchez deveria viajar para Miami onde se encontram seus amigos. Ora, não creio que
seja por aí. Talvez, como eu, Yoani ame seu país, sua música, seus costumes.
Talvez seja em Cuba que queira viver e não em Miami. Para lá irá, visitar sua
irmã e, certamente, será reverenciada pelo que há de pior naquela sociedade tal
qual se passou no parlamento brasileiro. Depois voltará para sua ilha. Se ela
deseja a implantação do capitalismo em Cuba, como li em textos de terceiros, é
lá que deve estar para combater por suas idéias e não em Miami, junto a
bandidos e terroristas a soldo da CIA, como sugere o Senador.
Aqui, em vez de hostilizá-la, deveríamos ter lhe mostrado
certas peculiaridades do capitalismo que não funciona, ou melhor, que só
funciona para alguns. Deveríamos tê-la tirado dos bons hotéis onde se hospeda e dos salões nobres do parlamento por onde trafega, para um passeio pela madrugada de Salvador, pelas favelas do Rio, ou pela
periferia de Brasília. De certo Yoani veria o que nunca viu em seu país.
Veria crianças fumando crack e dormindo nas ruas, veria o
analfabetismo, saberia o que é truculência policial num grau que nem imagina.
Conheceria as chacinas praticadas por grupos de extermínio e milícias. Deveríamos
ter mostrado à moça, as filas nos hospitais públicos e a luta que mães
enfrentam para matricular um filho no ensino fundamental, nas maiores cidades
do país.
Aos 37 anos, a ativista cubana desconhece tudo isso. Quando
ela nasceu a Revolução já era vitoriosa. Na sua ilha não existem crianças
dormindo pelas ruas e consumindo crack, a educação e a saúde de qualidade são
oferecidas a todos gratuitamente. Não existem analfabetos em Cuba. Não existe
um só hospital ou universidade particulares em Cuba. Foi lá que Yaoni Sánchez estudou e se formou em filologia. Graças ao sistema que privilegiou suas
qualidades e não o bolso de seus pais, ela pode fazer o que está restrito a
poucos, pouquíssimos brasileiros: cursar uma faculdade..
Do Brasil, Yaoni Sánchez vai levar a mais deturpada das impressões.
A paparicação da direita mais reacionária e boçal e os apupos da esquerda mais intolerante
e imbecil.
Quanto ao Senador Randolfe Rodrigues, continua merecendo, de
minha parte, todo o crédito. Só não precisava ter embarcado nessa canoa furada
da hostilidade gratuita. Senador, trate bem o turista.
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