sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A coerente eleição de Renan


         
                Não foi uma sexta-feira qualquer. Renan Calheiros voltou à Presidência do Senado através do voto livre e soberano de seus pares. E louve-se a coerência de todo o processo. Sim, nada houve de mais coerente na República nos últimos tempos. 
                No Congresso Nacional, um terço dos parlamentares enfrenta algum problema com a justiça.  Os crimes, os mais variados; de calúnia até assassinato, passando por fraudes em licitações, tráfico de influência, formação de quadrilha, falsidade ideológica e, é claro, desvio de dinheiro público.De cara, Renan já podia contar com 27 votos, por empatia. 
                Os outros 29 votos que obteve, são de origem vária. Alguns vieram da traição do PSDB ao Senador Pedro Taques. O partido de FHC havia se comprometido com a candidatura de oposição, mas na hora H, de olho na primeira secretaria do Senado, os tucanos optaram, coerentemente, pelo pragmatismo que os caracteriza. Some-se mais 7 votos dos 11 da bancada emplumada.
               Mas ainda faltariam 22 para se chegar ao número consagrador obtido por Renan. Sim, consagrador, afinal não é toda hora que um denunciado por tantos crimes, recebe tanto apoio de uma classe que, geralmente, opta pelo salve-se quem puder e costuma abandonar o barco mais rápido que o comandante do Costa Concórdia. O mesmo Renan, ao ver a gloriosa fragata de Collor começar a fazer água, pulou fora ainda durante a CPI do PC Farias.
                Entre os votos que colocaram Renan na Presidência do Senado e na segunda posição sucessória da Presidenta Dilma, estão os orientados pelo Planalto. Os votos da base aliada. Coerentemente, o PMDB votou em peso no correligionário. Exceção feita a Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon. Claro, que se tratando de PMDB, o voto em Emilinha Borba também teria de ser considerado coerente.
                Mas chegamos aos votos dos senadores petistas e você talvez pense na incoerência do partido, que construiu sua imagem combatendo gente como Sarney e Renan, apoiando a candidatura de tal personagem. Ora, minha amiga, desde o primeiro mandato de Lula, o PT, que contou com o auxílio luxuoso de Duda Mendonça para melhorar sua imagem, vem se servindo no lodaçal da política brasileira. Fez, desde o início, aliança com o PP de Maluf, convidou o banqueiro Henrique Meireles para comandar a economia, ajudou Sarney a se manter na Presidência do Senado em nome da governabilidade e produziu o mensalão. Nada mais coerente com seu passado recente, que apoiar a candidatura de Renan Calheiros.
                Temos, por fim, o próprio Renan, a quem podemos acusar de tudo, menos de incoerência. Renan não é homem de ir e vir. Muda de partido, mas não muda de posição. É sempre governo. Desde a redemocratização, Renan não se afasta do Palácio do Planalto. Foi líder do governo Collor na Câmara, Ministro da Justiça de FHC e Presidente do Senado, apoiado pelo PT, até renunciar em 2007.
                Nada mais coerente do que Renan suceder a Sarney no comando do Senado. Nada mais coerente que o discurso de Fernando Collor de Merda saudando o recém-empossado. Disse o ex-caçador de marajás que o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, que insiste em processar Renan, é “chantagista e prevaricador” e que ações devem ser tomadas contra Gurgel, para ele “não processar mais senadores”.  Vai ser coerente assim lá nas Alagoas.



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