Não foi uma sexta-feira qualquer. Renan Calheiros voltou à
Presidência do Senado através do voto livre e soberano de seus pares. E
louve-se a coerência de todo o processo. Sim, nada houve de mais coerente na
República nos últimos tempos.
No Congresso Nacional, um terço dos parlamentares
enfrenta algum problema com a justiça.
Os crimes, os mais variados; de calúnia até assassinato, passando por
fraudes em licitações, tráfico de influência, formação de quadrilha, falsidade ideológica e, é claro, desvio de dinheiro
público.De cara, Renan já podia contar com 27 votos, por empatia.
Os
outros 29 votos que obteve, são de origem vária. Alguns vieram da traição do
PSDB ao Senador Pedro Taques. O partido de FHC havia se comprometido com a
candidatura de oposição, mas na hora H, de olho na primeira secretaria do
Senado, os tucanos optaram, coerentemente, pelo pragmatismo que os caracteriza.
Some-se mais 7 votos dos 11 da bancada emplumada.
Mas ainda faltariam 22 para se chegar ao número consagrador
obtido por Renan. Sim, consagrador, afinal não é toda hora que um denunciado
por tantos crimes, recebe tanto apoio de uma classe que, geralmente, opta pelo
salve-se quem puder e costuma abandonar o barco mais rápido que o comandante do
Costa Concórdia. O mesmo Renan, ao ver a gloriosa fragata de Collor começar a
fazer água, pulou fora ainda durante a CPI do PC Farias.
Entre os votos que colocaram Renan na Presidência do Senado
e na segunda posição sucessória da Presidenta Dilma, estão os orientados pelo
Planalto. Os votos da base aliada. Coerentemente, o PMDB votou em peso no
correligionário. Exceção feita a Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon. Claro, que se
tratando de PMDB, o voto em Emilinha Borba também teria de ser considerado
coerente.
Mas chegamos aos votos dos senadores petistas e você talvez
pense na incoerência do partido, que construiu sua imagem combatendo gente como
Sarney e Renan, apoiando a candidatura de tal personagem. Ora, minha amiga, desde
o primeiro mandato de Lula, o PT, que contou com o auxílio luxuoso de Duda
Mendonça para melhorar sua imagem, vem se servindo no lodaçal da política
brasileira. Fez, desde o início, aliança com o PP de Maluf, convidou o
banqueiro Henrique Meireles para comandar a economia, ajudou Sarney a se manter
na Presidência do Senado em nome da governabilidade e produziu o mensalão. Nada
mais coerente com seu passado recente, que apoiar a candidatura de Renan
Calheiros.
Temos, por fim, o próprio Renan, a quem podemos acusar de
tudo, menos de incoerência. Renan não é homem de ir e vir. Muda de partido, mas
não muda de posição. É sempre governo. Desde a redemocratização, Renan não se afasta do Palácio do Planalto. Foi
líder do governo Collor na Câmara, Ministro da Justiça de FHC e Presidente do
Senado, apoiado pelo PT, até renunciar em 2007.
Nada mais coerente do que Renan suceder a Sarney no comando
do Senado. Nada mais coerente que o discurso de Fernando Collor de Merda
saudando o recém-empossado. Disse o ex-caçador de marajás que o Procurador
Geral da República, Roberto Gurgel, que insiste em processar Renan, é “chantagista
e prevaricador” e que ações devem ser tomadas contra Gurgel, para ele “não
processar mais senadores”. Vai ser
coerente assim lá nas Alagoas.
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