sexta-feira, 8 de março de 2013

Hugo Chaves



                Abuso da democracia. Para mim este termo é novo, jamais havia escutado, mas parece que é de uso comezinho entre politicólogos e outros embromadores.
                Se o tivesse ouvido  solto, fora de um contexto, pensaria que se referia aos manejos políticos que a oposição de direita faz para emperrar os trabalhos legislativos. Ou então, que se tratasse de críticas aos pastores parlamentares que tentam transformar o Congresso e Câmaras Municipais em apêndices de suas igrejas. Mas não, o “especialista” que me trouxe a novidade terminológica falava sobre Chaves, no dia de sua morte. 
                 Usou a expressão quando foi confrontado com o fato de Hugo Chaves ter vencido todas as eleições que disputou. Penso até que o jogo de palavras foi criado sob medida para o Presidente venezuelano. Já não bastava o epíteto de populista, com o qual a grande (?) imprensa capitalista sempre o tratou. Os milhões de votos, os milhões de venezuelanos tirados da miséria, os números irrefutáveis da Revolução Bolivariana, acabaram por esvaziar o vocábulo já desgastado, usado para desqualificar aqueles governantes que atendem às demandas populares. Havia que se criar uma nova forma para desmerecer quem derrota, nas urnas, os inimigos do povo, as elites subalternas ao capitalismo central, o mercado da fome. Inventou-se então o monstrengo que quer ser elucidário.
                 Ao fim de sua fala especializada, o professor de não sei o que, prognosticou um sombrio futuro para a Venezuela. Chaves era o culpado. A longo prazo, sua política de inclusão, sua postura crítica com relação aos EE.UU, sua obstinação em dar dignidade ao povo venezuelano, trarão resultados funestos. Claro que não era uma análise crítica, mas sim uma expressão de desejo; ver desmoronar a Revolução Bolivariana.
                 Para os economistas, politicólogos e analistas que freqüentam as grandes emissoras de TV, uma nação é apenas um lugar onde se faz negócios. O que se faz e o tempo de o fazer está condicionado pelo mercado, pelas bolsas, pelas crises do capitalismo. Em suas análises, não existe o povo com suas demandas e aflições, não existe a fome, a falta de moradia, só o mercado, que deve ser tratado a pires de leite. Para essa gente, Chaves era um populista que abusava da democracia e do direito de ser amado por seu povo que hoje lota as ruas de Caracas para um último adeus àquele que, saído de seu seio, lhe deu dignidade e esperança.
                 Hugo Chaves e a Revolução Bolivariana são o divisor de águas na Venezuela e em todo continente latino americano. Chaves mostrou que a vontade do povo pode derrotar as elites. Que a obstinação de um país periférico pode mudar o eixo da história.
                 Hoje, nos despedimos de Hugo Chaves, não de seu legado.
                 Hasta la vitória Comandante, siempre.


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