Tomemos uma torcida de futebol lotando as arquibancadas num
grande jogo. A torcida do Corínthians, por exemplo. Se fizermos um corte,
descobriremos que mesmo tendo em comum a paixão pelo timão, eles se dividem em
outras questões. Na mesma arquibancada gritando vai curíntia, encontraremos
eleitores de todos os partidos políticos.
Então fiquemos com os corinthianos que votam no PT, por exemplo.
Também entre estes haverá cisão no que diz respeito ao gosto musical. Uns hão
de gostar de pagode, outros de rock n’ roll, outros tantos de sertanejo
universitário e por aí vai.
Se depois da vitória do time de Parque São Jorge tentássemos
marcar um jantar com todos os corinthianos que votam no PT e ouvem rock n’ roll,
seria impossível, pois uns iriam querer comer pizza, outros, feijoada e uns
tantos estariam de dieta.
Assim é, entre os seres humanos normais; nos dividimos e nos
unimos de acordo com nossa consciência, nossos gostos e manias.
Só existe um grupo coeso que passa por cima de preferências
culinárias, ideologias políticas, times de futebol e tudo o mais: são os
cretinos. Às vezes são confundidos com os simplesmente idiotas ou com os
boçais, mas não se iluda, os cretinos têm identidade própria.
Uma prova de sua coesão é nosso parlamento. Para o cretino
não importa a que partido pertença o candidato, ele fareja, nos discursos e
poses, um semelhante, e o elege. A bancada cretina, disfarçadamente dividida em
bancada evangélica, bancada da bola, bancada ruralista, etc, é a mais ampla
maioria. Claro que só fazem sentir seu peso em assuntos de relevância para a
causa da cretinice. O código florestal e os royalties do petróleo são casos
exemplares.
O cretino, embora tenha sua preferência clubística, por um
time estrangeiro, claro, não aprecia tanto o jogo da bola. O que lhe interessa
são as ações cretinas dos dirigentes e jogadores. Ele apóia qualquer burla ao
regulamento das competições e quando vê um artilheiro fazendo um coraçãozinho
com as mãos depois de um gol, se vê como um sentimental, um romântico.
Se vai a um restaurante, o cretino jamais deixa de tratar
com profundo desprezo o manobrista, o garçom e os comensais que se sentam
próximos. Não importa o prato que peça, o que interessa é comentar que já
provou da iguaria, muito melhor elaborada, naqueles lugares do planeta que lhe
parecem chiques como Miami, Punta Del Este ou a Serra gaúcha. A companhia do
cretino é sempre outro da mesma estirpe que exulta com as citações.
Nas redes sociais é onde mais facilmente o encontramos. Lá
fez seu quartel, seu bastião. É desde o anonimato que tece seus comentários, livre
das amarras da civilidade, da lógica, da sensatez. Vitupera contra as cotas
raciais nas universidades, contra as políticas sociais do governo e
principalmente contra o país. Sempre em caixa alta e com muitos palavrões.
O cretino odeia maconheiros, negros, bichas e pobres. Odeia
o carnaval, o candomblé e o samba. Odeia hippies, ateus e lésbicas. E nem pode
ouvir falar em direitos humanos.
Ainda que ostentando algum diploma, o cretino, quando se
manifesta por escrito, comentando as notícias de algum sítio informativo ou no
facebook, deixa a marca indelével de sua cretinice. É pródigo em palavrotas em
inglês, mas desconhece profundamente a ortografia em nosso idioma.
Ao cretino, falta o senso de humor. A carranca é sua máscara
de superioridade. Sem embargo, gargalha das próprias anedotas.
O cretino reclama dos impostos que não paga. Estaciona na
vaga para deficientes e alega que é só um minutinho. Não usa cinto de segurança
para não amarrotar o paletó e a gravata.
O cretino crê que todos que têm mais dinheiro que ele, são
ladrões e os que têm menos, preguiçosos.
O cretino se acha. O cretino sai de férias com a sogra.
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