terça-feira, 7 de maio de 2013

A escritora



                Você sabe, eu tenho cá meus problemas com o vernáculo. Não pense que meus erros são fruto de incúria ou desleixo. Não, eu tento caprichar. Principalmente quando penso que você, minha amiga, pode estar lendo meus escritos, não posso menos que tentar caprichar. 
                Mas não é o que faz todo mundo que bota seus pensamentos em letra de imprensa. Existe hoje quase que um desprezo pelas regras mais primárias do idioma. E aqui não me refiro só aos comentaristas do facebook e dos sítios informativos. Falo de gente que vive do ofício de pôr tintas no papel. O fato é que nunca na história desse país se escreveu tão mal. E fala-se pior ainda.
                O Brasil bem que mereceu um Prêmio Nobel de Literatura com Guimarães Rosa, Drummond ou João Cabral. Hoje eu não sei se temos literatos nesse mesmo patamar. É bem verdade que não leio os últimos lançamentos, os novos escritores não me são familiares, mas intuo que a coisa anda mal nas letras brasileiras.
                Um dos motivos de minha desconfiança com relação a nossa produção literária atual são os textos que escritores mandam para jornais, revistas e sítios informativos da internet. Veja se não é o caso.
                A escritora Márcia Denser já escreveu uma porrada de livros e quando digo uma porrada, é uma porrada mesmo. Um de seus romances, A ponte das estrelas, virou best seller e outro teve adaptação para o cinema. Confesso que nunca os li. Nem esses nem nenhum outro da autora. Conheci Márcia Denser através do sítio Congresso em foco, no qual ela assina uma coluna semanal.
                Márcia Denser coleciona prêmios literários e contos seus fazem parte de antologias importantes. Já foi traduzida em oito idiomas. É Mestre em comunicação e semiótica pela PUC-SP e foi curadora de literatura da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo
                 Como cronista, ela não faz meu tipo. Seu tom, geralmente agressivo, não me agrada. Lendo-a tenho sempre a impressão de estar diante de algum relatório escrito por um burocrata bêbado. Bêbado e desiludido.
                Esta semana, em sua coluna no Congresso em foco, Márcia Denser assina um texto cujo título “É a imprensa, estúpido”, diz muito de sua forma de se comunicar com seus leitores. A escritora deve pensar que somos uns masoquistas patológicos e nos ofende desde o título, pois lendo o artigo, sabemos que o estúpido a quem ela se refere somos nós mesmos.
                Mas isto seria apenas uma questão de forma, de estilo. O que vem já no segundo parágrafo do artigo citado é o que quero comentar. Lá, Márcia Denser nos manda a seguinte letra: “Na melhor das hipóteses, pode-se dizer que houveram períodos...” Pois é, houveram. Escritora, jornalista mestre em comunicação e semiótica, curadora de literatura e manda um “houveram”.
                Dona Telma, lá nos anos 70, me ensinou que o verbo haver significando existir, vai sempre no singular. Dona Telma não era escritora. Era uma professora de português numa escola da periferia onde estudavam filhos de operários, mas fora aluna de Magda Soares. Amava as letras e, penso, seus alunos. Chegava de longe no seu fusquinha para nos deixar menos toscos.  
                Mas voltando à profissional das letras e seu texto.
                Alguns parágrafos adiante Márcia Denser nos brinda com mais essa: “a direita e os conservadores passaram a fazer o que bem entendesse...” E aí, me peguei pensando: _Cadê a concordância, estúpida? Apenas não o disse porque sou metido a educadinho.

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