Nelson Rodrigues dizia que se deve ler pouco e reler muito.
Nunca consegui seguir o mandamento do mestre. Sou fominha com essa estória de
livros. Não que seja um novidadeiro, não busco os últimos lançamentos nem nada
disso. E nem preciso. Há tanta coisa importante que já foi escrita anos,
décadas, séculos atrás que fica difícil querer somente o que se produz nos dias
de hoje.
Mas agora, depois de meses lendo “A carne”, de Júlio Ribeiro,
me deu vontade de reler e reencontrar alguma emoção de outro tempo.
Acontece que “A carne” é das piores coisas que já foram
publicadas no nosso idioma. E olha que o livro foi motivo de polêmica em seu
tempo. Acho que os contemporâneos do autor ficaram aturdidos com a temática,
ousada para a época, e não viram que o livro estava abaixo da crítica.
Destinado à poeira e às traças.
Tardei meses para terminar sua leitura, pois
ler mais de uma página por dia de semelhante obra (no sentido mais recôndito do
termo) me foi impossível. Também não pude abandonar o maldito livro. Sou ruim
de abandonos. De livros e de mulheres. Além do mais, a cada página lida do
romance, ficava a curiosidade por saber até onde poderia chegar o pedantismo, a
sensaboria, a falta de talento literário de um membro da Academia Brasileira de
Letras. E não foi em vão a pertinácia. No fim da insulsa narrativa, o autor,
sem nenhum acanhamento, se coloca como personagem. Não um personagem com falas
e pensamentos, senão como personagem citado pela protagonista. Elogiosamente
citado.
Depois de tamanha prova de persistência, fui buscar refúgio
e descanso em terreno conhecido. Fui ao Eça. Estou relendo O primo Basílio. Não
pela estória de Luisa, Jorge e Basílio, mas pelo Conselheiro Acácio.
Eça de Queirós nos
deu no século 19 um personagem que continua atualíssimo. Basta abrir algum
sítio informativo na internet ou as redes sociais e lá estão seus seguidores,
seus discípulos. Nas TVs e nas tribunas do Congresso também abundam Acácios.
Poucos livros eu reli, mas filmes eu pude rever alguns.
Chaplin, Felini, todo o neo-realismo italiano, Macunaíma, que a cada vez que
revejo mais graça encontro, Perdidos na noite, que já assisti mais de 20 vezes,
Casablanca e alguns outros.
Mas houve filmes de que gostei e ao revê-los fiquei pensando
se na época que os assisti por primeira vez ou eu era bobo ou andava bebendo
muito. “O último tango em Paris” é um desses. Holywood quando tenta fazer filme
cabeça dá naquilo. Entre os nacionais, Jabor nos brindou com “Eu te amo”, um
dos filmes mais chatos da história do cinema nacional. Além de não contar com
Wilson Grey no elenco, garantia da brasilidade da produção, o filme tenta ser
um “Último tango” de periferia. O engraçado é que quando o assisti no Cine
Imperator do Méier, eu achei o máximo. Culpa, creio, do fim traumático de uma
paixão. O amor tem dessas coisas.
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