quinta-feira, 9 de maio de 2013

Uma sociedade que se esborracha



                Quando eu nasci, a televisão brasileira tinha 7 anos de existência. E eu já ia pelos meus 7 quando meu pai comprou nosso aparelho. Antes, víamos a novidade na casa de minha avó Benita. “O direito de nascer”, eu assisti aí. Mas um dia veio a TV para nossa casa.
                A programação começava pelas 3 ou 4 horas da tarde e ia até meia noite. Lembro-me bem de interromper as brincadeiras no quintal para ver o Super Homem e o National Kid, o Ivanhoé e o Jim das Selvas. A telinha era fascinante.
                Na época se discutia os malefícios da nova tecnologia que dia a dia entrava nos lares da classe média baixa. As mães reclamavam do tempo perdido pelos filhos que ficavam hipnotizados em frente ao aparelho. E um dia o pior aconteceu: um menino amarrou uma toalha no pescoço e tentou voar como o Super Homem. Lançou-se do telhado da casa e esborrachou-se. O caso, eu não sei se é verídico ou apenas lenda urbana, mas nós, meninos, ríamos muito da ingenuidade, tanto do moleque quanto de nossas mães que temiam que fôssemos capazes de cometer o mesmo tipo de tolice.  
                Não foi essa notícia (ou boato) que me influenciou, mas devo confessar que apesar de gostar do Super Homem eu preferia mesmo era o National Kid. Estou convicto que se não fosse por ele os Incas Venusianos já teriam dominado a terra.
                Entre o advento da televisão e a internet, mais de 40 anos passaram. Hoje, são os computadores que fazem algumas mães renegarem da tecnologia. E não sem razão. O que mais preocupa, além do fato de mais de 80% dos acessos à grande rede serem para jogos, é a questão da interatividade, pasto para predadores sexuais e toda sorte de crimes contra os pequenos.
                Assim como a televisão, a internet tem seu lado negativo, mas não se pode negar, nem num caso nem no outro, a maravilha da comunicação. Pode-se dizer que o Brasil se conheceu através da televisão e hoje, a internet está permitindo que conheçamos o brasileiro. E pasmamos.
                Lembro do ingênuo menino dos anos 60 que queria alçar voo e esborrachou-se. Vem-me logo a pergunta:_Está o ser humano, o brasileiro, preparado para essa nova tecnologia? A resposta, como diria o Ministro Marco Aurélio, é desanganadoramente, não.
                No facebook, o ser humano (e o brasileiro é dos que mais acessa essa rede social) se desnuda, se confessa. Nunca antes se viu tamanho despudor em mostrar, em exibir, a alma, o coração e as vísceras. E o que vemos? Uma sociedade brutalizada. E nessa hora da madrugada a vontade é de escrever, imbecilizada.
                Tal qual o menino voador que não sabia distinguir a realidade do que era mostrado numa tela de televisão, os aficionados das redes sociais não sabem reconhecer um factóide, não conseguem perceber a mais óbvia manipulação dos fatos. Nos últimos dias, isso se fez mais patente.
                Nossas autoridades da segurança pública andam fazendo uma operação de “limpeza” nas grandes cidades visando deixá-las seguras e arrumadinhas para os gringos que nos visitarão nos grandes eventos marcados para este e os próximos anos. No Rio, pessoas estão sendo mortas a luz do dia, diante das câmaras de televisão. Em Cuiabá, moradores de rua são chacinados. Quaisquer manifestações de repúdio a esses fatos estão sendo reprimidas com a truculência habitual da polícia. E o que vemos nas redes sociais? Nossos amigos e seus amigos apoiando as ações ilegais. Dizendo que a Globo, por ter criticado as ações policiais no Fantástico do último domingo, está defendendo bandidos. O termo direitos humanos é usado por esses justiceiros do nada, com escárnio. Vira motivo de chacota. Em caixa alta, louva-se a política de extermínio. E tudo isso entre a foto de um cachorrinho e uma citação de Buda.
                Não tenho dúvida, nossa sociedade vai esborrachar-se.




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