sexta-feira, 21 de junho de 2013

Protestos


                Gostaria de ter as certezas que todos parecem ter quanto ao movimento em curso nas nossas ruas.
                No facebook, local de todos os açodamentos, todos os chiliques e todas as bravatas, não há ninguém que tenha dúvidas. Fala-se de gigante que acordou, de povo nas ruas e até de revolução. Segundo li no comentário de uma amiga, uma das palavras de ordem dos manifestantes era “o povo unido não precisa de partido”.  Se alguém me ensinasse como se faz democracia sem partidos e sem voto popular, eu serei o segundo a entoar o mote. Estou louco pra aprender essas novidades.
                Fiquei feliz por ver uma rapaziada de classe média se solidarizando com os usuários do transporte coletivo, ruim e caro. Pouco me importa se aqueles jovens têm carros que ganharam dos papais quando passaram no vestibular. A luta é (ou era) justa e ponto. Mas parece que o motivo mobilizador não agradou a todo mundo e alguns já se envergonham de pedir tão pouco. Algo que começou tão bem, tão justo e tão concreto, parece que vai degringolar numa série de reivindicações abstratas e grandiloqüentes.
                Na TV dos Marinho, Merval Pereira falou de insatisfação generalizada do povo e até citou o mensalão esquecendo-se ou querendo fazer esquecer que durante os 4 meses de julgamento, o rumoroso episódio não mobilizou ninguém.  Merval, não esconde (ou esconde mal) o sentido que a emissora em que trabalha quer dar aos protestos e possivelmente direcioná-los visando 2014. 
                A grande virtude dessas manifestações, segundo a Globo, e muitas vozes anônimas das redes sociais, é seu caráter apartidário.  Despolitização é sinal de modernidade para quase todos os comentaristas.
                Um dos principais inimigos dos manifestantes e dos comentaristas, profissionais ou não, são os vândalos. Qualquer janela quebrada é um Deus nos acuda. Ora, foram “vândalos” que derrubaram a bastilha, foram “vândalos” que derrubaram o muro de Berlin. Querem manifestações bem comportadas? Querem proteger o patrimônio?
                Como é um movimento essencialmente de classe média, um ladrão que foi pego pela polícia durante uma das manifestações, foi agredido por manifestantes depois de estar algemado e sendo conduzido por policiais. A indignação que as agressões da polícia contra os estudantes provocou na sociedade, ficou restrita, como sempre, aos bem nascidos. É consenso entre nossa classe média que ladrão deve apanhar, ficar preso em pocilgas e se morrer é melhor ainda.
                Um  relato que li, dá conta de um gesto heroico de um rapaz que impediu que alguns manifestantes (vândalos?) partissem pra cima de uns policiais que, em menor número, se refugiavam na Assembléia Legislativa do Rio. O herói impediu que fossem linchados. O rapaz sabe de que lado está. Sabe que aqueles policiais um dia lhe serão úteis quando ele escutar “perdeu playboy”, numa esquina da vida.
                Entre muitas atitudes corajosas e atos de despojamento, também houve o ridículo e o patético.
Na tomada do teto do congresso, como faltou repressão, os manifestantes ficaram meio que sem saber o que fazer. Após posarem pra lindas fotos que os profissionais da imprensa captaram e logo publicaram nos sítios informativos, foi a vez dos revoltosos usarem seus inseparáveis smart phones e câmaras digitais para registrarem o momento. E nas TVs os víamos de bermudas e mochilas, andando e fotografando, como turistas visitando a Capital Federal.
                Ao contrário do que muita gente pensa, os piores políticos não estão nada preocupados com as manifestações. Eles sabem que o grosso do eleitorado está pouco se lixando para a PEC 37 ou a reforma política. Se elegerá com sobra de votos quem bater na tecla da diminuição da idade penal e na pena de morte. 
                No Rio, os senhores deputados estaduais já começam a fazer as contas dos reparos que deverão ser feitos nos prédios públicos vandalizados: uma mão de tinta no Paço Imperial, 154 mil reais; vidraças quebradas na Assembléia, 320 mil reais; um carro oficial queimado, 583 mil reais e por aí vai.
                Ano que vem muitos dos que aprovaram aumento das passagens e vários dos que fizeram discursos oportunistas nas tribunas das casas legislativas por ocasião das manifestações, serão reeleitos. A renovação  será pequena como sempre, mesmo porque os manifestantes não se interessam por partidos. Não lhes interessa a política nem se preocupam com o viés direitista que as emissoras de TV e os jornalões estão dando aos seus atos. Se no começo das manifestações eles lutavam contra mais um aumento de passagens e eram demonizados por Jabor e companhia, a partir  de agora serão cada vez mais mimados por quem pensa apenas em tirar o PT do poder e que estava sem discurso e sem candidato para apoiar.




Nenhum comentário:

Postar um comentário