terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cultura Racional, Cientologia, Santo Daime e tem mais


                Não li o livro do Nelson Mota sobre o Tim Maia. Não creio que vá ler nenhum livro do Nelson Mota.Preconceito? É. Preconceito.
                O que vi foi uma entrevista com o autor da biografia do Síndico. Nela, Mota contava um episódio da vida do grande cantor. Dizia que Tim Maia tinha, numa certa época, um carro meio arruinado e sempre levava bote da polícia. Como sempre estava com um bagulho em cima, tinha de morrer numa grana pros canas.
                Um dia ele estava no tal carro com uma rapaziada. Todos duros e a fim de tomar uma saideira. Quando passaram pelos canas de costume, Tim Maia desceu do carro e foi levar um papo com os caras. Quando voltou tinha um qualquer na mão. Tim Maia conseguira arrumar um dinheiro com os canas. Isso, pra mim, é um diploma de malandragem. Tirar dinheiro de polícia é demais.
                Mas mesmo um cara capaz de tal feito, um dia caiu no conto da igreja. Nos anos 70, Tim Maia foi cooptado pela seita Cultura Racional.
                Esta seita fundada pelo ex-umbandista Manoel Jacintho Coelho, é uma dessas coisas bizarras que a gente não entende como consegue adeptos. Seu líder é tratado pelos fieis como “racional superior” e só ele pode interpretar os sinais do outro mundo. Escreveu 1000 livros. Alguns são apenas panfletos de 10 páginas, mas além das obras principais há os livros de réplicas e tréplicas para que não reste dúvida sobre os ensinamentos do mestre racional e superior. O livro famoso que Jacintho legou à humanidade foi “Universo em desencanto”.
                No sítio da seita na internet, está explícito que só Manoel Jacintho Coelho representa a Cultura Racional na terra, pois “só ele manifestou o RACIOCÍNIO previamente desenvolvido” seja lá o que isso signifique.
                Este monopólio das coisas do além nos faz lembrar da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os mórmons. Também nessa seita, o seu líder e fundador, Joseph Smith, foi escolhido para representar os interesses do Todo Poderoso entre os mortais.
                Tal qual Moisés, que subiu ao monte e voltou com os 10 mandamentos, Joseph Smith foi no mato para perguntar a Deus qual seria a igreja verdadeira. Lá, o T. P. lhe disse que nenhuma das que existiam era verdadeira (e olha que já tinha uma porção), nomeou-o profeta, lhe apresentou Jesus Cristo e mandou que ele, Smith, restaurasse a igreja cristã.
                Uma das coisas que distingue os mórmons de outras seitas cristãs, é sua adesão à poligamia. Ora, até eu que sou mais bobo teria inventado essa “restauração” dos velhos costumes hebreus se vivesse em meio a uma sociedade puritana e avessa ao sexo como era e é a sociedade americana.
                Quando tinha alguma dúvida sobre a opinião de Deus, Smith consultava o fundo de uma cartola e via nela as respostas para todo tipo de questionamentos. Só ele sabia ler cartolas.
                Creio que essa parte da cartola vai aos poucos sendo esquecida pelos mórmons. Não é à toa. É muita bizarrice. O mesmo acontece com os seguidores da cientologia no que tange à origem de seu credo.
                Muitos de seus membros desconhecem a teogonia da seita criada por Ron Hubbard, um escritor de ficção científica que levou para o templo suas viagens ficcionais.
               O mito da criação do mundo dos cientologistas é dos mais esdrúxulos já inventados. É ficção científica de segunda. Parece desenho animado japonês, mas é religião.
                Não sei se Hubbard obteve algum êxito como ficcionista, mas a cientologia é um sucesso entre as estrelas de Hollywood. Travolta, Tom Cruise e até a gostosinha da Juliette Lewis, entre outros, fazem parte da elite dos endinheirados que aportam verdadeiras fortunas para a seita que tem status de religião não só nos EE.UU como em vários outros países do “primeiro mundo”.
                Claro que religiões muito doidas não são privilégio dos países ricos, pelo contrário. Aqui mesmo no Brasil, além da Cultura Racional, temos, e exportamos, o Santo Daime.
                Criação genuinamente cabocla, o Daime também recebe os benefícios de ser uma religião. Até o uso da ayahuasca, que é droga para todo mundo, foi permitido pelo então presidente Sarney como elemento de culto religioso dos daimistas.
                A morte do cartunista Glauco e de seu filho pelas mãos de outro adepto da seita da qual ele, Glauco, era uma liderança, jogou alguma luz sobre o Santo Daime e suas várias vertentes. Alguns de seus líderes foram convidados para uma audiência pública na Câmara dos Deputados para falarem da morte de Glauco e dar algumas explicações sobre a seita. O que se viu foi um bando de doidos de pedra fazendo proselitismo e acusando-se uns aos outros de adulteração dos maravilhosos princípios de Raimundo Irineu Serra, o fundador da seita amazônica e estrambótica.
                Mas nada, nada mesmo, se compara como a Legião da Boa Vontade quando se trata de culto à personalidade e à sapiência de seu líder. Na TV da seita não há um minuto sequer que o nome de Paiva Neto e seus títulos não sejam mencionados. Até no programa que dá dicas de português no estilo Professor Pasquale, os exemplos são colhidos da copiosa obra de Paiva Neto.
                Em suas pregações, ele lê trechos dos próprios livros e não da bíblia. Compõe músicas atrozes que são interpretadas por grande orquestra e coro multitudinário nas celebrações mais importantes da seita. Foi ele quem idealizou o monstruoso templo que tem pretensão de ser harmônico com a obra de Niemeyer, em Brasília. Nas paredes do monstrengo estão incrustadas frases suas que fariam corar o Conselheiro Acácio.
                Agora, Paiva Neto deu para fazer pose de Chico Xavier. Enquanto sua voz retumba numa entonação de profeta de filme de Cecil B. DeMille, vemos no alto da tela de sua TV, o gênio com a mão na testa e movendo os lábios como se estivesse psicografando mensagens do além.
                Haja cara de pau.







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