sábado, 7 de setembro de 2013

Sem moral


Em 90, o Brasil formou uma seleção medíocre. Nosso técnico, Sebastião Lazaroni, era, e é, uma dessas farsas que, mexe e vira, aparecem no futebol.  Selecionou mal, escalou mal e inventou um esquema que não funcionou. Era a geração Dunga.
Naquele mundial, a seleção brasileira fez uma única boa partida e foi justamente contra a Argentina. Mas no final saímos derrotados por 1X0, gol de Cannigia num passe perfeito de Maradona.
Depois da derrota, o Branco, nosso lateral esquerdo, que viria a jogar o mundial de 94 e marcaria o gol decisivo contra a Holanda na semi-final, saiu dizendo que havia se sentido estranho, com tonturas, depois de ter bebido água oferecida pelos argentinos durante a partida. Aquele papo me doeu mais que a derrota. Me pareceu a típica desculpa esfarrapada de quem perdeu para o maior rival.
Anos depois, Maradona foi a um programa da TV Argentina e confirmou a história da água batizada. Contou o episódio entre risos, fazendo galhofa. Deu detalhes. Disse que depois de Branco ter tomado da garrafinha preparada, Valdo se aproximou e ele, Maradona, ficou torcendo:_Que la tome, que la tome.
 A atitude criminosa dos argentinos foi gozada enormemente por Maradona. Eu vi um trecho do programa aqui, na ESPN Brasil. Foi algo triste de assistir. Principalmente pela intervenção de José Trajano que preferiu desqualificar o programa ao qual comparecera o ex-craque que comentar suas declarações.  Isso aconteceu bem antes da última internação de Maradona, quando muitos pensaram que ele iria morrer.
A ilegalidade cometida pelos argentinos poderia ter custado a carreira de Branco caso ele fosse para o exame anti-dopping. Alguma substância apareceria no exame e até explicar que focinho de porco não é tomada, ele sofreria sanções e cairia em descrédito. Dificilmente teria jogado a Copa de 94.
Nessa semana tomamos conhecimento de uma reunião realizada na sede do Corinthians em que se discutiu a moralização do futebol sulamericano. Estavam presentes, entre outros, Romário, Careca, Maradona e Andrés Sanches.
Não bastasse a presença de Maradona, que deixou de ter qualquer credibilidade ou autoridade moral depois dos comentários sobre a dopagem dos brasileiros no mundial de 90, também a figura de Andrés Sanches deslustrou a reunião.
Sanches, para quem já esqueceu, apoiava o presidente do Corinthians, Alberto Dualib quando este fez a parceria com a empresa MSI da qual Kia Joorabchian era o testa de ferro. Sanches era do conselho deliberativo do clube e fez campanha pela assinatura do acordo com a empresa que já era alvo de investigação. Seu proprietário era procurado pela polícia inglesa por falcatruas. A revista Caros Amigos fez enorme matéria sobre o tema. Apontou todas as irregularidades que a MSI cometeu na Europa. Mostrou que se tratava de uma máfia. Também Juca Kfouri falou e escreveu a respeito. Sanches não titubeou em apoiar a parceria que se concretizou bem depois que todas as denúncias, fartamente documentadas, saíram na imprensa. Um dia a casa caiu, deixando o clube sob visitas constantes da polícia e seu sócio, Kia Joorabchian, pedido pela justiça.
Logo após o escândalo que culminou com a deposição de Dualib da presidência do Corinthians, Sanches compareceu à Câmara dos deputados para prestar esclarecimentos. Lá fez o papel que todos os pilantras engravatados do país fazem quando são pegos em flagrante: falou do filhinho e chorou. Sanches chorou. Sem uma lágrima, mas chorou.
Depois tornou-se presidente do clube que sob sua gestão ganhou vários títulos. A imprensa passou a elogiá-lo como gestor. Continuou elogiando mesmo depois de Sanches ter declarado em entrevista que o estádio do Corinthians está sendo construído por valor muito abaixo do de mercado e que se fosse investigada a operação que possibilitou tal milagre, não seria ele que iria sair mal da situação. Dizendo isso deixou mal seu amigo Lula que, segundo consta, teve papel fundamental na intermediação entre o BNDES, financiador da obra, e a empreiteira que é dona de contratos gigantescos com o Governo Federal. Depois da entrevista, já não sei se Sanches e Lula continuam amigos.
Como uma reunião na qual estão presentes pessoas como Maradona e Andrés Sanches, pode gerar algo positivo? Como pode ser moralizadora uma simples frase dita por tais personagens? Não vejo nenhuma diferença entre Andrés Sanches e os dirigentes da Conmebol. A falta de ética de Maradona é a mesma dos homens que comandam o futebol no continente.




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