sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Ispiquíngliche?

                Outro dia, lendo um texto publicado aqui nesse mesmo espaço e pela minha mesma pessoa, encontrei dois erros de português dos mais grosseiros, mais crassos, mais primários. Na verdade, era o mesmo erro repetido duas vezes em dois parágrafos distintos. Problema com pronomes, um “lhe” no lugar de “o”. O mesmo erro cometido duas vezes é pior do que dois erros.
                Depois de passados aqueles momentos de vergonha por saber que você havia notado e, por pura gentileza, não comentara, busquei consolo no fato de que Chico Buarque cometeu o mesmo erro na letra do samba “Quem te viu, quem te vê” quando diz:_ “de dourado lhe vestia pra que o povo admirasse”  No mesmo instante fiz a correção (pelo menos assim penso)  e, solenemente, prometi aos meus botões não mais apontar os erros alheios que encontro por aí.
                Como vê já estou alegremente descumprindo a promessa metendo o grande compositor nos meus desacertos com a gramática. E você aí pensando:_ Ele acha que só erra com pronomes...
                Claro, tem coisas mais importantes que o uso correto do idioma. Mas, pelo menos, que os erros sejam cometidos no idioma pátrio. Digo isso porque acabo de ler no facebook um convite para um mutirão de limpeza de uma das praias da cidade em que vivo. Vou logo adiantando que não vou participar do mutirão. Uso como desculpa minha idade provecta. Fora jovem, possivelmente iria. Nessas ocasiões há sempre a possibilidade de se comer alguém depois da limpeza e da confraternização. Eu já fui bom nisso, mas hoje deixo para os mais jovens o esforço físico e a possível trepada.
                 Mas, como ia dizendo, recebi o convite pelo facebook e vi que a chamada era em inglês, sim, em inglês.
                 Nossa pequena cidade, embora turística, não recebe gente que fale inglês. Salvo um ou outro, muito de vez em quando e em pleno verão. Nessa época do ano, sequer nossos visitantes habituais, os argentinos, estão por aqui. Somos todos brazucas. todos falamos português. Há os residentes argentinos e uruguaios que também se comunicam em português. Mas lá estava, em letras grandes, coloridas e bem desenhadas, o mote do mutirão: BEACH CLEAN. Assim mesmo, em maiúsculas. Sob o cartaz, um pequeno texto em português com um erro de concordância no melhor estilo Dunga. E para finalizar um agradecimento antecipado pela presença de todos: Tank you. Pois é, tank you.
                O que parece esdrúxulo, tolo, caipira mesmo, não é novidade na cidade. Logo que vi a postagem poluidora, lembrei-me dos cartazes de negócios que aqui funcionam. Lembrei-me do Atelier de Beleza Ju and Camila que, entre outros serviços, oferece o mega hair. Da loja Deep street, que, solidária, faz campanha do agasalho. Da Home care que presta serviço de acompanhamento psicológico. Da Garage sale Super bacana, que não é garagem, é venda de garagem, igualzinho nos filmes americanos. (É um conceito, diriam os mudernos).  Da Chillies Pink, que menciona em seu anúncio um esmalte afrodisíaco. Da Bless store. Da Bookafé onde há karaokê gospel, ou seja: tudo pode ser pior. E tem mais, muito mais. Até no supermercado tem o sushi man. Ora, se a comida é japonesa, o cara que a prepara é cearense e nós falamos português, por que o “man”?
                Se quisermos consumir a intragável iguaria, temos opção mais elegante no Sushi Soul ou se preferirmos há um Personal sushi.
                Quando não são os comerciantes locais que batizam seus estabelecimentos usando inglês de cursinho, são os de fora que trazem seu contributo. Um pessoal que veio selecionar modelos entre nossas beldades nominou o evento de Garopaba Fashion & Beauty Day. Teve também o anúncio do Festival Culture of life, mas esse não foi aqui. Aconteceu no Paraíso Eco Lodge, em São Paulo.

                 E o pessoal é zeloso da pronúncia ainda que descuide da grafia. Uma loja se chama Irresistible (em inglês, claro) mas o proprietário, de certo para não escutar o nome de seu negócio pronunciado como palavra castelhana pelos argentinos que nos visitam, visto que a grafia é a mesma nos dois idiomas, acrescentou um acento agudo no “E” e lá está o cartaz: Irrésistible. Em inglês.

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