Outro dia, lendo um texto
publicado aqui nesse mesmo espaço e pela minha mesma pessoa, encontrei dois
erros de português dos mais grosseiros, mais crassos, mais primários. Na
verdade, era o mesmo erro repetido duas vezes em dois parágrafos distintos. Problema
com pronomes, um “lhe” no lugar de “o”. O mesmo erro cometido duas vezes é pior
do que dois erros.
Depois de passados aqueles
momentos de vergonha por saber que você havia notado e, por pura gentileza, não
comentara, busquei consolo no fato de que Chico Buarque cometeu o mesmo erro na
letra do samba “Quem te viu, quem te vê” quando diz:_ “de dourado lhe vestia
pra que o povo admirasse” No mesmo
instante fiz a correção (pelo menos assim penso) e, solenemente, prometi aos meus botões não
mais apontar os erros alheios que encontro por aí.
Como vê já estou alegremente
descumprindo a promessa metendo o grande compositor nos meus desacertos com a
gramática. E você aí pensando:_ Ele acha que só erra com pronomes...
Claro, tem coisas mais
importantes que o uso correto do idioma. Mas, pelo menos, que os erros sejam
cometidos no idioma pátrio. Digo isso porque acabo de ler no facebook um
convite para um mutirão de limpeza de uma das praias da cidade em que vivo. Vou logo
adiantando que não vou participar do mutirão. Uso como desculpa minha idade
provecta. Fora jovem, possivelmente iria. Nessas ocasiões há sempre a
possibilidade de se comer alguém depois da limpeza e da confraternização. Eu já
fui bom nisso, mas hoje deixo para os mais jovens o esforço físico e a possível
trepada.
Mas, como ia dizendo, recebi o
convite pelo facebook e vi que a chamada era em inglês, sim, em inglês.
Nossa pequena cidade, embora turística, não
recebe gente que fale inglês. Salvo um ou outro, muito de vez em quando e em
pleno verão. Nessa época do ano, sequer nossos visitantes habituais, os
argentinos, estão por aqui. Somos todos brazucas. todos falamos português. Há os residentes argentinos e
uruguaios que também se comunicam em português. Mas lá estava, em letras grandes,
coloridas e bem desenhadas, o mote do mutirão: BEACH CLEAN. Assim mesmo, em
maiúsculas. Sob o cartaz, um pequeno texto em português com um erro de concordância
no melhor estilo Dunga. E para finalizar um agradecimento antecipado pela
presença de todos: Tank you. Pois é, tank you.
O que parece esdrúxulo, tolo, caipira
mesmo, não é novidade na cidade. Logo que vi a postagem poluidora,
lembrei-me dos cartazes de negócios que aqui funcionam. Lembrei-me do Atelier de
Beleza Ju and Camila que, entre outros serviços, oferece o mega hair. Da loja
Deep street, que, solidária, faz campanha do agasalho. Da Home care que presta
serviço de acompanhamento psicológico. Da Garage sale Super bacana, que não é
garagem, é venda de garagem, igualzinho nos filmes americanos. (É um conceito,
diriam os mudernos). Da Chillies Pink,
que menciona em seu anúncio um esmalte afrodisíaco. Da Bless store. Da Bookafé onde há karaokê gospel, ou seja: tudo pode ser pior. E tem mais, muito mais. Até
no supermercado tem o sushi man. Ora, se a comida é japonesa, o cara que a
prepara é cearense e nós falamos português, por que o “man”?
Se quisermos consumir a
intragável iguaria, temos opção mais elegante no Sushi Soul ou
se preferirmos há um Personal sushi.
Quando não são os comerciantes
locais que batizam seus estabelecimentos usando inglês de cursinho, são os de
fora que trazem seu contributo. Um pessoal que veio selecionar modelos entre
nossas beldades nominou o evento de Garopaba Fashion & Beauty Day. Teve
também o anúncio do Festival Culture of life, mas esse não foi aqui. Aconteceu
no Paraíso Eco Lodge, em São Paulo.
E o pessoal é zeloso da
pronúncia ainda que descuide da grafia. Uma loja se chama Irresistible (em
inglês, claro) mas o proprietário, de certo para não escutar o nome de seu
negócio pronunciado como palavra castelhana pelos argentinos que nos visitam,
visto que a grafia é a mesma nos dois idiomas, acrescentou um acento agudo no “E”
e lá está o cartaz: Irrésistible. Em inglês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário