segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Democracia à americana


Dias atrás, Angela Merkel, a chanceler alemã, desfilou seu charme e sua graça pelo campo de concentração de Dachau.  Foi a primeira vez que uma autoridade alemã de alto rango visitou o campo.  A oposição alemã classificou a visita como eleitoreira. Como desconheço profundamente os meandros da política alemã, tenho de me contentar em ficar assombrado ao saber que uma visita a um campo de concentração, onde morreram quase 42 mil pessoas e outras 200 mil passaram pelas piores provações, pode trazer benefícios eleitorais.
E o que disse a chanceler no breve discurso que proferiu durante a visita? Bem, a chanceler mentiu. Mentiu descaradamente. Ademais de expressar tristeza e vergonha pelos fatos ali ocorridos, Merkel emendou, referindo-se ao campo que serviu de modelo aos tantos outros que os nazistas espalharam pela Europa:_” um capítulo terrível e sem precedentes na nossa história”.
Ora, Dona Angela, como assim “sem precedentes”? E o império colonial alemão? E o que aconteceu na Namíbia, em Tanganika, no Togo, em Camarões, não conta? Não, não conta. Para os Europeus o que se passa abaixo do equador não conta. As ossadas insepultas do deserto da Namíbia não contam. Não contam os massacres, as chacinas que os alemães, assim como todos os outros impérios coloniais, promoveram na África. Lá houve campos de concentração que em muito precederam Dachau. Bantustões que anteciparam ou sucederam o gueto de Varsóvia. Houve solução final para grupos étnicos inteiros. Houve o mesmo racismo baseado na mesma “ciência” que subsidiou o nazismo e seu etnocentrismo.  E olha que nem são fatos acontecidos num passado remoto. Há menos de cem anos, os europeus (Alemanha inclusa) praticavam toda espécie de atrocidades contra aqueles que não entregavam sem resistência a força de seus braços, suas terras e suas riquezas para o enriquecimento de comerciantes brancos e seus impérios. Em muitos aspectos essas práticas continuam comuns na África.
 Dona Angela pode mentir sobre fatos fartamente documentados e até mesmo fotografados. Ela é chanceler da maior economia européia e além do mais está em campanha para sua reeleição. Faz parte das atribuições de quem dirige impérios e potências, mentir.
Mas convenhamos: a mentira de Angela Merkel é quase que universalmente aceita. Parece, vendo os documentários da BBC e os filmes de Hollywood, que o único europeu a cometer atrocidades foi Hitler. Que o único momento de brutalidade sem limites foi durante o período nazista. Os fatos do colonialismo europeu nos quatro cantos do mundo já vão acumulando a poeira das coisas que não se deixam tocar, que ninguém quer tocar. Dona Angela pode dizer que as atrocidades de Dachau não tiveram precedentes. Que só Hitler foi genicida.
Agora, mentir sobre o que está acontecendo nos dias de hoje e que nos chega diariamente pela tela da TV, é tarefa da qual se incumbe Obama.
 O hawaiano quer nos fazer crer que vai levar paz, democracia e liberdade à Síria assim como seu antecessor fez no Iraque e ele próprio na Líbia. Obama está pouco se lixando se vemos ou não o que está se passando no Iraque onde há uma década os americanos foram levar paz, democracia e liberdade.
Para que o ditador Sírio deixa de matar pessoas com gás sarin, os americanos vão matá-las primeiro com suas bombas de meia tonelada, com seus mísseis disparados de distância segura para que nenhuma vida estadunidense seja desperdiçada num país de terceiro mundo. Depois vão cobrar as despesas da guerra assim como fizeram no Iraque. A democracia à americana sai caro.




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