domingo, 8 de setembro de 2013

Para o fim do segredo, cara-de-pau


A Câmara aprovou em segundo turno o fim do voto secreto para todas as votações naquela casa. Já era tempo.
Os constituintes de 88 quando instituíram tal prática, o fizeram, penso eu, para evitar pressões e retaliações na hora do parlamentar se pronunciar sobre cassações, indicações etc. O que se viu com o decorrer dos anos foram deputados e senadores se escondendo atrás do voto secreto para perpetrar o mais escandaloso corporativismo. O recente episódio que envolveu Natan Donadon foi o melhor exemplo. Nem o próprio presidiário acreditava na manutenção do cargo e sem embargo teve seu mandato convalidado por seus pares, embora ninguém assuma que votou a seu favor, muito pelo contrário.
No parecer de analistas políticos e outros palpiteiros, foi a pressão das ruas que acabou por convencer os deputados a entregarem os anéis para não perderem os dedos. O caso do deputado-presidiário (ou presidiário-deputado) teria ultrapassado todos os limites.
Agora, cá entre nós, o fim do voto secreto não irá pôr fim ao corporativismo, não impedirá que parlamentares continuem exercendo o mandato mesmo depois de atos ilícitos, de falta de decoro, da mais explícita roubalheira. Para a cara-de-pau da maioria dos parlamentares, não há lei que dê jeito. Um caso emblemático foi o de Sarney.
Toda a imprensa denunciou os atos secretos do Senado e o nepotismo do velho coronel. Gravações de conversas entre o clã maranhense foram mostradas na TV em horário nobre. Num certo momento parecia que a casa, ou melhor, a mansão ia cair, mas lá está ele, cumprindo (?) seu mandato para o qual foi eleito pela maioria do povo amapaense.
Não foi preciso voto secreto para que Collor, Renan e tantos outros saíssem em sua defesa fazendo iracundos discursos, pondo a cara para defender sua permanência na presidência do Senado. Até mesmo a imprensa de esquerda (?) publicou artigos e mais artigos falando em governabilidade para afirmar que nada deveria ser feito, que Sarney deveria permanecer intocado no seu posto. E assim foi. Lá ficou Sarney até ser substituído por outra joia rara da política nacional, Renan Calheiros.
As práticas, fartamente demonstradas, de Sarney como presidente do Senado, seriam motivo mais que suficiente para que ele fosse destituído da presidência da casa e perdesse o mandato. Ali havia de tudo: falta de decoro, peculato, nepotismo e muita, muita cara-de-pau.
Os que o apoiaram não temeram as urnas, apostaram no esquecimento e em que novos escândalos surgiriam para tornar o caso dos atos secretos em coisa menor, quase uma piada de salão, como diria Delúbio Soares.
Poucos meses, talvez semanas, são suficientes para que o eleitorado esqueça que seu representante votou pela manutenção do mandato de algum vigarista. Se até mesmo os vigaristas são eleitos depois. Veja o Arruda que violou o painel de votação do Senado, renunciou e foi eleito governador do Distrito Federal. O Paulo Afonso, ex-governador de Santa Catarina que foi cassado por seu envolvimento no escândalo dos precatórios e voltou deputado. Genebaldo Correia, anão do orçamento que se elegeu prefeito de Santo Amaro da Purificação, terra de Dona Canô. O próprio Collor que obteve o mandato de senador depois de ter sido corrido da presidência. Os exemplos são incontáveis.

Em breve veremos o baixo clero do parlamento e mesmo figurões e donos de partidos, darem abertamente seu voto para salvar o mandato de algum colega corrupto e depois correrem alegremente para os palanques em busca de suas reeleições.

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