A Câmara aprovou em segundo turno o
fim do voto secreto para todas as votações naquela casa. Já era tempo.
Os constituintes de 88 quando instituíram
tal prática, o fizeram, penso eu, para evitar pressões e retaliações na hora do
parlamentar se pronunciar sobre cassações, indicações etc. O que se viu com o
decorrer dos anos foram deputados e senadores se escondendo atrás do voto
secreto para perpetrar o mais escandaloso corporativismo. O recente episódio
que envolveu Natan Donadon foi o melhor exemplo. Nem o próprio presidiário
acreditava na manutenção do cargo e sem embargo teve seu mandato convalidado
por seus pares, embora ninguém assuma que votou a seu favor, muito pelo
contrário.
No parecer de
analistas políticos e outros palpiteiros, foi a pressão das ruas que acabou por
convencer os deputados a entregarem os anéis para não perderem os dedos. O caso
do deputado-presidiário (ou presidiário-deputado) teria ultrapassado todos os
limites.
Agora, cá entre nós, o
fim do voto secreto não irá pôr fim ao corporativismo, não impedirá que
parlamentares continuem exercendo o mandato mesmo depois de atos ilícitos, de
falta de decoro, da mais explícita roubalheira. Para a cara-de-pau da maioria
dos parlamentares, não há lei que dê jeito. Um caso emblemático foi o de
Sarney.
Toda a imprensa
denunciou os atos secretos do Senado e o nepotismo do velho coronel. Gravações
de conversas entre o clã maranhense foram mostradas na TV em horário nobre. Num
certo momento parecia que a casa, ou melhor, a mansão ia cair, mas lá está ele,
cumprindo (?) seu mandato para o qual foi eleito pela maioria do povo
amapaense.
Não foi preciso voto
secreto para que Collor, Renan e tantos outros saíssem em sua defesa fazendo iracundos
discursos, pondo a cara para defender sua permanência na presidência do Senado.
Até mesmo a imprensa de esquerda (?) publicou artigos e mais artigos falando em
governabilidade para afirmar que nada deveria ser feito, que Sarney deveria
permanecer intocado no seu posto. E assim foi. Lá ficou Sarney até ser substituído
por outra joia rara da política nacional, Renan Calheiros.
As práticas,
fartamente demonstradas, de Sarney como presidente do Senado, seriam motivo mais
que suficiente para que ele fosse destituído da presidência da casa e perdesse
o mandato. Ali havia de tudo: falta de decoro, peculato, nepotismo e muita, muita
cara-de-pau.
Os que o apoiaram não
temeram as urnas, apostaram no esquecimento e em que novos escândalos surgiriam
para tornar o caso dos atos secretos em coisa menor, quase uma piada de salão,
como diria Delúbio Soares.
Poucos meses, talvez
semanas, são suficientes para que o eleitorado esqueça que seu representante
votou pela manutenção do mandato de algum vigarista. Se até mesmo os vigaristas
são eleitos depois. Veja o Arruda que violou o painel de votação do Senado, renunciou
e foi eleito governador do Distrito Federal. O Paulo Afonso, ex-governador de
Santa Catarina que foi cassado por seu envolvimento no escândalo dos
precatórios e voltou deputado. Genebaldo Correia, anão do orçamento que se
elegeu prefeito de Santo Amaro da Purificação, terra de Dona Canô. O próprio
Collor que obteve o mandato de senador depois de ter sido corrido da
presidência. Os exemplos são incontáveis.
Em breve veremos o
baixo clero do parlamento e mesmo figurões e donos de partidos, darem
abertamente seu voto para salvar o mandato de algum colega corrupto e depois
correrem alegremente para os palanques em busca de suas reeleições.
Nenhum comentário:
Postar um comentário