sábado, 15 de novembro de 2014

A indignação seletiva



Qual a diferença entre a corrupção nos governos do PT e a corrupção havida em governos anteriores? Me parece que nenhuma. Muitos dos malfeitos, inclusive, vêm do passado, mudando apenas os titulares dos ministérios, das estatais, das autarquias. Os corruptores são os mesmos, com pequenas variações. Para usar a linguagem dos comentadores e palpiteiros de agora, pode-se dizer que novos “players” aparecem para substituir alguns que já não podem pôr a cara. Também na corrupção, não há vácuo.
Mesmo o mensalão, o caso mais rumoroso de corrupção, ainda que menos danoso aos cofres públicos que outros, não foi criação do PT. Seu operador, Marcus Valério, já havia prestado seus serviços ao governo tucano de Minas e como mostraram suas sucessivas prisões enquanto a ação 470 era julgada, continuava pondo seu esquema em funcionamento para quem se interessasse.
A corrupção seria o calcanhar de Aquiles das administrações petistas. Pelo menos na ótica seletiva da oposição de direita. Fora isso, só as bobagens bolsonarescas que pululam nas redes sociais como as referências ao porto de Muriel, bolivarianismo  e outras patacoadas.
 A direita não pode criticar o pouco caso do governo com relação aos índios, quilombolas, “deslocados” para construção de represas e outras minorias sem voz. Isso a direita aprova com um cínico silêncio. Isso a direita fez também. Então ela se agarra à corrupção como se nos governos anteriores ela não tivesse existido. Apostam na pouca idade de uns e na burrice de outros para entoar a cantilena enfadonha. E tem gente que vai atrás.
Claro, isso que vai escrito não é mais que um exercício de ingenuidade. O que a oposição de direita e quem nela finge acreditar odeiam no PT não é a corrupção, não é o financiamento do Porto de Muriel, não é a política externa de Lula e Dilma, não é o “bolivarianismo”.  O que essa gente odeia são os pobres. A relação estreita entre os governos do PT e as classes desfavorecidas.
A indignação seletiva no caso da corrupção é uma mera fachada de ódio aos que recebem o Bolsa Família, às cotas nas universidades, ao acesso de pessoas pobres aos bens de consumo e à cultura.
O que quer a classe média indignada não é a moralização da coisa pública. Querem empregadas domésticas sem direitos nem opções de trabalho. Querem porteiros submissos e sem instrução. Querem exclusividade nos seus antros de consumo. Querem que uma viagem de avião lhes confira status social e uma ida ao Municipal, ares de refinamento.


Nenhum comentário:

Postar um comentário