A hostilidade dos médicos brasileiros para com seus colegas
cubanos mostrou, entre outras coisas, o conceito que se tem no país sobre as
universidades públicas.
Do argumento pífio da qualificação “duvidosa” dos médicos de
Cuba, facilmente desmentida pela avaliação que faz a OMS da medicina daquele
país, os ressentidos médicos brasileiros passaram a ser defensores dos
profissionais cubanos argumentando que recebiam salários ínfimos ficando o
governo cubano com a maior parte da remuneração paga pelo governo brasileiro.
Falou-se até de trabalho escravo.
Claro, os médicos brasileiros, em sua grande maioria, jamais
vão entender que têm uma dívida para com a sociedade que os formou. Nem médicos
nem outras categorias profissionais formados nas universidades públicas.
Obviamente que não são todos os detentores de diplomas universitários que fazem
de sua habilitação profissional uma mercadoria. Há quem contribua muito com o
país e com a população. Mas justamente os que representam essas profissões,
através dos conselhos, sindicatos e outras entidades corporativas, são os que
mais demonstram desprezo às pessoas e à sociedade.
Um cidadão cubano sabe o quanto custou sua formação. Sabe que
deve prestar serviços para a sociedade que financiou seus estudos. Mesmo que
esses serviços sejam fora de seu país se o governo, que é quem gere as
universidades, assim determinar. O brasileiro não. O estudante universitário
brasileiro pensa que tudo é fruto de seu esforço pessoal e assim sendo ele tem
o direito de fazer o que bem entende depois de formado.
Diferentemente dos estadunidenses que bancam sua formação
universitária, dentro do espírito do capitalismo, sendo, portanto, donos de seu
cabedal de conhecimentos, os brasileiros crêem que têm o direito de freqüentar
as universidades pagas por todos e depois levar os conhecimentos adquiridos a
qualquer parte ou vendê-los por preços inacessíveis aos que contribuíram com
sua qualificação.
Será justo que os impostos de todos financiem a realização
individual de alguns sem nenhuma contrapartida social?
Será justo que todos paguem para que pessoas situadas no topo
de pirâmide social estudem de graça?
Um levantamento feito na USP pela Fundação Getúlio Vargas apontou que mais de 50% dos calouros de 2014 pertencem ao grupo dos 20% mais ricos da população. Entre os outros 50%
tampouco vamos encontrar pobres. Talvez uma ínfima minoria.
Será justo que os ricos e remediados ocupem as vagas das
universidades públicas e que os pobres tenham que pagar pelos seus estudos?
Eu acho que não. Penso que universidade pública e gratúita
deve ser para quem é oriundo da escola pública e gratúita. Se esse não é o critério
justo, que se adote outro, mas algum critério deve haver.
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