Agora ninguém mais assiste televisão quieto. Todos os
programas informativos têm seus canais de comunicação com os telespectadores
e estes não dão sossego. Basta uma frase, meia frase e os dedos nervosos
começam a digitar para comentar aquilo que nem escutaram. Refletir ficou
totalmente fora de moda. O negócio é interagir.
Nos programas esportivos esse hábito chega ao paroxismo. Os jornalistas
passam grande parte de seu tempo repetindo coisas que foram mal interpretadas
por idiotas patológicos hiper interativos.
Bem que outro dia um desses chatos falando sobre a paixão
pelo futebol, fez uma comparação desta com a paixão pela mulher. O comentário
do apresentador foi óbvio. Disse o moço
que o mundo está cheio de casais divorciados, mas ninguém se divorcia do seu
time. Claro, isso só vale para quem tem time de verdade e não para os neo-torcedores
brasileiros que deram para inventar paixões pelo Barcelona, pelo Real Madrid,
pelo Manchester, pelo Arsenal. Nesses casos o divórcio não é apenas uma
possibilidade, como no casamento, é algo tão certo como é certo que o futebol é
cíclico e quem está lá em cima vai estar por baixo algum tempo depois.
Essas falsas paixões tendem a terminar tão logo seque o poço
dos títulos e das vitórias. Esses que trocam seu time de infância por algum
time estrangeiro da moda, fazem o mesmo com as amadas tão logo aparecem as
primeiras rugas, as primeiras celulites. Volúveis em tudo jamais saberão das dores e
delícias de uma segunda divisão, de um jejum de títulos. Jamais verão como ela
continua linda com aquelas rugas emoldurando os olhos quando ri.
Eu tenho cá minhas paixões, as mesmas desde sempre. Muitas
vezes tristes, mas paixões duradouras. A primeira foi o Galo, paixão tão antiga
que nem tem data. Esqueci, como no bolero de João Bosco e Aldir Blanc, nosso
começo inesquecível. A segunda foi a Seleção Brasileira.
Foi aos doze anos, quase treze, que eu vi Félix, Carlos
Alberto, Brito, Piazza e Everaldo;
Clodoaldo, Gerson e Rivelino; Jairzinho, Pelé e Tostão ganharem nosso
terceiro título nos gramados do México. Quem os viu sabe do que estou falando.
Não havia como não se apaixonar pela melhor seleção de todos os tempos jogando
o mais lindo futebol jamais visto e nunca superado. Esse time passou, ficou a paixão.
Só mais tarde é que soube que uma mulher podia fazer meu
coração bater tanto.
Mas agora estou de mal. Não morreu a paixão, mas a vi nos
braços de outro. De um outro qualquer.
Logo mais, minha Seleção, minha paixão de menino, vai jogar um
amistoso e eu não vou assistir. A seleção vai jogar sob o comando de Dunga, um
tipo qualquer.
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