segunda-feira, 7 de março de 2016

O jeitinho brasileiro e o grego internacional





            Lembrei de um artigo do João Saldanha publicado no Jornal do Brasil lá pelo fim dos 70. Saldanha comentava essa história dos brasileiros se sentirem mais malandros que outros povos. (Malandragem usada aqui e no artigo do mestre no sentido de esperteza, viveza, sagacidade). Escrevia que em todo mundo existia entre as populações o mito de se acharem mais espertos e sagazes que seus vizinhos próximos ou distantes. João citava povos realmente malandros, mas dizia que malandro mesmo é o grego internacional. Veja que não se trata de qualquer grego, mas do grego internacional. "Deixe um grego internacional nu no meio do deserto e depois de alguns anos você vai encontrá-lo dono de vários poços de petróleo e possuidor de um harém", dizia.
            Se formos pensar que Onassis começou sua fortuna falsificando cigarros em Buenos Aires (ou catando guimbas, na versão de Nelson Rodrigues) e que Maria Callas arrastava um bonde por ele, temos de dar razão ao gaúcho mais carioca que já existiu.
            Outro mito que gostamos de cultivar é o do jeitinho brasileiro. Nesse caso, o mito vem carregado do espírito udenista de nossa classe média. O termo é sempre, ou quase sempre, usado pejorativamente. O jeitinho seria, segundo esses homens e mulheres de bem, a causa de todas as nossas mazelas. Mostraria nossa herança macunaímica, nosso gosto pelo menor esforço, nossa falta de caráter.
            Na Argentina o que chamamos de jeitinho brasileiro é conhecido por viveza criolla e eles também creem que são os inventores desse modo de vida. Não conheço outros países para afirmar que o jeitinho é tão universal quanto a pretensa malandragem, mas desconfio que deva haver um jeitinho alemão, um jeitinho norueguês, um jeitinho vietnamita e na Grécia, berço da filosofia ocidental e do grego internacional haverá, certamente, um jeitinho grego.

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