A verdade é que vivemos tempos
idiotas. Outros tempos também tiveram suas idiotices, você dirá, e eu concordo.
Mas o que estou dizendo é outra coisa. Digo que tudo a nossa volta é idiotice.
Temos que conviver com o Teló, com as stand up comedy (uma coisa tão horrível
que nem tradução tem), com os neo-pentecostais, com a novela da Globo, com os
neo-comentaristas esportivos, com a mais medíocre geração de políticos, com os
(ch)ateus organizados, com os reality shows (outra besteira sem tradução) e com
toda espécie de pesquisas e estudos em todos os campos da atuação humana e fora
dela.
Dessas pesquisas e estudos saem
relatórios que poucos anos atrás teriam o destino de ir dormir em seus túmulos acadêmicos
cumprindo assim sua função social de dar empregos a arquivistas, bibliotecários
e afins. Hoje, não. Nos nossos tempos idiotas elas são escritas e postadas na
internet para que milhões possam tirar proveito de suas perspicazes conclusões.
“Pesquisa aponta que as mulheres gostam quando seus maridos sofrem reveses”.
Deve ser ótimo viver com um sujeito depressivo e reclamão. “Estudo comprova que
os homens mais altos recebem melhores salários” Fica claro que devo crescer
mais e melhorar minha renda. Outras e muitas pesquisas nos são oferecidas.
“Pesquisa revela que 30% dos solteiros preferem comida predileta a sexo”. E aí
comeu?
Não há refúgio possível. Há
trinta anos atrás, quando ficávamos fartos da TV, íamos para o botequim. Ah! O
botequim. O papo, a anedota, a paquera. Mundo a parte da idiotice cotidiana. Ágora,
assembléia, palanque e púlpito. Hoje esse lugar sagrado, tem televisão. Quem
nos recebe à porta não é mais o amigo sorridente e fraterno ou o bêbado pedindo
que lhe paguemos uma cachaça. Não, hoje mal entramos e lá está o Luciano Huk, o
Datena, a Leilane Neubarth, ou pior, o Galvão Bueno, rei absoluto da idiotice
televisiva.
Nos nossos tempos idiotas Renato
Russo é tratado como poeta e Marcelo Tass é confundido com comediante. Neto
comenta futebol e Pondé deita falação sobre todos os assuntos e freqüenta todos
os programas da televisão. Fernando Collor de Merda preside comissão no Senado
e é membro do Conselho de Ética. De ética!
Mas a idiotice não está só entre
os famosos e os formadores de opinião. Pelo contrário, é entre os anônimos que
ela se alastra. Nas ruas, multidões de idiotas andam de cabeça baixa. Não que
estejam cientes de sua idiotice e, envergonhados da própria tolice, mirem o
chão. Não, estas multidões estão olhando para seus “smartphones”. Já não
conseguem desgrudar os olhos da maquininha idiota.
Muito se fala do crescimento
formidável das seitas neo-pentecostais. E por que se dá esse crescimento?
Idiotice.
Quando o idiota quer se
distinguir da idiotice religiosa de massas, finge-se budista, hinduísta,
orientalista. Fala do calendário maia, da cabala.
Outro dia uma amiga de minha
mulher foi a uma festa e lá pelas tantas alguém sugeriu uma dança circular. Não, não era uma festa infantil e a dança não era de roda, era circular. Essas coisas de energia, pachamama, sei lá. Ela, tímida, não pode se recusar e, constrangida, teve de participar da
idiotice coletiva e sorridente.
Entre esses idiotas anônimos e
obscuros, presidentes de associações de bairro, viceja o mais chato
anti-tabagismo, o mais imbecil preservacionismo, a xenofilia mais cretina.
Nunca a frase feita foi tão usada,
jamais se afrontou tanto a lógica, o bom senso, a aritmética. 2+2 merece
profundas cavilações de doutores e pesquisadores. Tudo, desde a mais simples
pelada jogada em terreno baldio, ou um concurso de misses, é visto como
fenômeno que deve ser pesquisado e gerar robustos relatórios de entendidos em
acadêmicas idiotices.
O futebol, o maravilhoso jogo da
bola, agora é vítima de especulações e estudos. Os idiotas conseguem tirar a
graça e a espontaneidade de tudo. Desconhecendo totalmente a aritmética, os
neo-jornalistas esportivos cismaram de dizer que tudo em nosso futebol está
errado. Não sabemos jogar bola, é esse o resultado de suas profundas reflexões.
Mas esses idiotas já estavam catalogados há muitos anos por Nelson Rodrigues, são os
idiotas da objetividade.
Outro hábito idiota que nos
afoga é a citação. Cita-se muito nesses tempos. E cita-se errado. Qualquer
idiota do século passado saberia que tal citação não casa com o estilo e muito
menos com o pensamento do citado. Assim, vai para a boca de uns o que foi dito por
outros e não há ninguém para por os pingos nos ii.
É como disse o Barão de Itararé:_"Este mundo é redondo, mas esta ficando chato".
É como disse o Barão de Itararé:_"Este mundo é redondo, mas esta ficando chato".
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