sábado, 28 de julho de 2012

Como disse o Barão







A verdade é que vivemos tempos idiotas. Outros tempos também tiveram suas idiotices, você dirá, e eu concordo. Mas o que estou dizendo é outra coisa. Digo que tudo a nossa volta é idiotice. Temos que conviver com o Teló, com as stand up comedy (uma coisa tão horrível que nem tradução tem), com os neo-pentecostais, com a novela da Globo, com os neo-comentaristas esportivos, com a mais medíocre geração de políticos, com os (ch)ateus organizados, com os reality shows (outra besteira sem tradução) e com toda espécie de pesquisas e estudos em todos os campos da atuação humana e fora dela.
Dessas pesquisas e estudos saem relatórios que poucos anos atrás teriam o destino de ir dormir em seus túmulos acadêmicos cumprindo assim sua função social de dar empregos a arquivistas, bibliotecários e afins. Hoje, não. Nos nossos tempos idiotas elas são escritas e postadas na internet para que milhões possam tirar proveito de suas perspicazes conclusões. “Pesquisa aponta que as mulheres gostam quando seus maridos sofrem reveses”. Deve ser ótimo viver com um sujeito depressivo e reclamão. “Estudo comprova que os homens mais altos recebem melhores salários” Fica claro que devo crescer mais e melhorar minha renda. Outras e muitas pesquisas nos são oferecidas. “Pesquisa revela que 30% dos solteiros preferem comida predileta a sexo”. E aí comeu?
Não há refúgio possível. Há trinta anos atrás, quando ficávamos fartos da TV, íamos para o botequim. Ah! O botequim. O papo, a anedota, a paquera. Mundo a parte da idiotice cotidiana. Ágora, assembléia, palanque e púlpito. Hoje esse lugar sagrado, tem televisão. Quem nos recebe à porta não é mais o amigo sorridente e fraterno ou o bêbado pedindo que lhe paguemos uma cachaça. Não, hoje mal entramos e lá está o Luciano Huk, o Datena, a Leilane Neubarth, ou pior, o Galvão Bueno, rei absoluto da idiotice televisiva.
Nos nossos tempos idiotas Renato Russo é tratado como poeta e Marcelo Tass é confundido com comediante. Neto comenta futebol e Pondé deita falação sobre todos os assuntos e freqüenta todos os programas da televisão. Fernando Collor de Merda preside comissão no Senado e é membro do Conselho de Ética. De ética!
Mas a idiotice não está só entre os famosos e os formadores de opinião. Pelo contrário, é entre os anônimos que ela se alastra. Nas ruas, multidões de idiotas andam de cabeça baixa. Não que estejam cientes de sua idiotice e, envergonhados da própria tolice, mirem o chão. Não, estas multidões estão olhando para seus “smartphones”. Já não conseguem desgrudar os olhos da maquininha idiota.
Muito se fala do crescimento formidável das seitas neo-pentecostais. E por que se dá esse crescimento? Idiotice.
Quando o idiota quer se distinguir da idiotice religiosa de massas, finge-se budista, hinduísta, orientalista. Fala do calendário maia, da cabala.
Outro dia uma amiga de minha mulher foi a uma festa e lá pelas tantas alguém sugeriu uma dança circular. Não, não era uma festa infantil e a dança não era de roda, era circular. Essas coisas de energia, pachamama, sei lá. Ela, tímida, não pode se recusar e, constrangida, teve de participar da idiotice coletiva e sorridente.
Entre esses idiotas anônimos e obscuros, presidentes de associações de bairro, viceja o mais chato anti-tabagismo, o mais imbecil preservacionismo, a xenofilia mais cretina.
Nunca a frase feita foi tão usada, jamais se afrontou tanto a lógica, o bom senso, a aritmética. 2+2 merece profundas cavilações de doutores e pesquisadores. Tudo, desde a mais simples pelada jogada em terreno baldio, ou um concurso de misses, é visto como fenômeno que deve ser pesquisado e gerar robustos relatórios de entendidos em acadêmicas idiotices.
O futebol, o maravilhoso jogo da bola, agora é vítima de especulações e estudos. Os idiotas conseguem tirar a graça e a espontaneidade de tudo. Desconhecendo totalmente a aritmética, os neo-jornalistas esportivos cismaram de dizer que tudo em nosso futebol está errado. Não sabemos jogar bola, é esse o resultado de suas profundas reflexões. Mas esses idiotas já estavam catalogados há muitos anos por Nelson Rodrigues, são os idiotas da objetividade.
Outro hábito idiota que nos afoga é a citação. Cita-se muito nesses tempos. E cita-se errado. Qualquer idiota do século passado saberia que tal citação não casa com o estilo e muito menos com o pensamento do citado. Assim, vai para a boca de uns o que foi dito por outros e não há ninguém para por os pingos nos ii.
            É como disse o Barão de Itararé:_"Este mundo é redondo, mas esta ficando chato".

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