quinta-feira, 12 de julho de 2012

Copacabana







Como todo mundo, eu sempre faço aquilo que odeio que os outros façam. Quer ver um exemplo? _ Essa mania de citar uma frase e não se lembrar do autor do dito. Isso é o tipo de coisa que não perdôo. Nos outros.
Ora, uma frase só faz sentido com autoria, endereço e data. Uma afirmação que causa furor ou espanto numa determinada época pode ser uma banalidade uns anos depois. Um depoimento de um general tem sua validade de acordo com o lado em que ele esteve na guerra. O que disse acertadamente uma mulher pode ser uma grosseria na boca de um homem e o que é um achado vindo de um menino será, quase sempre, o sinal de retardamento mental num adulto. Portanto o nome do autor é imprescindível para a compreensão e avaliação de uma assertiva. Se soubermos o nome, saberemos a época, a circunstância e, principalmente, o lado do balcão em que estava o sujeito que proferiu a locução. Mas vamos lá, perpetrar mais essa desfaçatez.
Um escritor bahiano, do qual não lembro o nome, falava anos atrás numa emissora de rádio de sua ligação com São Paulo e arrematou com uma frase que me ficou dentro. Dizia ele que “ninguém passa seus vinte anos num lugar, impunemente”. Eu sempre soubera disso muito embora nunca tivesse pensado no assunto. Para mim essa amarra sentimental, que é mais forte que o cordão umbilical que nos liga à terra natal, me prende ao Rio. Mais especificamente à Copacabana.
Se for contar bem, meus anos no bairro foram poucos. Na cidade maravilhosa eu morei no Méier, Todos os Santos, Benfica, Catumbi, Botafogo, Bairro de Fátima, Santa Teresa, Lapa, Glória e em alguns desses bairros, em mais de um endereço. De todos esses lugares trago boas recordações e pedaços de saudade. No entanto, foi em Copacabana que mais o Rio viveu em mim.
O bairro, que semana passada completou 120 anos, ainda estava longe dos 90 quando me deu seus botequins e sua praia. Suas meninas e suas noites. Suas tardes de sábado, suas manhãs de domingo.
Trabalhei, estudei, morei e bebi em Copacabana. Principalmente, vivi meus 20 anos em Copacabana. Sonhei muito, sofri pra burro. Freqüentei a Galeria Alasca e a Prado Júnior. O Beco da Fome e a 12ª D.P. A Biblioteca Regional e os cinemas.
O primeiro Chaplin foi no Cinema 2. O amor, conheci na Santa Clara.
Já caminhei Copacabana inteira, pela praia, pelos morros, pelos túneis, pelas ruazinhas pouco transitadas e até por cima dos edifícios. Antes eu sabia todos os nomes de ruas que vão dar na Avenida Atlântica, do Leme ao Posto 6. Conhecia os botequins que ficavam abertos até mais tarde e os que abriam mais cedo.
E tinha os cantinhos. O Bairro Peixoto, uma vila na Pompeu Loureiro, o alto da Gastão Bahiana e o Chapéu Mangueira, a favela mais bonita do mundo.
Mas sobretudo, para mim, Copacabana tinha as mulheres. De todas as cores, formas, idades e condição social.  Acho que vi as mulheres mais lindas do planeta em Copacabana, desfilando por suas belas calçadas de pedras portuguesas.
De tudo que vivi no bairro carioca, tenho hoje uma saudade quente. Boa de sentir. Saudade dos vinte anos, a melhor época da vida. Saudade dos amores, os únicos fatos importantes da vida.
No seu aniversário, velho bairro querido, me veio essa saudade, e uma certeza: Só a ti Copacabana eu hei de amar.


2 comentários:

  1. Quando voce desembarcou em Copacabana, ja havia sido aterrada ?

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  2. Não João, mas isso foi na minha infância. Já adolescente, eu vi as obras de alargamento da Av. Atlântica.

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