sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A ultradireita vem aí


Minha mãe me contava casos do tempo da guerra. Me dizia, que em sua cidade, no sertão mineiro, existia uma representação da Ação Integralista Brasileira, de Plínio Salgado, a versão tupiniquim do nazifascismo. Seus militantes desfilavam de camisa preta e, braço em riste, berravam: _ Anauê!
Confesso que para mim era difícil acreditar que naqueles cafundós houvesse tal politização. Até mesmo a existência entre nós de um partido cujo modelo eram as ditaduras de Hitler e Mussolini, me parecia irreal.
Como num país mestiço, extremamente mestiço, podia vingar a ideologia da supremacia racial? Na Alemanha nazista, bastava 1/8 de sangue não germânico para que qualquer pessoa sofresse perseguições. Como adequar tal visão de mundo à realidade racial do Brasil? Sei lá. Ou melhor, vendo que pouca gente no país se dá conta de sua miscigenação, acho que posso fazer uma idéia.
Ademais, nossa xenofilia não é de agora. Qualquer coisa, por mais absurda e grotesca que seja, mas que venha da Europa ou de qualquer outro país rico, aqui é vista, por nossas classes abastadas, como modelo a ser seguido. São essas classes que dominam a informação e sua propagação.  Ditam gosto, moda e ideologia.
Assim que devemos temer por uma nova onda de direitismo no Brasil, pois a direita cresce na Europa sob as mesmas condições que ascendeu nos anos 30: crise econômica e financeira, descrença na democracia burguesa, falta de representatividade dos partidos tradicionais, et cetera.
Os exemplos da ascensão do ultra direitismo na Europa são muitos, incontáveis e nem é preciso que esteja no poder para fazer sentir sua força. Os partidos da direita tradicional e mesmo outras agremiações políticas que transitam pelo nebuloso espectro da centro-esquerda, compram com facilidade suas teses quando o que está em jogo é o voto.
Na França, o partido da Frente Nacional, comandado por Marine Le Pen, está em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para a eleição dos eurodeputados. Na tentativa de não perder terreno no campo do conservadorismo, o governo “socialista” de Hollande, vai expulsar, só este ano, mais de 20 mil estrangeiros ilegais do país da igualdade e da fraternidade. A estratégia já havia sido adotada por Sarkosy. A perseguição de minorias sempre agrada ao eleitorado conservador e sacia, por um tempo, a sede de violência dos ultradireitistas.  
Na Inglaterra, a ministra do interior, Theresa May, anunciou uma nova legislação para “tornar hostil o ambiente para imigrantes ilegais”. Entre as medidas anunciadas, está a impossibilidade de indocumentados recorrerem ao sistema de saúde e alugarem imóveis.
Na Itália, a xenofobia manifestou-se de maneira trágica na última semana quando barcos pesqueiros não socorreram as vítimas do naufrágio de uma embarcação de imigrantes. Segundo as vítimas sobreviventes, os marinheiros se limitavam a filmar o desespero dos náufragos. A resposta do governo italiano para o crime foi o enterro das vítimas fatais com honras de chefe de estado e a promessa de uma investigação. Outra medida, e esta sim será certamente implementada, é a maior vigilância nas águas territoriais italianas para evitar que imigrantes indesejáveis morram diante dos olhos sensíveis dos turistas e habitantes da Ilha de Lampedusa.
A mão de obra barata e farta dos imigrantes, que até bem pouco tempo alimentava os lucros das empresas européias, já não é mais necessária. A recessão paralisou o consumo e a produção. O desemprego cresce e agora esses trabalhadores são vistos como estorvo. São apontados como delinqüentes, prostitutas e, principalmente, usuários indesejáveis dos serviços públicos.
Não que os fatores objetivos da crise européia estejam presentes no Brasil, mas se vem de lá o ultradireitismo, pode estar certa que fará sucesso aqui.



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