Não faz muito
tempo. Era o aniversário de Dalton Trevisan. O escritor paranaense completava
88 anos e a TV fez uma reportagem. Era uma típica reportagem de TV: superficial,
fútil, banal. O aspecto mais abordado foi a reclusão em que vive o escritor e
não sua obra.
Mas, verdade
seja dita, esse aspecto foi longamente explorado. Serviria de alerta para quem
pensasse em desrespeitar a escolha pelo recolhimento do autor que nunca
aparece, que jamais concede entrevistas, de quem só conhecemos as feições por
fotos antigas que estão na Wikipédia.
No entanto, a
segunda parte da reportagem nos guardava uma surpresa. Depois de tanto bater na
tecla do retraimento em que vive o contista octogenário, o que fez o repórter?
Foi postar-se à porta da casa de Trevisan. Com a câmera oculta pelos arbustos
que guarnecem a residência, filmaram-no de longe, entretido com as coisas de
seu quintal. Com o microfone atrás das costas, o jornalista perpetrou mais uma infâmia
e chamou o dono da casa. Este veio ver, e dando-se conta do que se tratava
correu em busca de refúgio no interior da morada. Um homem de 88 anos teve de
correr para poder preservar algo que lhe é caro: sua privacidade.
Por que cito
essa história? Bem, porque estou procurando saber algo sobre as biografias não
autorizadas. O que tem a ver uma coisa com a outra? Ora, tudo. Trata-se de
privacidade e de saber se esse direito pode estar acima do direito à livre
expressão dos escritores biógrafos ou dos repórteres bisbilhoteiros. Realmente
não sei.
O desrespeito ao
escritor curitibano me faz crer que pode não haver limites quando se trata de
fazer sensacionalismo ou de querer ganhar dinheiro a custa da fama alheia. Mas
não deixo de pensar no que disse o ex-ministro Aires Brito quando afirmou que “não
se pode alegar o abuso para coibir o uso”.
Como disse,
continuo procurando saber.
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