sexta-feira, 4 de outubro de 2013

As paixões


Nada tenho contra a paixão, pelo contrário. Sou daqueles que pensam como Nelson Rodrigues e repito a frase do mestre: Sem paixão não se pode nem tomar um chicabom.
Claro, nesse ponto, para melhor calçar o que quero dizer, deveria acrescentar: _Mas paixão tem limites. Não, não vou escrever tal coisa. Não acredito que as paixões precisem ter limites. Com freios, com anteparos, a paixão fica algo assim como uma grande simpatia. Nada mais. Se for paixão tem de ser desenfreada.
Até aqui não pude mais que pensar e sugerir a paixão da carne, aquela doida. Mas há outras, não tão belas, não tão avassaladoras, mas com algo em comum: todas nos tiram a razão.
A paixão política, por exemplo, é o tipo acabado de paixão capaz de fazer o sujeito perder o controle, a razão, o bom senso. É um tipo de paixão que nem sequer se dá ao trabalho de passar um batom vermelho, de vestir aquela calcinha preta. A paixão política é chucra, é brusca, é, muitas vezes, tosca. Veja se não é o que temos visto nos últimos meses no Brasil.
Durante o julgamento do mensalão, os ministros da Suprema Corte transformaram-se no foco dessa paixão. Mais que os réus, foram citados. Mais que os condenados foram execrados.
Dependendo do lado do balcão onde se encontrasse o apaixonado  crítico de ocasião, Suas Excelências eram tratadas como vis ou sublimes, agentes da mais pura justiça ou paus mandados da oposição golpista.
Por fim, concluiu-se a parte principal do julgamento. Veio, conforme determina nosso ordenamento jurídico, uma segunda fase. Julgou-se a pertinência ou não dos embargos infringentes.
Em pelo menos um caso, houve troca súbita de opiniões sobre um de nossos ministros. Foi o caso do ministro Celso de Melo. Se antes era visto como herói pelos que queriam a punição dos mensaleiros e vilão pelos que defendiam a camarilha de José Dirceu, ao votar pela admissibilidade dos embargos infringentes, fez com que as opiniões a seu respeito se invertessem.
Agora temos a negação do registro do partido Rede Sustentabilidade, de Marina Silva pelo TSE e não há argumento jurídico ou lógico que faça as forças que debatem o tema arredarem pé de sua apaixonada postura.
Marina e seus seguidores acusam o Planalto de interferência no processo e colocam sob suspeita a ação dos cartórios eleitorais que deram como  inválidas mais de 90 mil assinaturas. Será isso possível? Claro que sim. Embora me pareça falto de lógica que em todos os cartórios eleitorais do país houvesse agentes do governo para criar embaraços para o Rede. Não haveria neles ninguém que denunciasse uma ação orquestrada, um ato fraudulento? É difícil.  Mas, que é possível, é.
Os que vêem fraude e maracutaia em todos os atos do governo esquecem-se que também é possível que entre as felpudas raposas que se mudaram de mala e cuia para o Rede, há quem possa facilmente fraudar assinaturas, corromper o processo. Também no partido de Marina, o passado condena a muitos de seus membros. Quer um exemplo? Em Belo Horizonte, o partido ameaça rachar mesmo antes de sua legalização (se é que haverá). Num manifesto, um dirigente do partido ataca outro usando termos como “truculência”, “falta de transparência”, “desonestidade intelectual”, “conduta antidemocrática”, “vale- tudo”, et cetera. Principalmente et cetera.




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