Era o começo do
governo de Lula e o pacote e maldades foi aberto. A reforma da previdência, que
o PT conseguira evitar durante o governo de FHC, estava sendo posta em prática
por esse mesmo PT. O Ministro da Previdência Social era Ricardo Berzoini.
Havia a suspeita
que aposentadorias de pessoas de mais de 80 anos estavam sendo fraudadas ou
recebidas por parentes após a morte do segurado. O que fez o Ministro para
coibir as supostas irregularidades? Ordenou um recadastramento, com a presença, nas agências da Previdência, dos beneficiários. E o que fez Berzoini para
obrigar o comparecimento dos idosos? Cortou o pagamento do benefício.
Na TV foram mostradas imagens de homens de
mais de 60 anos carregando nos braços suas mães de quase 90 para que estas não
perdessem os minguados proventos. Pessoas em cadeiras de rodas ficaram horas na
fila esperando atendimento. Muitos chegavam de longe amparando-se como podiam,
muitos, sós. Todos com mais de 80 anos. No fim da vida, a suprema humilhação. Eu
jamais havia visto tanta crueldade, tanta insensibilidade por parte do poder
público para com os velhos.
No dia seguinte,
num estúdio de TV, Berzoini foi confrontado com as cenas de tortura e descaso e
questionado se não se sentia na obrigação de pedir desculpas pelo ocorrido.
O Ministro coçou um de seus queixos (ou os dois, não me lembro bem) e disse que
não, afinal, segundo ele, os problemas mais graves só haviam ocorrido nas
agências do Rio.
Mas você, minha
amiga, que é jovem e talvez não tenha lembrança daquelas cenas terríveis, deve
estar se perguntando:_Por que o ministro não ordenou visitas de fiscais da Previdência
às residências dos velhos para fazer o recadastramento? Por que não usou de
inteligência para detectar as fraudes? Ora, porque Berzoini é uma besta.
Vê-se-lhe na cara, no olhar bovino, nas acacianas ponderações.
Bem, era aqui
que eu queria chegar: na obtusidade do ex-ministro e ex-presidente do PT.
Assistindo outro
dia na TV, a sessão da Câmara dos Deputados, pude ouvir de Sua Excelência um
pequeno discurso. Comentava o deputado de 4 mandatos sobre as manifestações que
estão acontecendo no país.
Berzoini criticava os vândalos, os baderneiros, os
mascarados. Dizia o ex-presidente do PT que ele e os de sua geração combateram
a ditadura com o rosto descoberto. Queria dizer com isso que o uso das máscaras,
por parte de alguns manifestantes, os desqualificava.
Berzoini fazia um
discurso que me fez lembrar de Erasmo Dias, o louco coronel que foi Secretário
de Segurança de São Paulo durante a ditadura e que chegou a proibir máscaras no
carnaval. Imagino que o ex-ministro deva apoiar a proibição das máscaras em
manifestações públicas por parte de diversos governos estaduais.
Não quero fazer
juízo de valor sobre a atuação dos grupos que crêem que destruindo símbolos do capitalismo
o estão combatendo, mas qualquer um sabe que se identificados, eles podem ser
processados pelos danos causados ao patrimônio público ou privado. Por isso a
necessidade das máscaras. Eles crêem que o fim que almejam, seja lá qual for,
justifica a depredação, o quebra-quebra, assim como os companheiros dos anos 70 viam num assalto
a banco, mesmo pondo em risco a vida de clientes e funcionários, uma ação legítima.
Quando Berzoini
e os de sua geração combatiam a ditadura, também era necessário esconder-se sob
a máscara da identidade falsa, do nome falso, pois estavam sujeitos à lei de
segurança nacional. Nada mais óbvio do que ocultar-se. Nada mais legítimo que
esconder o endereço, a identidade, o rosto sob uma barba, os cabelos sob uma
peruca.
Esses moços
mascarados vêem no governo atual algo a ser combatido. Vêem a política de forma
extremamente negativa e crêem que nada se pode fazer pela via democrática do
voto. E aqui reafirmo que não estou fazendo juízo de valor sobre os
manifestantes nem corroborando sua visão de mundo. Apenas sei que há muitas
maneiras de pensar e de combater.
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