quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Mascarados


Era o começo do governo de Lula e o pacote e maldades foi aberto. A reforma da previdência, que o PT conseguira evitar durante o governo de FHC, estava sendo posta em prática por esse mesmo PT. O Ministro da Previdência Social era Ricardo Berzoini.
Havia a suspeita que aposentadorias de pessoas de mais de 80 anos estavam sendo fraudadas ou recebidas por parentes após a morte do segurado. O que fez o Ministro para coibir as supostas irregularidades? Ordenou um recadastramento, com a presença, nas agências da Previdência, dos beneficiários. E o que fez Berzoini para obrigar o comparecimento dos idosos? Cortou o pagamento do benefício.
 Na TV foram mostradas imagens de homens de mais de 60 anos carregando nos braços suas mães de quase 90 para que estas não perdessem os minguados proventos. Pessoas em cadeiras de rodas ficaram horas na fila esperando atendimento. Muitos chegavam de longe amparando-se como podiam, muitos, sós. Todos com mais de 80 anos. No fim da vida, a suprema humilhação. Eu jamais havia visto tanta crueldade, tanta insensibilidade por parte do poder público para com os velhos.
No dia seguinte, num estúdio de TV, Berzoini foi confrontado com as cenas de tortura e descaso e questionado se não se sentia na obrigação de pedir desculpas pelo ocorrido. O Ministro coçou um de seus queixos (ou os dois, não me lembro bem) e disse que não, afinal, segundo ele, os problemas mais graves só haviam ocorrido nas agências do Rio.
Mas você, minha amiga, que é jovem e talvez não tenha lembrança daquelas cenas terríveis, deve estar se perguntando:_Por que o ministro não ordenou visitas de fiscais da Previdência às residências dos velhos para fazer o recadastramento? Por que não usou de inteligência para detectar as fraudes? Ora, porque Berzoini é uma besta. Vê-se-lhe na cara, no olhar bovino, nas acacianas ponderações.
Bem, era aqui que eu queria chegar: na obtusidade do ex-ministro e ex-presidente do PT.
Assistindo outro dia na TV, a sessão da Câmara dos Deputados, pude ouvir de Sua Excelência um pequeno discurso. Comentava o deputado de 4 mandatos sobre as manifestações que estão acontecendo no país. 
Berzoini criticava os vândalos, os baderneiros, os mascarados. Dizia o ex-presidente do PT que ele e os de sua geração combateram a ditadura com o rosto descoberto. Queria dizer com isso que o uso das máscaras, por parte de alguns manifestantes, os desqualificava.
Berzoini fazia um discurso que me fez lembrar de Erasmo Dias, o louco coronel que foi Secretário de Segurança de São Paulo durante a ditadura e que chegou a proibir máscaras no carnaval. Imagino que o ex-ministro deva apoiar a proibição das máscaras em manifestações públicas por parte de diversos governos estaduais.
Não quero fazer juízo de valor sobre a atuação dos grupos que crêem que destruindo símbolos do capitalismo o estão combatendo, mas qualquer um sabe que se identificados, eles podem ser processados pelos danos causados ao patrimônio público ou privado. Por isso a necessidade das máscaras. Eles crêem que o fim que almejam, seja lá qual for, justifica a depredação, o quebra-quebra, assim como os companheiros dos anos 70 viam num assalto a banco, mesmo pondo em risco a vida de clientes e funcionários, uma ação legítima.
Quando Berzoini e os de sua geração combatiam a ditadura, também era necessário esconder-se sob a máscara da identidade falsa, do nome falso, pois estavam sujeitos à lei de segurança nacional. Nada mais óbvio do que ocultar-se. Nada mais legítimo que esconder o endereço, a identidade, o rosto sob uma barba, os cabelos sob uma peruca.
Esses moços mascarados vêem no governo atual algo a ser combatido. Vêem a política de forma extremamente negativa e crêem que nada se pode fazer pela via democrática do voto. E aqui reafirmo que não estou fazendo juízo de valor sobre os manifestantes nem corroborando sua visão de mundo. Apenas sei que há muitas maneiras de pensar e de combater.


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