Para que servem os fatos? Quando
de futebol se trata, para quase nada. Assim tenho assistido a Eurocopa. Ouvindo
que a seleção da Espanha é a melhor do mundo e, talvez, só a Alemanha pudesse
batê-la. Mas os fatos comprovam que a Fúria não joga nada.
A cada jogo insulso e sonolento
da seleção espanhola, escuto de comentaristas e locutores que essa não é a
Espanha que nos tem encantado. Mas quando ficamos encantados? Durante a copa,
quando os espanhóis fizeram 7 gols em 7 jogos? No pós-copa, quando foram
goleados pela Argentina? Ou nas vitórias suadas contra Chile e Costa Rica? De
minha parte, nunca.
O futebol apresentado pela
Espanha é a coisa mais enfadonha que já presenciei em torneios importantes. O
melhor exemplo disso é a atual campanha da Eurocopa. Um jogo chatíssimo na
estréia contra a Itália, uma vitória sobre a fraquíssima Irlanda, a vitória do
árbitro contra a Croácia por 1 X 0 e o auge do tédio; o jogo contra a França do
qual fui poupado de assistir inteiro graças ao cara que veio consertar o
telefone. Já nas semifinais, 120 minutos de cochilos e bocejos diante de
Portugal que fez sua parte e muito contribuiu para a sonolência do
“espetáculo”.
Agora a seleção do técnico
Vicente Del Bosque vai enfrentar a seleção italiana na final de domingo. E pode
ganhar. Jogando seu futebol de passes de dois metros que os analistas chamam de
toque de bola, a seleção espanhola tem tudo para matar os italianos de sono e
conquistar o título.
Seu técnico, que enquanto
dirigia o Real Madrid e não ganhava nada, era chamado de apático pela crônica especializada, agora é considerado sereno. Arma um time sem atacantes, com 4
meias à frente de 2 volantes. No jogo seguinte põe um atacante, Torres, e no
outro Negredo, depois volta sem atacantes e para a final é capaz de inventar
Pedro na função de avante. O homem nem sabe onde está, mas está sereno. Já
imaginou se o Joel Santana ou o Celso Roth fizessem algo parecido? Mudassem a escalação 4 vezes em 5 jogos? O que diriam nossos jornalistas esportivos? No caso de Del Bosque não dizem nada. Devem imaginar que o sereníssimo sabe o que faz.
Eu passei a me interessar por
futebol logo após a Copa de 66, quando ia completar 9 anos. Os detratores do
futebol brasileiro, que abundam nas redações dos jornais brasileiros, diziam na
época que o Brasil tinha ficado para trás e que o futebol força praticado pelos
ingleses era o futuro do esporte. Não precisou passar nem 4 anos para que esses
mesmos idiotas estivessem tecendo loas à maior seleção que o mundo viu jogar,
após a conquista no México. E aquilo sim era toque de bola. Lembra o 3º gol
contra os uruguaios? Em três toques chegamos à área adversária e Jair fuzilou
Mazurkévisk. Aquela seleção marcou 19 gols em 6 jogos. Estreou com um 4 X 1 e
fechou a conta com outro 4 X 1.
Faz dois dias que li, atônito, a
coluna de um dos artífices daquela conquista. Tostão anda achando a seleção
espanhola o máximo. E o que é pior, falou mal de nosso futebol que ele
brilhantemente defendeu. Disse que nossos times jogam na correria achando que
isso é moderno, que têm pressa de chegar ao gol. Tostão fez apologia do 1 X 0
espanhol. Tostão aderiu às teses dos neo-jornalistas:_ Não basta elogiar a
chatice espanhola, há que denegrir o futebol brasileiro.
Ora, os únicos jogos com alguma
emoção na Eurocopa foram aqueles nos quais as equipes tiveram pressa de chegar
ao gol. Empatando com a Dinamarca, Portugal partiu com toda urgência em busca
do gol da vitória e fez, se não uma partida brilhante, pelo menos algo que foi
divertido assistir. O mesmo se passou com a Inglaterra no jogo contra a Suécia
e na partida dos ucranianos também contra a Suécia. Tirante esses jogos, o
torneio foi, até aqui, tedioso. Não creio que a final redima os danos causados
ao futebol pela imperícia dos europeus, afinal teremos em campo a chatice
espanhola e o pragmatismo italiano. Nenhuma emoção a vista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário