quarta-feira, 27 de junho de 2012

Golpe no Paraguai







O que houve no Paraguai foi um golpe de estado. Isto é tão claro que nem sei se vale a pena mencionar. No entanto os que defendem a ação golpista não assumem sua postura direitista nem seu perfil gorila. Mencionam a constitucionalidade do processo que depôs Lugo. Escoram-se no fato dos milicos não terem tomado o poder nem terem posto os tanques nas ruas. Esquecem-se que durante o rito sumário, sequer foi concedido o direito à ampla defesa. Qualquer advogado de porta de cadeia poderia derrubar as pueris acusações contra o presidente paraguaio se tivesse tempo de ler os autos (se é que houve  tempo de redigi-los) mas tudo foi concluído em 24 horas. Devido à votação do impeachment pelo congresso paraguaio e ao roçar de togas que deram validade ao ato, muitos querem negar que houve golpe.
Acontece que estamos diante de um golpe estilo século 21. Um golpe pós-moderno, um golpe no qual os “interesses” prescindem dos fuzis, dos tanques e dos amedalhados generais. Suas armas estão na imprensa, nos parlamentos e cortes supremas. Foi assim em Honduras e é assim no Paraguai.
No país centro-americano, o Presidente Zelaya foi deposto por propor um plebiscito. Queria o mandatário consultar o povo sobre sua reeleição, vedada pela constituição de seu país. Bastou. Zelaya, visto pelas elites de Honduras como um traidor, foi arrancado de sua casa de pijama e posteriormente do poder, pela suprema corte do país.
O Brasil que no princípio da crise hondurenha se posicionou contra o golpe e asilou o presidente Zelaya em nossa embaixada, aos poucos foi cedendo e acabou por aceitar o fato e o arremedo de eleição que foi realizada para pôr na Casa Presidencial um títere dos golpistas.
Na época a grande imprensa brasileira, em uníssono, apoiou o golpe e lamentou a posição de nossa chancelaria. Esqueceram que no Brasil também era vedada a recondução dos chefes do executivo ao poder mas a constituição foi mudada para que isso pudesse acontecer. Não pela via da consulta popular, senão pela compra de deputados que deram ao então Príncipe Regente, Sua Alteza Fernando Henrique Cardoso, o fardo de continuar dirigindo nossos destinos por mais 4 longos anos.
Para apoiar a quebra da normalidade democrática em Honduras, editorialistas e outros paus mandados falaram de soberania do judiciário hondurenho mas nem sequer se deram ao trabalho de analisar sua composição ou as normas de seu funcionamento. Não se cuidava disso e sim de torpedear o Chanceler Amorim e a política externa brasileira, independente demais para os padrões dos capachos engravatados que durante décadas perfilaram ao lado de interesses estranhos ao país
No caso recente do Paraguai, nossa imprensa faz o mesmo papel deplorável e já pudemos ouvir da múmia Boris Casoy que no país vizinho tudo foi feito segundo a constituição. Eu não conheço a constituição do Paraguai, mas duvido que na constituição de qualquer país exista algum artigo que negue o direito à ampla defesa seja lá de quem for. Ademais, as acusações que deram origem ao rito sumário que depôs Lugo, são tão ou mais ridículas que as que foram usadas contra Zelaya.
O inimigo dos garis também falou dos interesses brasileiros no Paraguai e disse que o governo da Presidenta Dilma deve levar em conta somente esses interesses e não questões ideológicas. Para gente como Casoy, ideologia é palavrão. A Globo News, assumindo seu falso tom neutro, pautou suas informações em depoimentos de moradores de Ciudad del Este, que se mostravam tão a favor do golpe quanto ignorantes do tema. Para atrair a opinião pública brasileira para o lado golpista, a emissora das Organizações Globo, colheu também a opinião dos brasiguaios. Todos favoráveis ao golpe de estado. Esses proprietários, tal qual os daqui, adoram bancar de vítimas enquanto exploram o trabalho alheio. Na verdade o que temiam de Lugo era sua tolerância para com as reivindicações dos "carperos", os sem terra de lá.
Mas se a direitona acomodada nos grandes órgãos de comunicação não nos surpreende, nosso chanceler, Antônio Patriota, mostrava-se titubeante diante das câmeras no último sábado. Disse que o Brasil não tinha uma opinião isolada sobre o golpe. Ora, até meu cachorro, Feijão, tem opinião sobre o golpe.
Mais incisiva, Cristina Kirshiner chamou o golpe de golpe e retirou o embaixador argentino do país Guarani. Nossa Presidenta, menos vacilante que Patriota, convocou nosso embaixador para consulta.
A imprensa paraguaia, não diferiu de suas congêneres sul-americanas e deixou claro de que lado está. O diário ABC Color (ado) fala em nova tríplice aliança, fazendo analogia entre o rechaço dos outros membros do Mercosul ao golpe, e a guerra, que no século 19, dizimou a população paraguaia. La Nacion não fica atrás e em sua coluna, Henrique Vargas Peña, num patético tom nacionalista, cobra dos golpistas, na figura de Franco, atitudes frente às presidentas de Brasil e Argentina. Clama contra a arrogância de ambas. Menciona a exportação de energia de Itaipu e Yaciretá para os países vizinhos. Insinua a chantagem. Tenta assim anular o problema da falta de credibilidade dos golpistas fazendo crer a seus leitores que se trata de questão de soberania nacional. Também o diário Neike, através de seu colunista Luis Alen, amontoa acusações desconexas contra Lugo e seu governo. Só deixa claro que sua bronca é com os “carperos” e o apoio do presidente deposto aos movimentos populares.
O primeiro estado a reconhecer o governo golpista foi o Vaticano, fato sintomático visto que Lugo abandonou a batina e reconheceu seu pouco apreço pelo celibato ao assumir paternidade. Logo virão Colômbia, Chile e Estados Unidos que só esperam a poeira baixar. Disso não tenho dúvidas embora nenhum país membro da OEA tenha reconhecido o governo de fato, ainda.
Em nota postada em seu sítio eletrônico, o governo hondurenho menciona a inexistência do direito à ampla defesa no processo de destituição de Lugo, mas diz que é problema interno paraguaio. Gato escaldado.


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