O que houve no Paraguai foi um
golpe de estado. Isto é tão claro que nem sei se vale a pena mencionar. No
entanto os que defendem a ação golpista não assumem sua postura direitista nem
seu perfil gorila. Mencionam a constitucionalidade do processo que depôs Lugo.
Escoram-se no fato dos milicos não terem tomado o poder nem terem posto os
tanques nas ruas. Esquecem-se que durante o rito sumário, sequer foi concedido o
direito à ampla defesa. Qualquer advogado de porta de cadeia poderia derrubar
as pueris acusações contra o presidente paraguaio se tivesse tempo de ler os
autos (se é que houve tempo de redigi-los) mas tudo foi concluído em 24 horas. Devido à votação do impeachment pelo congresso paraguaio e ao
roçar de togas que deram validade ao ato, muitos querem negar que houve golpe.
Acontece que estamos diante de
um golpe estilo século 21. Um golpe pós-moderno, um golpe no qual os “interesses”
prescindem dos fuzis, dos tanques e dos amedalhados generais. Suas
armas estão na imprensa, nos parlamentos e cortes supremas. Foi assim em
Honduras e é assim no Paraguai.
No país centro-americano, o
Presidente Zelaya foi deposto por propor um plebiscito. Queria o mandatário
consultar o povo sobre sua reeleição, vedada pela constituição de seu país.
Bastou. Zelaya, visto pelas elites de Honduras como um traidor, foi
arrancado de sua casa de pijama e posteriormente do poder, pela suprema corte do país.
O Brasil que no princípio da
crise hondurenha se posicionou contra o golpe e asilou o presidente Zelaya em
nossa embaixada, aos poucos foi cedendo e acabou por aceitar o fato e o
arremedo de eleição que foi realizada para pôr na Casa Presidencial um títere
dos golpistas.
Na época a grande imprensa
brasileira, em uníssono, apoiou o golpe e lamentou a posição de nossa
chancelaria. Esqueceram que no Brasil também era vedada a recondução dos chefes
do executivo ao poder mas a constituição foi mudada para que isso pudesse
acontecer. Não pela via da consulta popular, senão pela compra de deputados que
deram ao então Príncipe Regente, Sua Alteza Fernando Henrique Cardoso, o fardo
de continuar dirigindo nossos destinos por mais 4 longos anos.
Para apoiar a quebra da
normalidade democrática em Honduras, editorialistas e outros paus mandados
falaram de soberania do judiciário hondurenho mas nem sequer se deram ao
trabalho de analisar sua composição ou as normas de seu funcionamento. Não se
cuidava disso e sim de torpedear o Chanceler Amorim e a política externa
brasileira, independente demais para os padrões dos capachos engravatados que
durante décadas perfilaram ao lado de interesses estranhos ao país
No caso recente do Paraguai,
nossa imprensa faz o mesmo papel deplorável e já pudemos ouvir da múmia Boris
Casoy que no país vizinho tudo foi feito segundo a constituição. Eu não conheço
a constituição do Paraguai, mas duvido que na constituição de qualquer país
exista algum artigo que negue o direito à ampla defesa seja lá de quem for.
Ademais, as acusações que deram origem ao rito sumário que depôs Lugo, são tão
ou mais ridículas que as que foram usadas contra Zelaya.
O inimigo dos garis também falou
dos interesses brasileiros no Paraguai e disse que o governo da Presidenta
Dilma deve levar em conta somente esses interesses e não questões ideológicas.
Para gente como Casoy, ideologia é palavrão. A Globo News, assumindo seu falso
tom neutro, pautou suas informações em depoimentos de moradores de Ciudad del
Este, que se mostravam tão a favor do golpe quanto ignorantes do tema. Para
atrair a opinião pública brasileira para o lado golpista, a emissora das
Organizações Globo, colheu também a opinião dos brasiguaios. Todos favoráveis
ao golpe de estado. Esses proprietários, tal qual os daqui, adoram bancar de
vítimas enquanto exploram o trabalho alheio. Na verdade o que temiam de Lugo era sua tolerância para com as reivindicações dos "carperos", os sem terra de lá.
Mas se a direitona acomodada nos
grandes órgãos de comunicação não nos surpreende, nosso chanceler, Antônio
Patriota, mostrava-se titubeante diante das câmeras no último sábado. Disse que
o Brasil não tinha uma opinião isolada sobre o golpe. Ora, até meu cachorro,
Feijão, tem opinião sobre o golpe.
Mais incisiva, Cristina
Kirshiner chamou o golpe de golpe e retirou o embaixador argentino do país
Guarani. Nossa Presidenta, menos vacilante que Patriota, convocou nosso
embaixador para consulta.
A imprensa paraguaia, não
diferiu de suas congêneres sul-americanas e deixou claro de que lado está. O
diário ABC Color (ado) fala em nova tríplice aliança, fazendo analogia entre o rechaço
dos outros membros do Mercosul ao golpe, e a guerra, que no século 19, dizimou a população paraguaia. La Nacion não fica atrás e em sua coluna, Henrique
Vargas Peña, num patético tom nacionalista, cobra dos golpistas, na figura de
Franco, atitudes frente às presidentas de Brasil e Argentina. Clama contra a
arrogância de ambas. Menciona a exportação de energia de Itaipu e Yaciretá para os países vizinhos. Insinua a chantagem. Tenta assim anular o problema da falta de credibilidade
dos golpistas fazendo crer a seus leitores que se trata de questão de soberania
nacional. Também o diário Neike, através de seu colunista Luis Alen, amontoa
acusações desconexas contra Lugo e seu governo. Só deixa claro que sua bronca é
com os “carperos” e o apoio do presidente deposto aos movimentos populares.
O primeiro estado a reconhecer o
governo golpista foi o Vaticano, fato sintomático visto que Lugo abandonou a
batina e reconheceu seu pouco apreço pelo celibato ao assumir paternidade. Logo
virão Colômbia, Chile e Estados Unidos que só esperam a poeira baixar. Disso
não tenho dúvidas embora nenhum país membro da OEA tenha reconhecido o governo de fato, ainda.
Em nota postada em seu sítio
eletrônico, o governo hondurenho menciona a inexistência do direito à ampla
defesa no processo de destituição de Lugo, mas diz que é problema interno
paraguaio. Gato escaldado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário