quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Igrejas acima da constituição


                Era um projeto de lei que propunha uma tímida mudança. As igrejas e outras instituições sem fins lucrativos perderiam a isenção impositiva caso não cumprissem o que determina a lei que as isenta. Antes mesmo de percorrer as devidas comissões da Câmara, seu autor resolveu voltar atrás e retirou o projeto que, segundo ele, padecia de “inconstitucionalidade total” e não passaria pela CCJ. O argumento é que as igrejas têm “proteção absoluta”.
                Na verdade, o autor do PL original era o ex-deputado e atual prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet. O projeto que hoje tramita, ou melhor, tramitava, era um substitutivo do deputado Marcus Rogério (PDT-RO). Ora, este deputado é da bancada evangélica. É a raposa cuidando do galinheiro. A apresentação do projeto e sua posterior retirada para que nada acontecesse, foi uma manobra vil. Bem ao gosto dos pastores e bispos de araque que amealham fortunas e delas não prestam contas.
                No texto do projeto original a isenção impositiva não era retirada das igrejas, pois isso dependeria de uma emenda constitucional, apenas previa que o não cumprimento dos preceitos previstos em lei acarretaria em tal perda. E olha que o que exige a constituição no artigo que trata de isenção fiscal para entidades sem fins lucrativos é o mais óbvio e simples: escrituração decente, distribuir parte do patrimônio ou renda, empregar os recursos no país.
                Como pode haver inconstitucionalidade em um projeto que visa apenas fazer com que se cumpra a lei maior? Como se pode falar de “proteção absoluta”? Não seria o mesmo que dizer que as igrejas podem não cumprir a constituição? Pois é isso que diz Marcos Rogério.
                O deputado também diz que vai reapresentar o projeto, mas as igrejas vão ficar de fora. Apenas partidos políticos, sindicatos e instituições educacionais e de assistência social serão alvo do que determina a Carta Magna.
                Não é a primeira vez que deputados tentam colocar as seitas e igrejas acima da constituição. O que acontece agora é apenas a explicitação do fato. Falar de proteção absoluta é um escárnio, uma afronta. Nem o mais leigo, o mais inocente, o mais idiota dos cidadãos deixa de ver que o argumento do deputado carece de qualquer fundamento.
                Não há proteção absoluta para ninguém descumprir a constituição. Simples assim. Mas o projeto de Fruet já era.



 

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