sábado, 31 de agosto de 2013

Os últimos dias da última flor do Lácio



O cara é apresentador de um programa esportivo e babaca profissional. Sempre que o escuto tenho a impressão que o português é uma língua morta da qual extraímos uma ou outra locução para embelezar o estilo, para colorir um período. Uma espécie de latim de pé de serra. Mas ele, não confiando na erudição de seus ouvintes, tão logo pronuncia uma frase inteira no idioma de Machado e Rosa, logo a verte para o inglês. Claro que não é o inglês de Shekspeare nem mesmo o de Bukowski. É esse inglês do universo corporativo, dos palestrantes motivacionais, da tecnologia e dos livros de auto-ajuda. O inglês rastaqüera dos mudernos da classe média.
Esse novo idioma sequer tem a graça do inglês de cais do porto com o qual putas e malandros se viram para atrair os gringos desembarcados. Não tem a inventividade do embromation, nem a verve do Joel Santana. É o idioma dos colonizados natos, dos tronchos da palavra, dos analfabetos por opção e credo.
Se fosse apenas nosso babaca profissional que se comunicasse assim, não haveria problema, era só mudar de canal. Mas não. De nada adianta. Esse novo idioma está em toda parte. Na TV por assinatura até o nome dos programas são em inglês e não me refiro aos enlatados americanos somente. Não, já há programas brasileiros com o título em inglês. Tem um de culinária cuja chamada nos convida a fazer sobremesas fáceis e rápidas e no seu título consegui compreender a palavra inglesa que significa sobremesa. Digo que consegui compreender porque os locutores se esmeram tanto em pronunciar do jeito que lhes parece ser o sotaque americano, que mesmo lendo a legenda (em inglês, é claro) fica difícil fazer a correspondência do que vai escrito com o que é falado.
Faz alguns anos, Aldo Rebelo, antes de se tornar ministro e defensor dos elefantes brancos amazônicos, propôs uma lei para normatizar o uso do idioma na comunicação social. A idéia amparava-se na Lei de defesa do consumidor visto que está ficando impossível saber dos benefícios e utilidade de vários produtos anunciados. Qualquer par de tênis, automóvel ou telefone celular, tem seu mote propagandístico dito e escrito em inglês. Nos anúncios de imóveis já não encontramos o quarto, sala cozinha e banheiro que buscávamos nos classificados do Jornal do Brasil. 
Por aquela época, Rebelo foi convidado de vários programas de TV para falar de seu projeto de lei, mas ninguém o levou a sério. Virou chacota e não mais se ouviu falar da iniciativa.
Ao lado dos gênios da propaganda, as emissoras de TV e seus apresentadores, tal qual nosso babaca profissional, são os maiores difusores e entusiastas do hibridismo lingüístico que assola o país. Para eles é sinal de prestígio falar assim, denota conhecimento da gringa, mostra que o sujeito é viajado, ou seja, que foi a Disneylandia fazer turismo cultural.







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