segunda-feira, 16 de março de 2015

Manifestações



Cada dia fica menos evidente o que realmente motiva as manifestações contra o PT e o governo da Presidenta Dilma. O mote da corrupção é o disfarce ideal. No entanto, entre os cartazes genéricos “fora Dilma” e “fora corrupção” estavam as faixas que mais exprimiam o sentimento dos que se manifestaram na Paulista e na orla carioca.
Uma senhora foi fotografada levando seu cartazinho anti-coministinha que exigia o fim da doutrina marxista nas escolas. Outro cartaz dizia não a Paulo Freire e sua doutrina educacional esquerdista.
Claro que para praticar esse anti-comunismo jurássico não é necessário um discurso coerente nem que faça jus à realidade.Basta escrever um cartaz, fazer cara de indignado e fingir que entende o que está acontecendo. 
Em mãos de outros manifestantes alguns cartazes nos remetiam aos anos 50 e 60. Neles se lia “o Brasil não será uma nova Cuba”. Não importa que o ministro da economia seja um banqueiro do Bradesco ou que a ministra da agricultura seja uma latifundiária que defende escravocratas. Para os manifestantes do dia 15 o perigo marxista ronda nosso país. Havia até um cartaz que dizia “pelo fim da democracia, intervenção militar já”. Se é apenas ignorância ou parte de um plano de desestabilização de origem externa eu não sei. O fato é que as emissoras (Globo e Bandeirantes) que cobriram o evento com dezenas de repórteres e comentarista, nada disseram sobre as aberrações que se viam nesses cartazes. Na tela da TV só aparecia o que poderia fazer algum sentido. Poderia.
Poderia, mas não faz. Uma manifestação organizada contra a corrupção deveria estar repleta de cartazes exigindo investigação e punição para os corruptos. Deveria atacar o foco da corrupção que é o financiamento privado das campanhas eleitorais. Deveria receber com pedradas gente como José Agripino e Aloysio Nunes (ambos investigados por corrupção). Deveria mostrar indignação com a farsa montada na CPI da Petrobrás. Mas não, os manifestantes preferiram pedir o fim do socialismo no país, o fim do comunismo ensinado nas escolas.
O que essa gente chama de comunismo é a comida na boca do povo que recebe bolsa-família. É o pobre freqüentando faculdade. É a empregada doméstica que tem direitos trabalhistas. O que indigna esses manifestantes não é a corrupção, é o pobre.

Nas redes sociais, o melhor termômetro quando de sentimentos e posturas sociais se trata, podemos ver claramente que quem apoiou e participou da manifestação do dia 15 são os mesmos que meses atrás criticaram o programa “Mais Médicos”. São os mesmo que viam (e vêem) no Bolsa Família um absurdo. São os mesmos que odeiam as cotas nas universidades e que acham que as praias deveriam cobrar ingressos. Ou seja: as elites e os inocentes úteis da classe média que tem pesadelos com empregadas domésticas invadindo o elevador “social”.

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