Imagino que antes mesmo de preencher sua ficha de filiação o
Cabo Daciolo já tentava converter militantes, funcionários e outros membros do
Psol à sua crença religiosa, pois se há uma coisa que não se pode dizer dos
religiosos é que eles escondem suas crenças. Pelo contrário. Quanto mais
fanático o crente, mais alarde faz das coisas em que crê.
O Psol ignorou o óbvio, aceitou sua filiação e deu-lhe
legenda para concorrer à Câmara Federal. Não creio que o tenha feito por ser
Daciolo um puxador de votos. Não me parece que essa seja uma prática do
partido. Tampouco Daciolo, um iniciante na política, poderia trazer qualquer
garantia de grande votação. Houve, isto
sim, por parte do Psol uma supervalorização do movimento dos bombeiros e de
suas lideranças.
Daciolo se elegeu, penso, não só pela sua liderança entre os
bombeiros ou sua penetração no meio evangélico, mas também puxado pela
candidatura de Luciana Genro à presidência e Tarcísio Mota ao governo do Estado
do Rio. Não tenho dúvida que Luciana e Tarcisio preencheram o nicho da rebeldia
tão caro para uma importante parcela do povo fluminense e que estava vago desde
que o PT se aliou ao que há de mais fisiológico e oportunista da política do
Rio e Gabeira virou esse tiozão mala da TV dos Marinho. Daciolo, que se
rebelara contra a política de arrocho salarial posta em prática pelo governador
Sérgio Cabral Filho, foi a reboque das candidaturas da esquerda rebelde.
Pouco mais de dois meses depois de sua posse Daciolo
apresentou seu primeiro projeto de lei. Trata-se de uma PEC e propõe alterar o
artigo primeiro, parágrafo único da Constituição Federal. Onde se lê que todo
poder emana do povo, Daciolo quer que a Carta Magna reze que “todo poder emana
de Deus que o exerce de forma direta e por meio do povo e de seus representantes”.
A proposta não é apenas ridícula, é obra do fanatismo
religioso que domina nosso parlamento e grande parte da sociedade brasileira.
A direção do Psol disse em nota que após reunião o deputado
foi convencido a retirar a proposta que vai contra o princípio do estado laico.
Mas e agora? O que fazer com esse deputado que é capaz de
apresentar tal proposta? Esperar que ele diga que homossexualidade é abominação
como afirmam seus irmãos de fé? Que ele proponha a leitura da bíblia nas
escolas e o ensino do criacionismo? Esperar que ele faça do partido motivo de
chacota?
O Psol errou ao aceitar a filiação do Cabo Daciolo, errou ao
dar-lhe legenda para disputar as eleições, mas agora, depois do absurdo projeto
de emenda constitucional que vai contra princípios defendidos pelo partido, não
pode seguir errando. Está claro que as propostas do Psol e o Cabo Dalciolo são
incompatíveis. Um partido que se quer socialista e libertário não pode abrigar
em suas fileiras um fundamentalista obscurantista e fanático como Daciolo. Cada
um no seu quadrado.
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