domingo, 24 de junho de 2012

Espanto e decepção







Nunca perdi a capacidade de espantar-me. Uma bola na trave já é suficiente. Além do mais, vivemos uma época de grandes assombros. Uma mulher esquarteja seu marido milionário e infiel. Um senador da república aceita o cargo de contínuo de um bicheiro. Collor é membro do Conselho de ética e Marcelo Tass é considerado humorista. Mas tem coisas que, cá entre nós, há muito perderam sua potência de causar espanto ou mesmo surpresa. Refiro-me à união de Lula e Maluf em torno da candidatura Haddad em São Paulo.
Não acabo de compreender o motivo do escarcéu em torno do tema. O PP de Maluf já faz parte da base aliada do governo há muitos anos, desde o primeiro mandato de Lula. O aperto de mãos, que vimos nas capas dos jornais e no horário nobre da TV, nada mais foi que uma formalidade, ou melhor, uma banalidade.
O espanto que isso poderia ter causado, ficou no passado quando, no início de seu governo, Lula começou o namoro com Maluf. Cortejou-o. Ofereceu-lhe ministérios e imunidades. A CPI que então investigava a remessa ilegal de divisas para o exterior e que foi relatada pelo Deputado José Mentor do PT, sequer trazia, em seu relatório final e conclusivo, o nome de Maluf. Isso sim era para causar espanto. Mas na época, os governistas, estribados nos milhões de votos obtidos pelo presidente, passavam o rolo compressor e aprovavam, diante de uma oposição boquiaberta, o que bem entendiam. Assim que o estranho relatório foi aprovado sem espantos nem contestações. Ademais, esse assunto não é do mais queridos de nossos representantes e o quanto mais rápido sai da pauta de discussão, melhor.
Os jornalões, através de seus paus mandados, qualificavam de “responsáveis” todos os atos do governo que naquele momento abria seu pacote de maldades. A assunção de Henrique Meireles à chefia do Banco Central, a reforma da previdência, o expurgo de lideranças comprometidas com o passado do PT, tudo parecia corroborar a nova imagem de Lula tecida por Duda Mendonça. A aliança do PT com o PP de Maluf era um detalhe.
Desde o começo do namoro, nenhuma voz petista se levantou contra o Doutor Maluf e seu passado nebuloso, como antes era praxe. Apenas a Polícia Federal o importunou mas politicamente seguiu sendo peça chave da governabilidade. Os deputados do PP, mais amestrados que os cachorrinhos do circo Tihany, garantiram, durante os oito anos do Governo Lula, votos essenciais para aprovação de matérias no congresso. Em troca, o PP e seu proprietário receberam ministério de porteira fechada e nenhuma aporrinhaçao.
A união civil entre os políticos do mesmo sexo para alavancar a candidatura do poste Haddad, nada mais é do que a formalização de um concubinato antigo e conhecido. Não há novidade nem motivo para susto.
Mas se não perco a oportunidade do assombro, tampouco deixo de decepcionar-me. A decepção é um sentimento que persegue os crédulos. Principalmente àqueles que crêem no homem e sua capacidade de regeneração. A cada tanto estou arrastando os chinelos da decepção.
O que não posso, e nem tento, é decepcionar-me com algo que já conheço. Não posso decepcionar-me com reprises. E esse é o caso da Rio + 20.
Nos últimos dias vejo na televisão, uma série de personagens que, caracúlicos, se mostram decepcionados com o documento final da reunião de cúpula que veio ao Rio discutir os destinos do planeta. Ora bolas, há vinte anos atrás o mesmo e decepcionante documento veio à luz após todo o blá-blá-blá de líderes mundiais e catastrofistas profissionais. Naquela época, talvez houvesse motivo para a decepção dos expectantes da salvação planetária. Mas lá se vão vinte anos e nem sequer as tímidas propostas ambientalistas daquele documento foram postas em prática. Claro que os agourentos prognósticos dos que defendiam medidas emergenciais para que a raça humana não sucumbisse, não se confirmaram. Nesse meio tempo a situação ambiental agravou-se e para combatê-la a sociedade civil, em parceria com o poder público, tomou importantes medidas como a proibição das sacolinhas plásticas dos supermercados. Foi só.



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