Nunca perdi a capacidade de
espantar-me. Uma bola na trave já é suficiente. Além do mais, vivemos uma época
de grandes assombros. Uma mulher esquarteja seu marido milionário e infiel. Um
senador da república aceita o cargo de contínuo de um bicheiro. Collor é membro
do Conselho de ética e Marcelo Tass é considerado humorista. Mas tem coisas
que, cá entre nós, há muito perderam sua potência de causar espanto ou mesmo
surpresa. Refiro-me à união de Lula e Maluf em torno da candidatura Haddad em São Paulo.
Não acabo de compreender o
motivo do escarcéu em torno do tema. O PP de Maluf já faz parte da base
aliada do governo há muitos anos, desde o primeiro mandato de Lula. O aperto de
mãos, que vimos nas capas dos jornais e no horário nobre da TV, nada mais foi
que uma formalidade, ou melhor, uma banalidade.
O espanto que isso poderia ter
causado, ficou no passado quando, no início de seu governo, Lula começou o
namoro com Maluf. Cortejou-o. Ofereceu-lhe ministérios e imunidades. A CPI que
então investigava a remessa ilegal de divisas para o exterior e que foi
relatada pelo Deputado José Mentor do PT, sequer trazia, em seu relatório final
e conclusivo, o nome de Maluf. Isso sim era para causar espanto. Mas na época,
os governistas, estribados nos milhões de votos obtidos pelo presidente,
passavam o rolo compressor e aprovavam, diante de uma oposição boquiaberta, o
que bem entendiam. Assim que o estranho relatório foi aprovado sem espantos nem
contestações. Ademais, esse assunto não é do mais queridos de nossos
representantes e o quanto mais rápido sai da pauta de discussão, melhor.
Os jornalões, através de seus
paus mandados, qualificavam de “responsáveis” todos os atos do governo que
naquele momento abria seu pacote de maldades. A assunção de Henrique Meireles à chefia do
Banco Central, a reforma da previdência, o expurgo de lideranças comprometidas
com o passado do PT, tudo parecia corroborar a nova imagem de Lula tecida por
Duda Mendonça. A aliança do PT com o PP de Maluf era um detalhe.
Desde o começo do namoro, nenhuma
voz petista se levantou contra o Doutor Maluf e seu passado nebuloso, como antes
era praxe. Apenas a Polícia Federal o importunou mas politicamente seguiu sendo
peça chave da governabilidade. Os deputados do PP, mais amestrados que os
cachorrinhos do circo Tihany, garantiram, durante os oito anos do Governo Lula,
votos essenciais para aprovação de matérias no congresso. Em troca, o PP e seu
proprietário receberam ministério de porteira fechada e nenhuma aporrinhaçao.
A união civil entre os políticos
do mesmo sexo para alavancar a candidatura do poste Haddad, nada mais é do que
a formalização de um concubinato antigo e conhecido. Não há novidade nem motivo
para susto.
Mas se não perco a oportunidade
do assombro, tampouco deixo de decepcionar-me. A decepção é um sentimento que
persegue os crédulos. Principalmente àqueles que crêem no homem e sua
capacidade de regeneração. A cada tanto estou arrastando os chinelos da
decepção.
O que não posso, e nem tento, é
decepcionar-me com algo que já conheço. Não posso decepcionar-me com reprises.
E esse é o caso da Rio + 20.
Nos últimos dias vejo na
televisão, uma série de personagens que, caracúlicos, se mostram decepcionados
com o documento final da reunião de cúpula que veio ao Rio discutir os destinos
do planeta. Ora bolas, há vinte anos atrás o mesmo e decepcionante documento
veio à luz após todo o blá-blá-blá de líderes mundiais e catastrofistas
profissionais. Naquela época, talvez houvesse motivo para a decepção dos
expectantes da salvação planetária. Mas lá se vão vinte anos e nem sequer as
tímidas propostas ambientalistas daquele documento foram postas em prática. Claro que
os agourentos prognósticos dos que defendiam medidas emergenciais para que a
raça humana não sucumbisse, não se confirmaram. Nesse meio tempo a situação
ambiental agravou-se e para combatê-la a sociedade civil, em parceria com o
poder público, tomou importantes medidas como a proibição das sacolinhas plásticas
dos supermercados. Foi só.
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