Faz cinqüenta anos que o Brasil
conquistou, no Chile, o bicampeonato mundial de futebol. A data redonda e quase
na véspera do país realizar uma copa do mundo merecia uma grande comemoração
com foguetório, banda de música e coro infantil. Não houve.
A entidade máxima
do futebol brasileiro anda atarefada com construções de estádios e tantos são
os zeros envolvidos nos negócios que não sobra tempo para nada. Nossas TVs estão
muito envolvidas com a Eurocopa para se ocupar do assunto. Uma entrevista aqui,
uma fotografia ali e já está de bom tamanho. Para que relembrar Pelé,
Garrincha, Didi, Nilton Santos, Amarildo e Zito se podem falar de Polsen, Van
Der Var, Busquets?
No domingo, eu queria escrever
sobre a conquista histórica mas meu neto passou todo o dia no computador com
seus joguinhos. Deixei para a segunda-feira, mas nesse dia, logo pela manhã,
escutei num programa esportivo, que se dignou a lembrar da data, uma crônica
que Nelson Rodrigues escreveu sobre nossa vitória em gramados chilenos.
Embora já tenha passado da idade
de me acanhar, me acanhei. Nelson já dissera tudo sobre aquela copa, e de
maneira tão brilhante, que uma vírgula mais sobre o tema correria o risco do
ridículo, do postiço. Eu, que já lera a crônica em outros tempos, fui novamente
tocado pela beleza, pela eloqüência, pela ênfase que Nelson Rodrigues pôs na
descrição daquela epopéia.
De tudo que lá está, e coube num
curto artigo de jornal, ficou-me uma frase, ou melhor uma concepção que tem
tudo de Nelson Rodrigues. Dizia ele que aquele bicampeonato era uma conquista
do homem brasileiro.
Os idiotas da objetividade que
se mudaram pro facebook e os que continuam infestando as redações, adoram
relacionar o futebol com o que eles chamam de apatia do brasileiro com relação
às mazelas do país. Nada mais falso, nada mais falacioso. Os ruins da cabeça e
doentes do pé também gostam de pichar o carnaval. Pelo mesmo e falso motivo.
Com o avanço dos meios de
comunicação e a facilidade para se escrever besteira para muitos, (olha eu
aqui) esses chatos de galocha vão se transformando em idiotas da subjetividade.
Não por apregoá-la , mas por desconhecê-la. Jamais entenderão nossas Joanas D’Arc dos
subúrbios, nossos reis bêbados de sarjeta, nossos Napoleões retintos. Mas com
suas crônicas, Nelson Rodrigues os pôs no mundo, no imaginário brasileiro.
Cronista da vida como ela é, Nelson Rodrigues viu em nós o analfabetismo genial, viu em cada jogador de futebol, em cada passista, em cada costureira, a imagem vitoriosa do sobrevivente. Considerado reacionário, revolucionou o teatro. Conservador, foi a vítima favorita da censura. Sua visão de mundo horrorizava a esquerda, suas peças escandalizaram a burguesia.
Cronista da vida como ela é, Nelson Rodrigues viu em nós o analfabetismo genial, viu em cada jogador de futebol, em cada passista, em cada costureira, a imagem vitoriosa do sobrevivente. Considerado reacionário, revolucionou o teatro. Conservador, foi a vítima favorita da censura. Sua visão de mundo horrorizava a esquerda, suas peças escandalizaram a burguesia.
Nesse ano que comemoramos o cinqüentenário
do bicampeonato do Chile também festejamos o centenário de Nelson Rodrigues e
coube à Escola de samba Viradouro inaugurar as homenagens com seu samba de
enredo. Durante todo o ano, peças do autor serão encenadas. São dezessete obras
nesse gênero. Não soube nada sobre relançamento de sua obra em livro mas deve
ser falta de informação de minha parte.
Espero que a televisão dê ao
centenário de Nelson Rodrigues um pouco mais de atenção do que a que foi
dispensada ao cinqüentenário do bicampeonato. A Globo já produziu uma ótima “Engraçadinha”
e “A vida como ela é” teve um tratamento muito adequado com grandes atores e
diretores. É hora de reprisá-las.
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