Cada dia fica menos evidente o que realmente motiva as
manifestações contra o PT e o governo da Presidenta Dilma. O mote da corrupção
é o disfarce ideal. No entanto, entre os cartazes genéricos “fora Dilma” e “fora
corrupção” estavam as faixas que mais exprimiam o sentimento dos que se
manifestaram na Paulista e na orla carioca.
Uma senhora foi fotografada levando seu cartazinho anti-coministinha
que exigia o fim da doutrina marxista nas escolas. Outro cartaz dizia não a
Paulo Freire e sua doutrina educacional esquerdista.
Claro que para praticar esse anti-comunismo jurássico não é
necessário um discurso coerente nem que faça jus à realidade.Basta escrever um cartaz, fazer cara de indignado e fingir que entende o que está acontecendo.
Em mãos de outros manifestantes alguns cartazes nos remetiam
aos anos 50 e 60. Neles se lia “o Brasil não será uma nova Cuba”. Não importa
que o ministro da economia seja um banqueiro do Bradesco ou que a ministra da agricultura
seja uma latifundiária que defende escravocratas. Para os manifestantes do dia
15 o perigo marxista ronda nosso país. Havia até um cartaz que dizia “pelo fim
da democracia, intervenção militar já”. Se é apenas ignorância ou parte de um
plano de desestabilização de origem externa eu não sei. O fato é que as emissoras
(Globo e Bandeirantes) que cobriram o evento com dezenas de repórteres e
comentarista, nada disseram sobre as aberrações que se viam nesses cartazes. Na
tela da TV só aparecia o que poderia fazer algum sentido. Poderia.
Poderia, mas não faz. Uma manifestação organizada contra a
corrupção deveria estar repleta de cartazes exigindo investigação e punição
para os corruptos. Deveria atacar o foco da corrupção que é o financiamento
privado das campanhas eleitorais. Deveria receber com pedradas gente como José
Agripino e Aloysio Nunes (ambos investigados por corrupção). Deveria mostrar indignação com a farsa montada na CPI da Petrobrás. Mas não, os
manifestantes preferiram pedir o fim do socialismo no país, o fim do comunismo
ensinado nas escolas.
O que essa gente chama de comunismo é a comida na boca do
povo que recebe bolsa-família. É o pobre freqüentando faculdade. É a empregada
doméstica que tem direitos trabalhistas. O que indigna esses manifestantes não
é a corrupção, é o pobre.
Nas redes sociais, o melhor termômetro quando
de sentimentos e posturas sociais se trata, podemos ver claramente que quem
apoiou e participou da manifestação do dia 15 são os mesmos que meses atrás
criticaram o programa “Mais Médicos”. São os mesmo que viam (e vêem) no Bolsa Família
um absurdo. São os mesmos que odeiam as cotas nas universidades e que acham que
as praias deveriam cobrar ingressos. Ou seja: as elites e os inocentes úteis da
classe média que tem pesadelos com empregadas domésticas invadindo o elevador “social”.
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