terça-feira, 24 de março de 2015

Manifestações: epílogo



Muita gente anda preocupada com o ódio político que se alastra pelo país. O que acontecia apenas nas redes sociais e nas caixas de comentários do sítios informativos da Internet foi para as ruas, para o corpo a corpo.
O ódio e a irracionalidade que já separaram amigos, parentes e casais pelo facebook e pelo twiter tende a separar o país em duas metades sem que ninguém possa ao menos alegar que não está em nenhuma das metades. Parece que só existem dois grupos: os petralhas, bolivarianos, comunistas e os coxinhas, fascistas, leitores da Veja. (Assim nomeados por seus contrários)
A polarização inventada por marqueteiros e pelos interesses escusos tem levado pessoas aos extremos da insensatez. Petistas negacionistas do mensalão e analfabetos políticos que se manifestam nas ruas junto a golpistas e psicopatas, tomaram para si o protagonismo político.
O ódio que os petistas vêem dirigidos ao seu partido na verdade é o ódio da classe dominante e seus acólitos da classe média pelos pobres, negros, índios e favelados. Esse ódio sempre se manifestou na escola pública de má qualidade, no salário de fome, no latifúndio, na “entrada de serviço” para uns e no elevador “social” para outros. Esse ódio sempre esteve presente nos comerciais de TV, nas novelas, nas universidades de uso exclusivo, nos saguões dos aeroportos, no foyer do teatro. Com o advento da Internet e das redes sociais ele virou verbo, com as manifestações orquestradas pelos meios de comunicação e difundidas pelas redes sociais virou ação.
Se muito desse ódio é dirigido ao PT, isso se deve ao fato do partido ter tido a ousadia de eleger um presidente nordestino, ex-operário e sem diploma universitário e seu governo ter implantado algumas políticas sociais que em nada diferem das adotadas por países europeus. Talvez as cotas nas universidades para negros, indígenas e alunos oriundos da escola pública tenha sido a gota d’água e os escândalos de corrupção o pretexto ideal para que milhares fossem às ruas pedir impeachment e golpe militar.
Mas não é tanto o ódio que me deixa perplexo e sim a boçalidade que parece ter tomado conta do país.
Dois fatos são exemplares. O primeiro deu-se na manifestação do dia 15. Entre as muitas faixas e cartazes com dizeres dos mais grotescos, uma grande faixa se destacou. Nela se lia: “Chega de doutrinação marxista, basta de Paulo Freire.” É quase incrível que um dos maiores educadores do mundo seja tratado dessa maneira em seu país. A ditadura já o havia proibido e exilado, agora sua memória é vilipendiada pela boçalidade reinante. Quem poderia ser contra Paulo Freire? Ora, os mesmos que não querem ver negros freqüentando faculdades. Os mesmos que se calam (quando não aplaudem) diante da chacina da juventude negra e favelada. Os que querem a redução da maioridade penal e a pena de morte. Os fãs do Bolsonaro e do coronel Telhada.
O outro exemplo da estupidez sem limites vem, é claro, do facebook. Uma postagem que vi há pouco, trazia as fotos de Lobão e Chico Buarque. Uma frase as encimava: “Mais vale um Lobão com a bandeira do Brasil protestando na Paulista que um Chico Buarque sentado em Paris com dinheiro da lei Rouanet elogiando o governo”.

Comparar Chico Buarque e Lobão em qualquer área já é ridículo por si só, mas quem propagandeou isso desconhece o que é credibilidade, ignora fatos, contextos e bom senso. É simplesmente burro ou age de má fé. Como não sou de duvidar da boa fé de ninguém fico com a hipótese da burrice crônica e da boçalidade patológica. 

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